Você é o produto das situações que vive. Mas também sofre uma influência que vem de dentro - e é tão potente quanto elas.
O inconsciente pode ser fonte de angústias - e também de algumas injustiças, cujos efeitos são perceptíveis desde a infância.
O
queridinho do professor, provavelmente, será o aluno com as melhores
notas da classe. Não porque ele seja necessariamente o melhor, mas
porque os professores acreditam que seja - e acabam atuando
inconscientemente a favor dele.
Esse fenômeno, que se chama incentivo inconsciente,
tem respaldo em diversos estudos científicos. Um dos mais engenhosos (e
mais polêmicos também) foi conduzido na década de 1960 por Robert
Rosenthal, hoje um octogenário professor de psicologia da Universidade
da Califórnia.
Na
experiência, os alunos de uma escola americana foram submetidos a uma
prova. Rosenthal e sua equipe disseram aos 18 educadores do colégio que
se tratava de um teste especial, desenvolvido na Universidade Harvard
para analisar o potencial de desenvolvimento de cada criança.
Mentira.
Era apenas um reles teste de QI, sem nada de especial. O objetivo da
lorota era aumentar as expectativas dos professores. Os alunos fizeram a
prova, e a grande sacada de Rosenthal veio na hora de anunciar o
resultado. Antes mesmo de calcular a pontuação de cada aluno, os
pesquisadores escolheram aleatoriamente três a seis crianças de cada
série e disseram aos professores que aqueles alunos haviam se destacado e
teriam um desempenho extraordinário nos anos seguintes. Era outra mentira.
No
final do ano escolar, a equipe de Rosenthal voltou à escola e repetiu o
teste. Os alunos que haviam sido falsamente diagnosticados como gênios
haviam ganho, em média, 3,8 pontos de QI a mais que os demais. O
resultado foi ainda mais surpreendente entre alunos da primeira série: a
diferença entre os ungidos e o resto foi de assombrosos 15,4 pontos de
QI a mais.
Ou seja: as crianças que haviam sido apresentadas como mais inteligentes de fato se tornaram mais inteligentes - porque inconscientemente, sem querer, os professores haviam dado mais atenção e estímulo a elas.
"O
resultado mais importante desse experimento foi mostrar como a
expectativa dos professores faz toda a diferença para o desenvolvimento
dos alunos", analisa Rosenthal. É impossível ser completamente justo e
imune a esse tipo de influência, mas existe um antídoto eficaz contra as
distorções induzidas pelo inconsciente: saber que ele sempre está pronto para nos enganar.
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