Dez passos para parar de fumar
Abandonar o tabagismo é uma tarefa possível com as estratégias certas
Vivian Carrer Elias e Mariana Janjacomo
Quanto mais cedo o vício for deixado, melhor é para a saúde
(Thinkstock)
O que faz da nicotina uma substância tão poderosa é sua capacidade de ativar regiões do cérebro ligadas ao prazer. O composto consegue se ligar a doze receptores cerebrais - a maioria deles em uma área chamada tegmental ventral, responsável por fornecer a sensação de prazer. Quando uma pessoa fuma, o circuito cerebral dessa região é acionado, provocando uma sensação de bem-estar.
Essa área do cérebro também pode ser ativada quando comemos um alimento apetitoso ou vivenciamos um momento alegre. Fumantes, porém, dependem da nicotina para acionar a região. "O tabagista vira refém do prazer de fumar, pois ele identifica o ato como o que há de mais prazeroso na vida", explica Jaqueline Issa, cardiologista diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração da USP (Incor). "Mesmo assim, até pessoas altamente dependentes podem deixar de fumar", diz José Roberto Jardim, coordenador do Núcleo de Prevenção e Cessação do Tabagismo da Unifesp.
A lista dos benefícios do abandono do cigarro é longa. De acordo com Jaqueline Issa, 20 minutos longe do cigarro são suficientes para diminuir a pressão arterial, que é elevada pela nicotina e, ao longo dos meses seguintes, o ex-fumante já apresenta melhoras na função respiratória. Dois anos após o fim do tabagismo, o risco de complicações cardiovasculares cai pela metade; em dez anos, há uma redução expressiva nas chances de câncer; e, em vinte anos, é possível dizer que o indivíduo não tem e nem terá problemas associados ao cigarro. É claro que esses dados fazem parte de uma média estipulada por estudos populacionais – e, portanto, podem variar de acordo com cada pessoa.
Maneiras de parar de fumar
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Desassociar o cigarro do prazer
O fumante associa o cigarro a momentos de prazer, como a pausa no
trabalho e a cerveja no bar com os amigos. Para quebrar esse padrão, a
hora de fumar deve deixar de ser agradável. "A pessoa deve passar a
fumar sozinha e, se possível, de maneira desconfortável, como em pé na
área de serviço", sugere Jaqueline Issa, cardiologista diretora do
Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração da USP
(Incor). "Só assim ela vai realmente entender que é dependente, porque
vai perceber que teve de levantar do sofá, onde estava sentada
confortavelmente, para ir à área de serviço fumar."
Parar gradualmente (grau de dependência alto)
A nicotina estimula a produção de dopamina, um neurotransmissor
associado à sensação de prazer. Por isso, um dos sintomas da abstinência
é o mau humor. Diminuir gradativamente o fumo ajuda a minimizar o
sofrimento. "A pessoa deve se planejar para abandonar o vício
completamente em quatro semanas", diz Jaqueline Issa. A recomendação é
reduzir o número de cigarros em 25 a 30% a cada sete dias. Se a pessoa
está acostumada a fumar vinte cigarros por dia, deve diminuir para
quinze na primeira semana, dez na segunda e cinco na terceira, até parar
na quarta.
Parar de uma só vez (graus de dependência leve e moderado)
A interrupção abrupta é a mais utilizada por quem decide abandonar o vício por conta própria, sem acompanhamento médico. "A pessoa geralmente para de uma vez ao descobrir ter uma doença ou, se for mulher, estar grávida", diz Jaqueline Issa. Nesse método, a manifestação dos sintomas de abstinência costuma ser maior do que em quem larga o cigarro gradualmente. Por isso, as chances de sucesso da parada abrupta são maiores nos fumantes com nível de dependência leve ou moderadoDistrair-se
A abstinência do cigarro se manifesta por meio do que os médicos chamam
de fissura, episódios que duram de dois a três minutos em que parece
ser impossível continuar sem fumar. "Nesse momento, é preciso se
distrair: tomar água, chupar uma bala (manter a boca ocupada ajuda), dar
uma volta e pensar que essa fissura só dura minutos", afirma Jaqueline
Issa.
Evitar álcool e cafeína
Ingerir álcool desencadeia uma série de processos químicos que aumentam
a vontade de fumar. "Se a pessoa sente desejo de fumar ao ver outros
fumantes, é melhor evitar o álcool e as áreas abertas de bares e
restaurantes, onde o cigarro é permitido”, diz Jaqueline Issa. O mesmo
acontece com o café: durante o tratamento, é recomendável trocar a
bebida pura pela versão com leite, e diminuir a quantidade. "Eu costumo
sugerir, no máximo, quatro xícaras de café com leite por dia", diz
Jaqueline.
Exercitar-se
A prática de atividade física, além de liberar os mesmos
neurotransmissores associados à sensação de bem-estar que a nicotina, é
associada a um estilo de vida saudável. "Nos momentos em que uma pessoa
tem vontade de fumar, ela pode fazer uma caminhada, por exemplo, que vai
se sentir melhor sem o cigarro. Claro que não é viável se exercitar o
dia inteiro, mas manter uma frequência diária já ajuda", diz José
Roberto Jardim, coordenador do Núcleo de Prevenção e Cessação do
Tabagismo da Unifesp.
Listar os motivos que justificam a decisão
"Mais do que querer e ter força de vontade, encontrar uma razão para
deixar de fumar é essencial", diz José Roberto Jardim. Essas razões
podem incluir, por exemplo, evitar uma doença grave, poupar dinheiro ou
dar exemplo para o filho. Listar os motivos mais significativos ajuda
nos momentos em que resistir ao cigarro parece impossível. "A pessoa
pode escrever essa lista, guardar em algum lugar e consultar quando
quiser se lembrar do motivo de ter tomado aquela decisão", diz Jaqueline
Issa.
Contar com o apoio dos familiares e amigos
Anunciar a decisão de parar de fumar para as pessoas próximas costuma
ajudar. Primeiro, porque reforça o compromisso consigo próprio. Segundo,
pelas palavras de incentivo. "Mas as pessoas devem estar preparadas
para dar apoio. Se você sabe que elas vão desestimular a decisão, é
melhor não contar", diz Jaqueline Issa. "Familiares e amigos devem
entender que você estará passando por um momento difícil e que, por
isso, talvez fique mal humorado ou desanimado."
Fazer tratamento médico
"Tabagismo não é um hábito, é uma doença, e precisa ser tratado como
tal", diz a cardiologista Jaqueline Issa. Parar de fumar por conta
própria pode ser difícil por causa dos sintomas ligados à abstinência da
nicotina. O tratamento feito com medicamentos que atuam nos receptores
de nicotina ou nos neurotransmissores estimulados pela substância, como a
dopamina, ajuda a atenuar os sintomas. "Primeiro, tentamos o tratamento
usando apenas um tipo de remédio. Se após duas ou três semanas a pessoa
não melhorar e os sintomas persistirem, podemos combinar duas drogas, o
que geralmente garante bons resultados”, diz Jaqueline.
Usar adesivos ou mascar gomas de nicotina
Ao contrário dos tratamentos com remédios que atuam no cérebro, para
fazer uso de adesivos ou gomas com nicotina não é necessário
acompanhamento médico – basta seguir as instruções da bula. Esse tipo de
produto oferece ao usuário uma pequena dose de nicotina, que ajuda a
impedir as crises de abstinência. Os adesivos e gomas de nicotina só são
recomendados para aqueles que fumam menos de vinte cigarros por dia:
caso contrário, seria preciso usar uma quantidade muito grande do
produto para surtir efeito, além do gasto financeiro também ser alto.
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