Há realidades difíceis de
suportar. Há situações tão dolorosas e tão irreais, embora cruelmente reais,
que certas pessoas preferem negá-las, como se com isso pudessem apagar sua
existência.
E para fugir desses punhais
que rasgam a alma com tanta violência é que muitos preferem se refugiar num
mundo invisível, sob uma redoma de proteção que as impedem de ver de perto e
enfrentar o que tanto faz mal.
Essas pessoas, ao querer
libertar-se de um peso, tornam-se escravas da própria dor. Sem justificativas,
justificam-se na recusa da cura, que é o encarar a realidade e vê-la de maneira
nova e diferente.
Essas pessoas, julgadas
doentes, loucas e insanas são apenas uma pequena porcentagem de um mundo onde
negar a realidade é a coisa mais banal que existe. Viver no mundo da mentira
não é apenas ter um comportamento exclusivo dos que julgamos loucos.
Vive na mentira quem não
aceita o fim de qualquer situação: amores que se desgastaram, filhos que
cresceram, uma doença que chegou sem avisar, alguém que foi embora, escolhas
que não aprovamos e todas essas pequeninas coisas do dia-a-dia que, pequenas,
fazem parte da nossa vida.
Chorar e ficar calado num
canto não muda nada do que vivemos, a não ser nos deixar à parte da vida que
continua a correr do lado de fora. Fazer-se de cego e surdo não modifica a
realidade do que não podemos controlar, nem o que os outros pensam e sentem.
Poderemos evitar os
espelhos por algum tempo, mas não os evitaremos a vida toda.
Melhor que ignorar a realidade
que nos machuca é pegar o que sobra dela e construir um novo mundo ou uma nova
maneira de viver.
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