O médico Drauzio Varella, que se considera tímido, estreia hoje, no ‘Fantástico’, o novo quadro Hepatite, Epidemia Ignorada – e se firma como o médico mais popular do País, mesmo com ampla oferta de especialistas de jaleco transitando na TV
Um papel na mão, algumas frases escritas e, em poucos minutos, Drauzio Varella está pronto para gravar mais uma de suas matérias. Mas nem sempre foi assim, é claro. Tímido confesso, ele temia aquelas cenas “que televisão gosta de fazer, de gravar a pessoa sozinha no meio de uma multidão”. Não que tenha se tornado algo fácil, mas “hoje faço com mais naturalidade”, explica.
Com 12 anos de experiência à frente das câmeras, o cancerologista não perdeu a motivação de 44 anos atrás, quando estava no início da carreira. Hoje, bem mais conhecido e não menos engajado, ele estreia nova série no Fantástico – Hepatite, Epidemia Ignorada – e se firma como o médico mais popular do País, mesmo com ampla oferta de especialistas de jaleco transitando na TV.
Onde vai, é interpelado por alguma história, alguma lembrança. Coisas que não o deixam tão à vontade, mas que já fazem parte de sua rotina. “A televisão é um pacote, né?! Quando você aparece na TV tem que ter consciência de que está entrando na casa das pessoas. Elas passam a te conhecer e achar que você faz parte do círculo de amizade delas. Eu tento explicar o que me perguntam. Você não pode criar uma imagem na televisão que seja falsa, porque ela expõe os olhos, e os olhos expõem a alma”, conta o doutor, no intervalo de uma gravação a qual a reportagem acompanhou.
No salão de beleza para falar sobre os riscos de contaminação da hepatite B (e outras doenças) em um ambiente como este, Drauzio reconhece que, mesmo com décadas de experiência, ainda aprende muito com o que vivencia fora do consultório. “Você vê como são as coisas? Você vem com uma ideia na cabeça e a manicure, que tem uma tremenda experiência, fala que não funciona. A prática te traz essa visão do conjunto. Uma coisa é ver no livro, e outra coisa é ver como funciona no dia a dia.”
Perfeccionista, o médico para tudo, pede dicas às profissionais, muda as palavras do texto – em vez de “invólucro”, opta por “envelope” –, analisa o vídeo e, se não gostar, faz tudo de novo. “É muito fácil trabalhar com ele, erra muito pouco e sempre se preocupa com o entendimento final. Ele tem uma visão de comunicador, sabe como atingir e mobilizar uma mudança de comportamento nas pessoas”, descreve Gustavo Mello, diretor desta série e que já trabalhou com o doutor Drauzio Varella em outras duas.
Toque final
Um esboço sobre o que vai ser dito na reportagem é traçado pela produção, mas é ele quem dá o toque final às palavras, o ajuste necessário para se fazer entender. E sua participação nos quadros não se esgota na apresentação. A maioria das pautas parte dele e é depois discutida com os diretores e produtores. Para fundamentar as pesquisas da equipe, ele indica alguém de confiança para explicar melhor determinados assuntos.
Aos 68 anos e dividindo-se entre os atendimentos no consultório, o trabalho realizado na penitenciária feminina de São Paulo e as gravações para a TV, o doutor Drauzio está cansado, sim. Mas não a ponto de parar. “Minha vida melhoraria muito se eu parasse agora. Mas, no fim, eu gosto é dessa coisa de fazer no local. Nunca aceitei fazer em estúdio. Hoje, tenho uma visão da medicina que eu não tinha antes”, explica.
Suas horas livres são tão raras, que falta tempo até mesmo para se ver no ar. Em casa, ele passa pelo crivo de uma examinadora atenta, a atriz Regina Braga. “Minha mulher põe defeito, é crítica. E é bom assim. Ela critica meu jeito de falar, algo que ela não entendeu. Não existe a fórmula certa”. Com a mesma tranquilidade de quem admite que ainda há muito o que aprender, o médico da TV e dos livros de sucesso busca no teatro rodriguiano a síntese daquilo em que acredita: “Toda unanimidade é burra”.
Thaís Pinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário