Tratamento usa oxigênio para eliminar rugas, mas não é regulamentado
RIO - Quando você pensa em diminuir as rugas do rosto e ter uma pele com aspecto saudável, lembra de injeções dolorosas, cirurgia plástica ou cremes caros, formulados em laboratórios de ponta? Agora imagine conseguir esse efeito apenas recebendo simples jatos de oxigênio no rosto, e ainda por cima sem qualquer efeito colateral? Essa é a promessa de um tratamento que acaba de chegar ao Brasil. Tudo é feito com uma máquina que lança grandes concentrações de oxigênio sobre a pele. E sem dor, em cerca de oito semanas, a pele fica mais lisa e viçosa. A técnica se chama oxigenoterapia estética e já causou frisson ao ser citada entre os segredos de beleza de nomes como Madonna e Jennifer Lopez. Mas, apesar da publicidade estelar, será que funciona?
Bem, primeiro é fundamental lembrar: representantes das Sociedades Brasileiras de Dermatologia e de Medicina Estética alertam que não há prova científica da eficácia da terapia. Além disso, ainda não houve uma avaliação oficial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Mas médicos e esteticistas insistem: a maior concentração de oxigênio puro sobre a pele do rosto - de 98%, promete o fabricante do aparelho - estimula a circulação de sangue nos tecidos e a respiração das células. O ar entra pela epiderme, a camada mais superficial da pele. Isso teria efeitos benéficos: acelerar o metabolismo celular e, portanto, a renovação da pele, além de estimular a produção de nutrientes como colágeno, elastina e reticulina - responsáveis pelo aspecto firme e viçoso da pele nova -, e a proteção contra agentes agressores. O resultado? Pele rejuvenescida, de aspecto uniforme, com menos rugas finas e marcas de expressão.
- Uma pele com a respiração prejudicada fica desidratada, feia e enrugada. Quando colocamos o oxigênio, estimulamos o metabolismo e combatemos o envelhecimento, as manchas e a acne - explica Katiana Cruz, médica ortomolecular e especialista em tratamentos estéticos e que aplica a técnica na clínica Arthys, na Barra.
Especialistas questionam eficácia do tratamentoComo nem tudo é simples como parece, as sessões de oxigenoterapia incluem bem mais do que os jatos de oxigênio puro no rosto. As esteticistas fazem peeling ou esfoliação, aplicados antes do oxigênio, a fim de preparar a pele. Usam-se também outros produtos de beleza, como vitaminas antioxidantes. O tratamento prevê uma aplicação de oxigênio a cada sete dias, durante um total de cinco a oito semanas. Depois, claro, há a manutenção, que deve acontecer uma vez por mês. Cada sessão custa cerca de R$ 200. Dependendo das necessidades da paciente, a aplicação pode ser feita com pistolas de ar, spray, minicâmaras ou uma máscara de inalação.
INFOGRÁFICO:Entenda como funciona o tratamento
Há, porém quem aponte problemas no tratamento. Direcionar o oxigênio para o rosto não é suficiente para penetrar na pele, segundo Wilmar Accursio, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Envelhecimento e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Estética. Ele explica que a oxigenação da pele é feita pelo sangue e não haveria como o oxigênio ultrapassar a epiderme, a não ser por meio de injeção:
- Não há estudos que mostrem que esse tratamento funcione em termos de estética. Não acho que haveria qualquer benefício.
Por outro lado, Accursio não vê danos que a técnica poderia causar à saúde, desde que, quando houver inalação de oxigênio, por meio da máscara, o tempo seja pequeno, abaixo de 20 minutos. Depois disto, haveria excesso de oxigênio e desequilíbrio do pH de acidez do sangue, o que poderia causar náuseas, tontura e dor de cabeça. Mas as profissionais que aplicam a técnica dizem que, ainda que cada sessão demore ao todo 40 minutos, o tempo de inalação do oxigênio puro não passa de 10 minutos.
Além disto, a oxigenoterapia estética é baseada nos mesmos princípios do tratamento hiperbárico, em que o paciente fica numa câmara grande, recebendo oxigênio puro, a uma pressão maior que a atmosférica, para tratar feridas e infecções que não cicatrizam, entre outros problemas. Nesse caso, a eficácia é comprovada por estudos médicos. Quem não se lembra de Michael Jackson, que recorreu às câmaras de oxigênio para cuidar de queimaduras que sofreu numa gravação e, mais tarde, por conta da excentricidade, passou até a dormir em uma câmara, acreditando que assim manteria a juventude?
Com ou sem eficácia comprovada, a aposentada Anna Maria Índio do Brasil Ferraz, de 64 anos, já passou por cinco sessões numa clínica da Barra e se diz bastante satisfeita:
- Na segunda vez, eu já senti uma diferença grande. Minha pele ficou mais viçosa e as rugas finas desapareceram.
A dermatologista Maria das Graças Tavares indicou a oxigenoterapia para Anna Maria e diz que ela é apropriada para qualquer tipo de pele. Pode, inclusive, ser usada em outras áreas do corpo. A faixa etária das pacientes varia bastante, já que as mulheres começam a se preocupar com a estética cada vez mais cedo.
Como o tratamento não está ainda regulamentado, a coordenadora do Departamento de Cosmiatria da regional Rio da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Bruna Félix, recomenda que as pacientes busquem opções com garantia científica de sucesso.
- Não indicamos a oxigenoterapia para nossas pacientes. Existem boas opções no mercado para quem quer tratar rugas, como laser, peelings e cremes com remédios derivados de vitaminas e ácido glicólico.
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