No Instituto de Psiquiatria da USP, crises caíram pela metade entre pacientes submetidos à terapia 3D, com simulação de situações desconfortantes
Por mais de uma vez, a estudante Patrícia, de 19 anos, deixou de entrar na sala de aula porque estava atrasada e não queria atravessar o auditório e ser "julgada" pelos colegas. Pelo mesmo motivo, ela deixou de frequentar festas e se isolou das pessoas. A estudante tinha medo da exposição e de ser avaliada negativamente.
José Patricio/Estadão
Psicóloga Cristiane Gebara coordena pesquisa do Instituto de Psiquiatria da USP
Além dela, outros 20 pacientes participaram da pesquisa e os resultados mostram redução média de 55% nas crises de ansiedade. O problema atinge cerca de 8% da população. "Quando estava em situações assim, eu suava frio, ficava vermelha e superansiosa. Como a porta da sala de aula é na frente, eu morria de medo e de vergonha de atravessar a sala toda. Ficava pensando no que as pessoas iam dizer. Isso prejudicava meu desempenho na aula", conta a estudante.
Pesquisa. O tratamento de Patrícia foi realizado por meio de uma pesquisa que começou no ano passado no IPq-HC e avaliou 21 pacientes (11 homens e 10 mulheres), todos diagnosticados com fobia social. Eles foram submetidos a sessões de realidade virtual, em que um programa de computador traz imagens em três dimensões das situações que mais causam ansiedade e desconforto. A pesquisa previa realizar até 12 sessões de 50 minutos, mas os resultados já foram observados a partir da quinta sessão.
Segundo a psicóloga Cristiane Maluhy Gebara, responsável pela pesquisa, o trabalho teve como base a terapia cognitiva comportamental e a técnica de exposição - que é a mais usada no tratamento convencional e a mais eficaz.
A diferença é que, em vez de expor os pacientes às situações de desconforto ao vivo, em situações reais ou na imaginação, quando o paciente imagina determinada cena e tenta controlar suas reações a pesquisa simulou as situações por meio da tela do computador.
As situações que causavam desconforto e ansiedade eram hierarquizadas e o paciente era exposto a cada uma delas de forma gradual e repetida. Segundo Cristiane, a vantagem da realidade virtual em relação ao tratamento convencional é que a pessoa pode ser exposta à mesma cena inúmeras vezes até se sentir confortável e, além disso, a adesão é maior por acontecer em um ambiente controlado.
"Não temos como criar uma reunião de trabalho só para submeter o paciente a essa exposição. É uma limitação que não acontece na exposição virtual", diz Cristiane.
Interação. As cenas são acompanhadas pelo terapeuta, que orienta o paciente e controla, pelo computador, as respostas dos personagens virtuais. O programa tem seis cenas que vão de uma simples caminhada pela rua em que o paciente se submete aos olhares insistentes dos outros pedestres, passando por um pedido de informação para um desconhecido, até a chegada a uma festa cheia.
"Em uma exposição ao vivo, a pessoa demora cerca de 50 minutos para conseguir diminuir e controlar a ansiedade. Nessa pesquisa, constatamos que houve diminuição dos níveis de ansiedade após 20 minutos", diz a psicóloga. "Quando o paciente reduzia a ansiedade para uma escala de menos de 50% em determinada situação, a gente passava para outra cena."
Os pacientes estão sendo reavaliados para que a pesquisadora observe se eles estão respondendo ao tratamento e se os resultados se mantiveram. Fora do Brasil, a técnica da realidade virtual com fins terapêuticos já é utilizada. Mas aqui, por enquanto, serão necessários mais estudos antes de ela ser oferecida como tratamento de rotina no HC. Interessados podem entrar em contato pelo e-mail fobiasocialrv@gmail.com.
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