7.14.2015

Apêndicite pode ser tratada sem bisturi

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Thinkstock 
Uma das cirurgias mais realizadas no mundo e também no 
Brasil foi colocada em xeque: a apendicectomia. 
Num estudo publicado em 16 de junho no JAMA,
 Jornal da Associação Médica Americana, 73% dos pacientes
 responderam tão bem ao tratamento com antibióticos que não 
precisaram “entrar no bisturi”. Os demais (27%) tiveram que 
ser operados no decorrer de um ano. Nenhum teve complicação
 por atraso na realização do procedimento. Este achado contraria
 a tradição: há mais de cem anos a conduta médica para a 
inflamação do apêndice é a cirurgia e em caráter de urgência.
Semelhante a uma estreita bolsa, de cerca de 8 cm de extensão,
 presa ao intestino grosso, o apêndice produz células que atuam
 na defesa do organismo. Quando se inflama e sofre infecção,
 o maior perigo é estourar e as bactérias contaminarem o abdômen
, o que pode evoluir para infecção generalizada e levar à morte,
 caso atinjam o coração ou o pulmão.  Daí a justificativa para 
operar sem demora. Nos Estados Unidos são feitas mais de 300 mil apendicectomias por ano. No Brasil, esse número pode passar 
de 400 mil. “Agora sabemos que apenas uma pequena 
porcentagem de pacientes com apendicite necessita de 
cirurgia de emergência”, disse a líder do estudo Paulina Salminen, 
do Hospital Universitário Turku, na Finlândia. 
“A maioria apresenta uma forma branda da doença, que retrocede com antibióticos”.  
Tratamento conservador
Pesquisas anteriores conduzidas na Suécia e na Inglaterra já
 haviam sugerido que antibióticos podem curar apendicite e a 
remoção cirúrgica ficar restrita aos casos de maior gravidade. 
Mas dessa vez os dados foram mais consistentes. A equipe de
 Salminem acompanhou 530 pacientes de 18 a 60 anos de idade
 com apendicite aguda. Metade foi submetida à apendicectomia 
tradicional (em que se faz um corte no abdômen) e a outra metade à administração de antibióticos potentes durante 10 dias: três dias
 de ertapenem por via intravenosa no hospital mais uma semana de comprimidos de levofloxacina e metronidazol em casa.  
Três a cada quatro dos tratados com antibióticos escaparam 
do bisturi.  Os que tiveram que ser operados depois não 
apresentaram mais complicações do que os submetidos
 à cirurgia imediata.
           
Possíveis candidatos
O tratamento com antibióticos pode ser cogitado quando 
a apendicite é descoberta na fase inicial”, informa o cirurgião
 Aníbal Bogossian, conselheiro da Sociedade de Medicina e 
Cirurgia do Rio de Janeiro. “Para isso, o órgão tem que estar 
apenas inflamado. Se já houver obstrução do intestino ou
 infecção com a presença de pus, a recomendação ainda é cirúrgica”.
 Segundo o médico, a grande maioria dos pacientes só recebe o
 diagnóstico nessa fase tardia ou quando já existe complicação
 como perfuração do apêndice, o que inviabiliza a abordagem 
conservadora.
 “As crianças, em geral, respondem bem aos antibióticos”. 
O médico explica, porém, que o tratamento deve ser feito 
em regime de internação para que o paciente possa ser 
monitorado e avaliado de 6 em 6 horas para identificar 
se está surtindo efeito e se há qualquer sinal de complicação.
 “A maioria das mortes por apendicite decorre de falhas no 
acompanhamento e demora no diagnóstico”, explica o cirurgião.
Atenção aos sinais
Embora a apendicite ataque em qualquer idade, até na velhice,
 os mais atingidos são crianças e jovens entre 10 e 20 anos 
de idade. O principal sintoma é dor que começa em volta
 do umbigo e se desloca para a direita, em direção ao pé 
da barriga. Quando o médico aperta o local, o paciente repuxa 
a perna direita. “A dor é persistente e não melhora com
 analgésicos normais”, explica Aníbal Bogossian. “Pode
 vir acompanhada de febre, náuseas, falta de apetite, diminuição
 na eliminação de gases e fezes e distensão abdominal”

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