Quase
5 mil crianças e adolescentes esperam por uma família no Brasil. Dados
divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça em 2011 mostram, ainda, que
mais de 27 mil pessoas aguardam a sua vez de adotar um filho. Esses
números demonstram uma situação que, na prática, é ainda mais complicada
do que no papel. As grandes expectativas criadas na hora da adoção de
crianças geram conflitos e dificuldades que, muitas vezes, não são
esclarecidos, criando um ambiente familiar cada vez menos afetivo.
A adaptação a essa nova etapa precisa ser recíproca.
Tanto os pais, quanto a criança, carregam costumes, personalidades e
histórias já vividas e depositam um no outro suas expectativas. Em
muitos casos de adoção, os interessados são casais que passaram anos
tentando gerar um filho e que, agora, procuram por alguém que se
assemelhe às suas vontades. A criança, no entanto, já tem um histórico
familiar - muitas vezes violento - e sonha com uma família completamente
diferente daquela em que nasceu.
Acompanhamento
Para que essa trajetória não sobrecarregue nenhum dos
lados, é preciso acontecer um acompanhamento psicológico antes mesmo do
processo de adoção se concretizar. “Não existe uma receita, cada um tem a
sua. Mas, para auxiliar nesse convívio, a família precisa ter a ajuda
de especialistas para trabalhar os 'fantasmas' e saber lidar com essa
nova realidade”, ressalta a conselheira do Conselho Federal de
Psicologia e Professora da Universidade Federal do Pará, Flávia Lemos.
Conforme a especialista, os abrigos também têm um grande
papel nesse processo. É lá que a criança deveria ter o primeiro contato
com psicólogos a fim de compreender e aceitar a nova situação. No
Brasil, porém, nem sempre há essa preocupação. “O processo de
encaminhamento para os abrigos é muito complicado. Na teoria,
precisaríamos de profissionais para atender a essas demandas, o que não
acontece na prática. Por isso, é possível que os jovens sofram novas
violações dentro dessas casas”, declara Flávia Lemos.
Segundo a conselheira Flávia Lemos, um ambiente familiar
agradável se dá baseado na confiança. Para que isso ocorra, é preciso
saber lidar com a verdade. Também é importante saber que nenhuma família
é mais importante que a outra. “Os pais precisam entender que o filho
adotivo não é uma propriedade e que ele tem direito à informação. Além
de criar uma relação sustentada em mentiras, negar o passado dela também
pode acarretar em uma série de problemas emocionais”, afirma.
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