Evento vai na contramão da história. Movimento LGBT reage
Idealizador do evento, o padre conta que a ideia surgiu quando a Câmara de Vereadores do município iniciou um debate sobre ideologia de gênero, no mês de junho, em sessão extraordinária. A votação poderia garantir aos estudantes a escolha do gênero em que seriam tratados. Sob protesto de várias correntes religiosas, o plano foi rejeitado por unanimidade dos vereadores: o placar marcou 24 a 0.
“Nós, cristãos (imensa maioria em São
Gonçalo), consideramos a proposta gravemente danosa à educação de
nossas crianças”, diz por e-mail o padre, que encontra-se em retiro
espiritual. Ele diz que o evento teve a adesão de outras 30 igrejas
evangélicas, convidadas pelo pastor Samuel Brito, líder da Igreja Fé
para Todos. O grupo não descarta qualquer corrente religiosa. “Aceitamos
as adesões de pessoas de quaisquer religiões que também acreditem nos
mesmos princípios”, completa.
A ideia revoltou ativistas de direitos LGBT. “Eles vão fazer
uma marcha pra privar as pessoas de direitos. Eles acham que estão
fazendo uma marcha pra defender a família mas, na verdade, é o
contrário, é uma marcha para restringir direitos em uma sociedade
machista patriarcal”, afirmou Indianara Alves Siqueira, presidente do
coletivo Transrevolução, que atua em favor dos direitos de travestis e
transexuais. "Essa marcha é desumana", definiu.
Apesar de rejeitar a acusação
de homofobia e intolerância, os mais de 100 mil cartazes e panfletos
entregues na Matriz de São Gonçalo, além de busdoors e outdoors,
convocam o público com uma imagem
de família bastante ortodoxa: pai e mãe olham candidamente para um
bebezinho. Em outro panfleto, crianças aparecem separadas por sexo, sob a
frase: “Sou católico e digo: NÃO para a ideologia de gênero”.
Um dos oito parlamentares confirmados no evento
é o petista Marlos Costa, membro da Comissão de Educação e Cultura de
São Gonçalo. Ele diz que rechaça qualquer preconceito mas não nega a
presença na marcha. “A família é a base da vida social. A importância do
núcleo familiar é menosprezado por muitos segmentos da sociedade
atual”, diz.
O vereador garante que o evento marca o início da Semana Nacional da Família, evento criado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que será aberta no domingo, dia 9. Por telefone, a CNBB não confirmou o reconhecimento da caminhada.
Papa Francisco faz História
No dia 18 de fevereiro, em momento considerado épico por lideranças católicas e dos direitos dos homossexuais, o Papa Francisco recebeu gays nos assentos especiais da audiência geral semanal com Sumo Pontífice.
Em 2013, logo após a Jornada Mundial
da Juventude, no voo que ia do Rio de Janeiro para Roma, na Itália, ao
ser questionado quanto à aceitação da união homossexual, o Santo Padre
respondeu. “Quem sou eu para condená-los?”.
Em outro ato considerado progressista, o Papa
elogiou divorciados que decidem se casar novamente. “Essas pessoas não
são excomungadas e não devem ser tratadas como tal. Elas são sempre
parte da Igreja, que não tem portas fechadas para ninguém”, afirmou ele,
desmontando um velho preconceito da Igreja contra o divórcio. Em outra
oportunidade, o Papa admitiu a possibilidade remota de padres casados.‘Eles não nos representam’
Membro do Conselho Estadual LGBT e diretor do Grupo Arco Íris, Júlio Moreira lamenta que o evento de São Gonçalo venha na contramão dos esforços do Papa Francisco pela aceitação de homossexuais e pelo acolhimento das diferenças dentro da fé católica.
“Existe uma pastoral LGBT na igreja, com eles sim, nós dialogaríamos. Nosso posicionamento é ideológico”, afirma ele, que rechaça qualquer embate em repúdio ao evento de amanhã. “Eles não representam a Igreja. Faremos nosso papel de continuar militando pacificamente, de forma inteligente. Eles deveriam respeitar a harmonia familiar, mas democracia é isso mesmo”, completa.
A votação que derrubou a ideologia de gênero em São Gonçalo ocorreu em sessão extraordinária por solicitação do Prefeito Neilton Mulin (PR). O projeto do Plano é de autoria do Poder Executivo. Na ocasião, 24 dos 27 parlamentares votaram contra. Três vereadores faltaram à sessão.
Mas nem tudo está perdido para o favoráveis à ideologia de gênero: as emendas aprovadas serão submetidas à analise do Poder Executivo que poderá sancioná-las junto com o projeto aprovado ou vetá-las. Caso sejam vetadas, retornam à analise dos vereadores que podem derrubar os vetos. No último mês de junho, a Alerj aprovou lei punindo estabelecimentos públicos e privados que agirem com discriminação contra LGBTs, mas excluiu as igrejas da medida.
Colaborou Felipe Martins
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