7.17.2011

Em busca dos fios perdidos

Uma pesquisa americana reacende uma polêmica de arrancar os cabelos: até que ponto o principal tratamento para a calvície pode prejudicar a vida sexual?

Embora um ditado garanta que as mulheres reconhecem seu charme, os carecas, membros de um grupo abrangente — metade dos homens com mais de 50 anos sofre de calvície —, muitas vezes não se sentem atraentes. Isso porque eles não são só atingidos no couro cabeludo. A cabeça também padece com frustração e insegurança. Mas, ainda que a cabeleira da adolescência seja irrecuperável, é possível, ao menos, conter a perda dessa cobertura natural. Entretanto, a finasterida, medicamento conhecido por debelar a queda, vive envolta em uma discussão que propõe uma escolha perturbadora: manter os fios ou arriscar sofrer disfunções sexuais?

Recentemente, um estudo com 71 voluntários da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, concluiu que a diminuição de libido provocada pelo remédio permanece em alguns pacientes até 40 meses depois da interrupção do tratamento. "Em outro trabalho, no entanto, muitos manifestaram diminuição da libido apenas por acreditarem ter tomado finasterida", contrapõe o tricologista Adriano Almeida, diretor da Sociedade Brasileira do Cabelo, em São Paulo. "Isso está incrustado no subconsciente de algumas pessoas", completa. Em outras palavras, pode ser exagerado acusar o fármaco de principal causador do transtorno.

De fato, a finasterida age sobre a testosterona, substância muito associada ao desejo. A droga inibe uma enzima que promove a transformação desse hormônio masculino em di-hidrotestosterona (DHT), molécula que, além de aumentar o apetite sexual, causa nos homens com pré-disposição genética o enfraquecimento dos cabelos. Logo, esse bloqueio pode reduzir sensivelmente a vontade de fazer sexo. Ou até diminuir o volume ejaculatório, uma ameaça para quem pretende aumentar a família. Mas isso não é motivo para se descabelar. "A suspensão da finasterida quando o paciente quer ter filhos é uma prática comum e aparentemente eficaz", ressalta Almeida.

Outra coisa: os efeitos colaterais podem ser percebidos de maneira diferente no organismo, dependendo da idade do paciente. "Aos 20 anos, a diminuição da vontade de fazer sexo é mais percebida. Com 40 anos ou mais, muitos nem notam", salienta o endocrinologista Alexandre Hohl, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, em Florianópolis, Santa Catarina.

Tanta desconfiança com o estudo da Universidade George Washington tem razão de ser. "O número de indivíduos consultados é pequeno, e a abordagem foi realizada pelo telefone", critica Alexandre Hohl. Isso quer dizer que nenhum dos pesquisados se submeteu a uma avaliação clínica. "Não se sabe se os efeitos foram mesmo causados pelo medicamento. O efeito psicológico aí é muito importante", argumenta Lilian Harder, médica e representante da Merck Sharp & Dome (MSD), laboratório que fabrica o remédio desde 1998. Já o estudo da farmacêutica usou 3 200 pacientes, e, neles, as consequências persistiram por no máximo três meses após a interrupção do tratamento.
 

 

 

Opções para quem não quer arriscar Na pesquisa da MSD, 1,8% dos participantes tiveram diminuição da libido, 1,3% padeceram com a disfunção erétil e 0,8% apresentaram diminuição do volume ejaculatório. Apesar do possível papel do efeito placebo no levantamento, há quem simplesmente não queira correr esses riscos.

Para eles, uma solução pode ser as drogas de uso tópico, que promovem a dilatação vascular. "Isso aumenta o aporte sanguíneo e de nutrientes para o couro cabeludo", explica o tricologista Adriano Almeida, que também receita extratos da planta Serenoa repens, um análogo natural e ligeiramente menos agressivo da finasterida. Essas alternativas, todavia, têm sua eficiência contestada.

Outra saída é o transplante capilar, uma das cirurgias plásticas mais realizadas pelos brasileiros. "Antigamente implantavam- se até fios de plástico. Hoje, o cabelo da nuca da pessoa é retirado e implantado, fio por fio, em orifícios com um microbisturi", ensina Almeida. O método atual, apesar de não erradicar completamente a dor e os inconvenientes de um pós-operatório, é bem menos hostil ao corpo. Um dos maiores impeditivos, nesse caso, é o preço: o tratamento não sai por menos de 5 mil reais. Apresentados os prós e os contras de cada procedimento, vale levar a discussão para o consultório e avaliar o futuro do topo da cabeça.

Fatores de risco Como o nome sugere, a alopecia androgenética, o mais frequente tipo de calvície, atinge homens com DNA propenso ao quadro. Ou seja, são os genes que, no final das contas, vão realmente definir se a cabeça ficará calva ou não. Só que fatores como oleosidade excessiva do couro cabeludo podem colaborar para a progressão do problema. O uso de anti-hipertensivos e de alguns antidepressivos, assim como certos distúrbios nutricionais, também agravam a situação. Já o estresse crônico pode culminar na chamada alopecia areata, que atinge severamente apenas uma pequena área da cabeça.

O que calvície tem a ver com câncer Carecas na faixa dos 20 anos estão mais sujeitos a tumores na próstata, averiguou um estudo francês. Acredita-se que tanto a perda dos fios quanto o câncer estão ligados a alterações nos hormônios masculinos. "Variações nos níveis de testosterona podem até ajudar a desenvolver um tumor, mas não são a causa determinante", afirma o urologista Gustavo Guimarães, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Curiosamente, a finasterida é prescrita para inchaços benignos na próstata. Mas isso não significa que sirva para tratar tumores.
Saude 

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