Crescem os fãs de aplicativos que recompensam quem bate ponto na academia ou emagrece
RIO — Sedentário há anos, Fabrício Granito andava bem incomodado toda vez que subia na balança: estava 30 quilos acima de seu peso ideal. Cansado e pouco disposto para as atividades do dia a dia, descobriu em exames de rotina, dois meses atrás, que suas taxas de colesterol e glicose tinham ultrapassado, e muito, os valores ideais. O sinal vermelho acendeu, e o consultor de hotéis de luxo fez rapidamente a matrícula numa academia perto de sua casa, em Copacabana. Os familiares aplaudiram a decisão, mas um amigo com um perfil bem parecido com o seu garantiu que era preciso um estímulo ainda maior para mudar tão radicalmente a rotina.
— Foi aí que ouvi falar pela primeira vez de um aplicativo para malhar que dava dicas importantes sobre alimentação e que me pagaria se cumprisse todas as metas estipuladas. Achei que poderia ser divertido e pensei: por que não? — conta o diretor do grupo HEL (Hotéis, Eventos e Lazer), que baixou o Pact há duas semanas.
Aplicativo para smartphones que remunera os seus usuários mais dedicados, o Pact está entre os mais populares na App Store (veja outros na lista no final da matéria). Criado por dois estudantes da Universidade de Harvard e batizado inicialmente com o nome de GymPact, sugere um pacto bem claro: ninguém deve ficar no prejuízo.
Você faz o download, insere os dados pessoais e, claro, o número de seu cartão de crédito. É nele — e em dólar — que será feito o crédito ou o débito, dependendo da atuação de cada um. A hora de treino acumula pontos, mas faltas seguidas podem deixar a conta no negativo.
Fabrício tem se esforçado bastante. Sob o acompanhamento de umpersonal trainer, ele faz musculação três vezes por semana, mas lamenta que as aulas de natação (duas vezes por semana) não valham. Para que os resultados apareçam na conta, é preciso estar em área com wi-fi em pleno funcionamento, permissão para geolocalização via GPS e celular colado ao corpo — o que é impossível sem danificar o aparelho debaixo da água.
O consultor, que quer voltar a pesar 86 quilos, determinou então um plano: dois dias de atividades físicas na semana e a perda de US$ 5 (o mínimo permitido) por cada falta. Se alcançar o objetivo, fatura o mesmo valor, só que a cada semana.
— É claro que eu sei que não vou ficar rico com isso, mas mais magro e elegante eu garanto que fico — brinca Fabrício, depois de caminhar pela orla, do Leme até Copacabana.
Outros aplicativos oferecem prêmios variados, de produtos de beleza a vales de lojas de departamentos. A atriz e designer de acessórios Yana Purger, de 33 anos, escolheu o DietBet, que funciona como um jogo de apostas para quem quer emagrecer.
— Eu não estou gorda, mas achei um ótimo incentivo para que eu não enfie mais o pé na jaca — diz Yana, 50 quilos e 1,61m de altura. — Sou do tipo que faz mil coisas ao mesmo tempo e nunca tem hora pra comer, sabe?
Yana baixou o app dias antes da Páscoa. Seguiu todas as orientações para o cadastro e tirou uma foto de corpo inteiro e outra com os pés na balança. Devidamente aprovada, recebeu o prazo de 28 dias para perder 4% do seu peso.
A designer acha que chega lá sem grande dificuldade. De manhã, faz seu próprio suco detox com chia, linhaça e outros ingredientes, está batendo ponto na sala de musculação, faz muay thai e ainda tenta correr na praia uma vez por semana. Durante as refeições, sempre consulta o app e acha divertido ver as fotos postadas por outros participantes.
— Eu não vou a lugar nenhum sem o meu iPhone, e agora sempre penso duas vezes antes de comer um chocolate. É até engraçado pensar que ainda posso ganhar um dinheirinho com isso — conta ela, com o saldo ainda zerado no aplicativo.
Enquanto Yana não esconde a empolgação com seu novo passatempo, a estudante de Direito Flávia Coutinho, de 21 anos, prefere não correr o risco de perder dinheiro. Ela usa desde o ano passado o MyFitnessPal, que ajuda a contar as calorias dos alimentos e não tem qualquer sistema de remuneração. Flávia até acha que o aplicativo deu aquela força para que ela perdesse três quilos no fim do ano passado, mas acha que o resultado não seria alcançado se ela não tivesse suado em bicas nas aulas de spinning e musculação.
— Sem esforço, nenhuma aposta vai funcionar. Se já sei disso, pra que vou me arriscar? — pergunta.
Para o personal trainer Afonso Rodrigues, as recompensas podem motivar, sim, muita gente.
— Como se trata de perder dinheiro, as pessoas farão de tudo para cumprir suas metas, e isso é ótimo. É, sem dúvida, um bom recurso para uma mudança de comportamento — acredita Afonso.
A professora de Educação Física Fernanda Cavalcanti alerta sobre a importância do acompanhamento de um profissional capacitado em toda e qualquer atividade física.
— Vejo muito mais pontos negativos do que positivos — avalia Fernanda. — Acho que os usuários desse tipo de programa podem acabar ultrapassando seus limites. É muito importante o auxílio de um profissional na orientação durante a execução dos exercícios, com um padrão de movimento correto e volume de treino semanal adequado.
COMO FUNCIONAM OS PRINCIPAIS APLICATIVOS PARA MALHAR, EMAGRECER E LEVAR UM TROCO (OU NÃO...)
Pact: Um dos apps mais populares, permite que o usuário acompanhe suas metas semanalmente e que fotos da malhação de cada um sejam postadas e compartilhadas. Os prêmios chegam, em média, a US$ 5 por semana. Mas o valor é descontado a cada falta.
NexTrack: Um dos mais antigos do tipo, permite a competição entre amigos em atividades físicas, como corrida, dança, ioga. Brincar com o filho ou o cachorro também pode contar pontos, que são trocados por recompensas diversas.
Charity miles: Os usuários enxugam a silhueta, mas quem ganha dinheiro são institutos que apoiam projetos ambientais ou ajudam pessoas com câncer. Quem caminha ou corre seis quilômetros, por exemplo, acumula US$ 1.
Diet Bet: Os criadores garantem que 96% dos participantes relataram alguma perda de peso nas primeiras quatro semanas de uso. A média não é tão alta: três quilos e a recompensa de US$ 58. Mas a aposta sempre pode ser perdida...
Healthy Wage: Você pode encarar um desafio individual ou em grupo. Na primeira opção, o prêmio é calculado de acordo com a quantidade de peso a ser eliminada num prazo estipulado. Na segunda, o ganho pode chegar até US$ 10 mil, dividido entre os participantes.
Fitcoin: A grande diferença é que o pagamento é feito com bitcoins. É preciso criar uma conta para armazenar as moedas virtuais e baixar um “rastreador fitness”, que detecta os movimentos e a localização via GPS.
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