Causador da doença de Xuxa, uso de salto alto exige atenção
Calçado altera o centro de equilíbrio do corpo e sobrecarrega pés, joelhos e coluna. Mas há saída para evitar problemas sem abandonar o sapato
Vivian Carrer Elias
Salto alto: Doença causada pelo uso prolongado do calçado afastou Xuxa da televisão
(Thinkstock)
O caso de Xuxa chama a atenção para um fato muitas vezes ignorado pelas mulheres: os prejuízos do salto alto à saúde. Os potenciais danos vão dos pés à coluna, passando pela panturrilha e joelhos. Optar por modelos mais confortáveis e manter um bom alongamento são formas de evitar ou atenuar problemas sem abdicar do salto alto.
Um dos motivos pelos quais esse calçado ameaça a saúde é o fato de ele mudar o centro de gravidade do corpo. O peso de uma pessoa se concentra na parte de trás do pé. Com o salto alto, essa carga é transferida para a frente. Quanto maior a inclinação do pé sobre o sapato, maior o dano. Como forma de compensar esse desequilíbrio, joelhos e colunas ficam sobrecarregados, havendo um risco de desgaste da cartilagem nessas regiões.
Doença de Xuxa – A sobrecarga causada pelo salto alto pode desencadear sesamoidite, a doença de Xuxa, que é uma inflamação nos sesamoides, dois ossos localizados na sola de cada pé, próximos ao dedão. "Esses ossos, com cerca de 1 centímetro de diâmetro cada um, acabam tendo de trabalhar sob uma pressão muito maior do que aguentam", diz Marcos Sakaki, ortopedista especialista em pés do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP.
Os sintomas da sesamoidite incluem dores na sola e na dianteira do pé, além de formação de calos e inchaço na área. Fases avançadas da doença podem levar à necrose do sesamoides – ou seja, o osso morre por falta de circulação sanguínea. De acordo com Sakaki, se não houve necrose, é possível reverter a doença. Os tratamentos iniciais consistem em abordagens que protegem o pé, diminuindo a pressão sobre eles. Isso pode ser feito com a suspensão do salto alto, o uso de botas ortopédicas que imobilizem os pés ou de tipos específicos de palmilha. Se os resultados não forem positivos, ou se houver necrose dos ossos, recomenda-se a cirurgia.
Outro problema provocado pelo uso de salto alto é o encurtamento da musculatura posterior das pernas. Uma pessoa com o problema pode sentir dores ao andar descalça ou usar um sapato baixo, já que o músculo da perna terá de esticar muito. "Isso gera um desequilíbrio e aumenta as chances de tendinite do tendão de Aquiles", diz o ortopedista Fabiano Nunes Filho, do Hospital Beneficência Portuguesa. Segundo o médico, fazer alongamentos pode aliviar a dor causada por esse encurtamento da musculatura e evitar lesões. O ortopedista lembra que sapatos de salto alto e modelo bico fino elevam o risco de joanetes e deformidade dos dedos.
Cautela — Nem todas as mulheres que usam sapatos de salto alto terão sesamoidite ou outro problema relacionado ao calçado, mas tomar providências para evitar essas complicações é recomendado para todas. A forma mais eficaz de prevenir dores e lesões causadas pelo salto alto é, obviamente, deixar de usá-los. Outra maneira é usar saltos de até 3 centímetros, evitar saltos muito finos e optar por modelos em que o pé não fique tão inclinado, como plataformas e anabela.
"Um ortopedista nunca inventaria o salto alto", diz Sakaki. "Mas as mulheres podem usá-lo desde que estejam atentas ao seu corpo. Se sentir dores, é hora de deixá-los de lado." Segundo Nunes Filho, mulheres que precisam trabalhar de salto alto podem minimizar os prejuízos alongando a perna e ficando descalças sempre que possível, como quando estão sentadas.
Problemas causados por diferentes tipos de salto alto
1 de 6
Salto agulha
A área de apoio dos calcanhares é muito
pequena, o que provoca desequilíbrio e pode levar à torção dos pés e
queda. Além disso, o peso do corpo, que deveria se concentrar na
traseira dos pés, é transferida para a frente, elevando o risco de
sesamoidite e de lesões nos joelhos e na coluna. As chances desses
problemas são mais elevadas quanto maior for o salto. Além disso, saltos
muito altos podem levar ao encurtamento da musculatura posterior das
pernas e problemas como tendinite no tendão de Aquiles.
Salto alto e bico fino
Esse modelo, além de apresentar todos os
riscos de um salto alto – como lesão nos pés, joelhos e coluna —,
também pode provocar outros problemas relacionados ao bico fino. Com os
pés pressionados pelo calçado, uma pessoa pode ter joanetes e
deformações nos dedos, que entortam.
Plataforma
O salto está presente em todo o solado
deste sapato, de modo que a inclinação dos pés não é tão grande — e a
sobrecarga na parte da frente do pé, pequena. Por esse motivo, esse tipo
de salto apresenta um menor risco de lesões como a sesamoidite, de
dores e problemas nos joelhos e coluna, além de tendinite no tendão de
Aquiles. O salto plataforma também é mais estável do que um salto fino.
Ele dá mais estabilidade e diminui - mas não elimina - as chances de
torção ou de queda.
Anabela
Assim como a plataforma, esse tipo de
sapato também dá mais estabilidade porque a área de apoio é maior, o que
reduz o risco de torção ou de quedas. No entanto, a frente da planta do
pé fica mais perto do chão, o que aumenta a sobrecarga nessa região e
eleva o risco de lesões como sesamoidite e problemas no joelho e na
coluna.
Salto quadrado
Embora o salto não esteja presente em
todo o solado, ele dá certa estabilidade, pois a área de apoio dos
calcanhares é maior do que a de um salto fino. Isso diminui o risco de
desequilíbrio, torção dos pés e queda. A intensidade da sobrecarga do
peso do corpo sobre a parte da frente dos pés, joelhos e coluna
dependerá da altura do salto: quanto maior, mais intenso o dano.
Sapatos sem salto
Sapatos completamente planos — as
chamadas rasteirinhas — e sem nenhum tipo de amortecimento também podem
ser prejudiciais em alguns casos. Algumas pessoas apresentam um
encurtamento da musculatura anterior das pernas, principalmente mulheres
que usaram muito salto alto ou que cresceram rápido, fazendo com que o
músculo não acompanhasse o crescimento dos ossos. Nesses casos, andar
descalço ou usar sapatos sem salto faz com que a musculatura da perna
estique muito, causando dores e aumentando o risco de problemas como
tendinite no tendão de Aquiles. Por isso, recomenda-se que essas pessoas
usem saltos pequenos, de preferência até 3 centímetros de altura, que
também podem ajudar a atenuar dores de mulheres que sofrem com varizes,
segundo Pedro Pablo Komlós, presidente da Sociedade Brasileira de
Angiologia e de Cirurgia Vascular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário