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Uma das cirurgias mais realizadas no mundo e também no
Brasil foi colocada em xeque: a apendicectomia.
Num estudo publicado em 16 de junho no JAMA,
Jornal da Associação Médica Americana, 73% dos pacientes
responderam tão bem ao tratamento com antibióticos que não
precisaram “entrar no bisturi”. Os demais (27%) tiveram que
ser operados no decorrer de um ano. Nenhum teve complicação
por atraso na realização do procedimento. Este achado contraria
a tradição: há mais de cem anos a conduta médica para a
inflamação do apêndice é a cirurgia e em caráter de urgência.
Semelhante a uma estreita bolsa, de cerca de 8 cm de extensão,
presa ao intestino grosso, o apêndice produz células que atuam
na defesa do organismo. Quando se inflama e sofre infecção,
o maior perigo é estourar e as bactérias contaminarem o abdômen
, o que pode evoluir para infecção generalizada e levar à morte,
caso atinjam o coração ou o pulmão. Daí a justificativa para
operar sem demora. Nos Estados Unidos são feitas mais de 300 mil apendicectomias por ano. No Brasil, esse número pode passar
de 400 mil. “Agora sabemos que apenas uma pequena
porcentagem de pacientes com apendicite necessita de
cirurgia de emergência”, disse a líder do estudo Paulina Salminen,
do Hospital Universitário Turku, na Finlândia.
“A maioria apresenta uma forma branda da doença, que retrocede com antibióticos”.
Tratamento conservador
Pesquisas anteriores conduzidas na Suécia e na Inglaterra já
haviam sugerido que antibióticos podem curar apendicite e a
remoção cirúrgica ficar restrita aos casos de maior gravidade.
Mas dessa vez os dados foram mais consistentes. A equipe de
Salminem acompanhou 530 pacientes de 18 a 60 anos de idade
com apendicite aguda. Metade foi submetida à apendicectomia
tradicional (em que se faz um corte no abdômen) e a outra metade à administração de antibióticos potentes durante 10 dias: três dias
de ertapenem por via intravenosa no hospital mais uma semana de comprimidos de levofloxacina e metronidazol em casa.
Três a cada quatro dos tratados com antibióticos escaparam
do bisturi. Os que tiveram que ser operados depois não
apresentaram mais complicações do que os submetidos
à cirurgia imediata.
Possíveis candidatos
“O tratamento com antibióticos pode ser cogitado quando
a apendicite é descoberta na fase inicial”, informa o cirurgião
Aníbal Bogossian, conselheiro da Sociedade de Medicina e
Cirurgia do Rio de Janeiro. “Para isso, o órgão tem que estar
apenas inflamado. Se já houver obstrução do intestino ou
infecção com a presença de pus, a recomendação ainda é cirúrgica”.
Segundo o médico, a grande maioria dos pacientes só recebe o
diagnóstico nessa fase tardia ou quando já existe complicação
como perfuração do apêndice, o que inviabiliza a abordagem
conservadora.
“As crianças, em geral, respondem bem aos antibióticos”.
O médico explica, porém, que o tratamento deve ser feito
em regime de internação para que o paciente possa ser
monitorado e avaliado de 6 em 6 horas para identificar
se está surtindo efeito e se há qualquer sinal de complicação.
“A maioria das mortes por apendicite decorre de falhas no
acompanhamento e demora no diagnóstico”, explica o cirurgião.
Atenção aos sinais
Embora a apendicite ataque em qualquer idade, até na velhice,
os mais atingidos são crianças e jovens entre 10 e 20 anos
de idade. O principal sintoma é dor que começa em volta
do umbigo e se desloca para a direita, em direção ao pé
da barriga. Quando o médico aperta o local, o paciente repuxa
a perna direita. “A dor é persistente e não melhora com
analgésicos normais”, explica Aníbal Bogossian. “Pode
vir acompanhada de febre, náuseas, falta de apetite, diminuição
na eliminação de gases e fezes e distensão abdominal”
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