O pedido de prisão expedido pelo procurador-geral não foi acolhido pelo ministro do Supremo Teori Zavascki
Brasília
- No documento em que pediu a prisão do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e de tornozeleira
eletrônica para o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), em 23 de maio, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o "acordão"
para barrar a Operação Lava Jato "é um dos mais graves atentados já
vistos contra o funcionamento das instituições brasileiras".
O
pedido de Janot, que tem como base a delação premiada do ex-presidente
da Transpetro Sérgio Machado e áudios de conversas entre ele e os
cardeais do PMDB, não foi acolhido pelo ministro Teori Zavascki, do
Supremo Tribunal Federal (STF) em decisão de 14 de junho. O conteúdo dos
diálogos que Machado grampeou deixou perplexo os investigadores mais
experientes. Eles denominaram "Pacto Caxias" o acordo dos cardeais do
PMDB contra a Lava Jato.
"As conversas gravadas demonstram que
eram fundados todos os temores de que uma parcela relevante da classe
política estivesse construindo um amplo acordo não só para paralisar a
Operação Lava Jato, mas também para impedir outras iniciativas do
sistema de justiça criminal estatal, de moldes e resultados semelhantes,
com modificação do próprio ordenamento jurídico brasileiro",
sustentou Janot no pedido de prisão do trio peemedebista. "Esse amplo
acordo envolveria, inclusive, a seu tempo e modo, o Supremo Tribunal
Federal. Trata-se de um dos mais graves atentados já vistos contra o
funcionamento das instituições brasileiras."
De acordo
com Janot o Plano Jucá-Renan-Sarney para barrar a Lava Jato tinha "uma
vertente tática e outra estratégica, ambas de execução imediata". O
procurador sustenta que a vertente tática consistia "no manejo de meios
espúrios para persuadir o Poder Judiciário" para não desmembrar um
inquérito específico da operação Lava Jato e para que Sérgio Machado não
se tornasse delator.
A vertente estratégia tinha como
objetivo, afirmou Janot, a modificação da ordem jurídica pela via
legislativa e por um acordo político com o próprio STF para "subtrair do
sistema de justiça criminal instrumentos de atuação que tem sido
cruciais e decisivos para o êxito da Operação Lava Lato".
"Na vertente tática, as conversas gravadas mostram os movimentos
iniciais do próprio colaborador, do ex-presidente Jose Sarney e dos
senadores Renan Calheiros e Romero Jucá para designar interlocutores com
vínculos pessoais de relacionamento com Vossa Excelência para
interceder e tentar persuadi-lo, por meio de argumentos extrajurídicos, a
não desmembrar o inquérito 4215/DF, em curso no Supremo Tribunal
Federal, em que José Sergio de Oliveira Machado figura com o investigado
ao lado do Senador Renan Calheiros", afirmou Janot.
O
procurador relatou que a na vertente estratégica, "as conversas gravadas
expõem a trama clara e articulada dos senadores Renan Calheiros e
Romero Jucá e do ex-presidente José Sarney a fim de mutilar o alcance
dos institutos da colaboração premiada no processo penal e da leniência
administrativa para pessoas jurídicas responsáveis por ato de corrupção,
impedir o cumprimento de pena antes do trânsito em julgado definitivo
dos processos penais pelos Tribunais Superiores, e, em prazo mais longo,
subtrair atribuições do Ministério Público e do próprio Poder
Judiciário".
Para Janot, as duas vertentes tinha uma motivação:
"estancar e impedir o quanto antes os avanços da Operação Lava Jato em
relação a políticos, especialmente do PMDB, do PSDB e do próprio PT, por
meio de um acordo com o Supremo Tribunal Federal e da aprovação de mudanças legislativas".Sérgio Machado foi deputado federal pelo PSDB de 1991 a 1995, senador pelo PSDB e pelo PMDB de 1995 a 2001 e candidato derrotado do PMDB ao governo do Ceará em 2002. Após a derrota, aponta Janot, o hoje delator conseguiu de seu grupo político no PMDB, que hoje está no Senado, sustentação para ser nomeado presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras. Sérgio Machado ficou no cargo entre 2003 e 2014.
Em sua delação, o ex-presidente da Transpetro relatou R$ 100 milhões em propinas para a cúpula do PMDB no Senado. A maior fatia do montante teria sido destinada ao presidente do Senado, atualmente alvo de 12 inquéritos da Lava Jato no Supremo. Para Renan teriam sido repassados R$ 32 milhões - quase um terço do total das propinas de Machado.
Em seguida está o senador Edison Lobão (PMDB-MA), que teria recebido R$ 24 milhões. Jucá teria embolsado R$ 21 milhões. Mais velho cacique da sigla, o ex-presidente José Sarney teria ficado com R$ 18,5 milhões. Já o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), segundo o delator, recebeu a menor fatia dos cinco, "apenas R$ 4,2 milhões".
Nenhum comentário:
Postar um comentário