Pré-candidato à sucessão presidencial em 2018, Ciro Gomes rechaça a
proposta de eleições antecipadas – o que considera um "marinismo" – e
diz que, hoje, o Brasil tem apenas duas opções: a legalidade, com a
volta de Dilma, ou o golpe, com Temer; "Será que as pessoas não estão
vendo que estão afastando uma presidente decente, contra a qual inventam
um pretexto injurídico, que é a tal pedalada fiscal, para colocar no
poder, sem voto, uma quadrilha de ladrões, de bandidos orgânicos da vida
republicana contemporânea brasileira?", questiona; Ciro diz que foi uma
irresponsabilidade do ex-presidente Lula colocar o PMDB na linha de
sucessão da República e bate duro nos candidatos tucanos; segundo ele,
Aécio Neves "vai se acabar" na Lava Jato e Serra é um "mau-caráter.
247 – Em entrevista ao jornalista Fernando Taquari,
do Valor, o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à sucessão
presidencial, criticou a proposta de eleições antecipadas e também a
política de alianças do PT nos últimos anos, que teria provocado a crise
atual. Segundo ele, sua pré-candidatura pelo PDT é uma "obrigação moral" com o país. "Me
sentiria um covarde se, com a experiência e a vida limpa que tenho, com
a compreensão e as conexões que tenho com o mundo acadêmico nacional e
internacional, se me omitisse por qualquer razão ou conveniência",
afirma.
Na entrevista, Ciro explicou por que defende a volta de Dilma, sem que ela convoque eleições antecipadas. "Antes
de mais nada, não interessa se é a volta da Dilma, do Lula ou do PT. A
gente precisa perceber o valor intrínseco da legalidade, da estabilidade
das regras, para que o elemento maravilhoso que produz milagres
ciclicamente, que é a presença do povo no processo político, aconteça,
rompendo com a plutocracia escravocrata alienada que há no Brasil", diz
ele.
Para Ciro, o impeachment colocou uma verdadeira quadrilha no poder. "Será
que as pessoas não estão vendo que estão afastando uma presidente
decente, contra a qual inventam um pretexto injurídico, que é a tal
pedalada fiscal, para colocar no poder, sem voto, uma quadrilha de
ladrões, de bandidos orgânicos da vida republicana contemporânea
brasileira? Não tem nenhum exagero no que estou falando. Conheço eles
todos. Fomos contemporâneos nas diversas tarefas que tive, em
antagonismo ou junto, porque o Lula me obrigou a ser parceiro desses
calhordas. Isso eu não perdoo. Aliás, colocar o lado quadrilha do PMDB
na linha de sucessão é uma responsabilidade do senhor Luiz Inácio Lula
da Silva."
Temer como trambolho
Ciro diz, ainda, que
Temer é uma espécie de "trambolho" no meio do caminho das forças
golpistas. "O conjunto de forças que determinou o golpe não se reuniu em
favor de Temer nem em prol de uma alternativa de neoliberalismo mofado.
Foi uma coisa contra Dilma. Temer é um trambolho no caminho, a quem se
dá um crédito, que está se esvaindo muito rapidamente, para que ele
cumpra tarefas que só são conciliáveis em antagonismo", diz ele. "O
sindicato dos políticos quer o fim da Lava-Jato por razões óbvias. Isso
não será entregue porque há um problema aí. O camarada faz uma delação
premiada para se defender e atenuar sua pena e compromete os demais. A
segunda tarefa, que também não será entregue, é ditada pelos rentistas,
que querem gerar excedentes a qualquer preço, a qualquer custo, qualquer
que seja a contradição. Só que Temer pensa o oposto. Ele é fisiológico e
clientelista. Haja visto o aplauso que ele pede, quando o Congresso, na
contramão desse ambiente, cria 14 mil cargos numa madrugada e dá
reajuste para as grandes corporações."
Ciro também bateu duro nos pré-candidatos tucanos. "O
PSDB vai para autoimolação. O Napoleão Bonaparte dizia que os maiores
erros estratégicos que cometeu foram porque supunha que um adversário
conhecia seus próprios interesses. Assim está o Aécio no PSDB. Vai se
acabar nessa brincadeira. O Serra, que é um grande mau caráter, aposta
todas as fichas nesta eleição, porque é um velho, de 77 anos, obcecado
por jogar a última cartada. Quer ser o Fernando Henrique do Itamar
Franco, o que é uma ilusão grosseira. Nem ele é o FHC, nem Michel Temer é
o Itamar."
No campo econômico, Ciro defendeu uma agenda desenvolvimentista e a volta da CPMF. "Ela deveria
voltar, não porque é um tributo bom. É porque subtraíram do orçamento
público a CPMF e 15 dias úteis depois a quadrilha que hoje comanda o
Congresso votou a regulamentação da emenda 29, que define percentuais
mínimos de investimento em saúde por União, aumentando em R$ 70 bilhões o
gasto com a área."
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