RIO - Responsável pela Associação Educafro, que promove cursos pré-vestibulares para negros e carentes, o frei David dos Santos, anunciou que a entidade irá processar os ginastas Arthur Nory Mariano, Fellipe Arakawa e Henrique Medina Flores por terem feito piadas de maus gosto contra seu companheiro de treinamento Ângelo Assumpção, em vídeo enviado ao GLOBO. A ideia do religioso é a de que os jovens e suas famílias e a própria Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) tenham de pagar uma indenização por isso. O religioso contou ter-se reunido ontem com sua assessoria jurídica, que concluiu que Ângelo está sozinho, num ambiente em que é o único negro.Ângelo Assumpão em foto de arquivo -
O caso veio à tona na sexta-feira. No video, Ângelo, alvo de comentários racistas, Arthur Fellipee Henrique conversavam no café, durante o período de treinamento em Portugal. No episódio os três companheiros de Ângelo compararam a raça negra a um celular com defeito, cuja tela é preta, e a um saco de lixo, também preto. Em reportagem divulgada pelo Esporte Espetacular da Rede Globo, no domingo passado, dia 10, Ângelo havia admitido que um companheiro de clube já havia manifestado sua insatisfação pelo fato de ele estar obtendo resultados melhores.— Todos os demais brancos, que brincam sempre com o racismo antinegro, se esqueceram da rede social, que desta vez, trabalhou a favor do negro. Eles portanto, terão de pagar pelo veneno que lançaram. O video que eles gravaram, pedindo desculpas, foi assistido por quatro advogados que concluiram não haver verdade nos depoimentos dos outro três jovens atletas. Assistimos também a resposta de Angelo, e sentimos que foi a palavra de quem não quer ter problema onde ele é minoria. Nós nos perguntamos o quanto a direção da CBG deve ter influenciado — argumentou ao GLOBO, por telefone, de São Paulo —. Decidimos abrir um processo, porque o video publicado feriu a todos negros brasileiros que lutam por justiça. Vamos pedir que os pais dos jovens que fizeram as piadas e a CBG paguem 50 bolsas de estudos para jovens negros. É uma possibilidade. Vamos entrar com o processo nos próximos dias. Estamos verificando se há no Facebook deles outras agressões anteriores.
— Tinha um menino que não gostava muito de mim. Ficava denegrindo minha imagem, porque sou negro, uma coisa que não tinha muito no clube naquela época. Então, ele não aceitava que eu dividisse o mesmo espaço e que eu estivesse começando a dar resultados, e ele não. É difícil para uma pessoa sempre acostumada sempre a ganhar, ter as coisas mais facil, não batalhar tanto por aquilo. Temos de pegar aquilo, filtrar o que é de bom, de beneficio para a gente e transformar isso em coisas boas. Não ficar se prendendo a tanto preconceito,e sim a evoluir — declarou Ângelo, campeão da prova de salto da etapa de São Paulo da Copa do Mundo.
A ideia de um processo havia sido levantada pelo secretário-executivo da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Giovanni Harvey, para quem houve evidente manifestação de racismo.
— Isso não está descartado, seja por iniciativa do ofendido, seja do Ministério Público — disse Harvey. — Vou solicitar ao ouvidor nacional da Secretaria, Carlos Alberto Júnior, que apure as responsabilidades, à luz dos códigos da CBG e do COB e das leis antirracismo do país. Não sei como irá avaliar o caso, nem o que vai decidir, mas é possível o processo.
Já a presidente da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), Luciene Resende, disse ao “Globo Esporte” que apura o caso e pode punir o trio. A entidade divulgou nota, encaminhando a situação para seu Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), anunciou que fará um intenso trabalho educativo com atletas e técnicos, para evitar que isso se repita, e repudiou o racismo.
Para o advogado Humberto Adami, presidente da Comissão Nacional de Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB, a melhor solução seria a de educar os agressores sobre a história da África e a dos negros no Brasil, pois usaram estereótipos ouvidos em casa ou na escola:
— A CBG não pode ser frouxa. Tem de ser firme no combate ao racismo.
Professor da Universidade de São Paulo (USP), Sérgio Bairon considera que o racismo agrede, exclui e elimina o outro, que não é visto como ser humano e torna-se alvo fácil:
— Estas manifestações racistas são aparentemente inofensivas, mas sustentam outras mais graves.
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