Em eventos oficiais, a beleza da duquesa de Cambridge passou a ser ofuscada por suas roupas largas e ossos à mostra, despertando a discussão sobre até onde deve-se ir com uma dieta
Em fotos recentes, Kate Middleton tem aparecido com uma silhueta quase irreconhecível, principalmente se for comparada à jovem atlética, com músculos bem delineados, de antes do casamento com o príncipe William, em abril deste ano. De tão magra, a duquesa de Cambridge está até sendo 'elogiada' em blogs de jovens anoréxicas. A imprensa inglesa chegou a especular que o motivo desse perfil quase esquelético: seria resultado da rigorosa dieta na qual Kate mergulhou para perder uns quilinhos — como se precisasse — antes do casamento. No grande dia, a noiva pesava pouco mais de 50 quilos — bem distribuídos em seus 1,78 m de altura. Tabloides afirmam que ela conseguiu perder sete quilos nos dez meses que antecederam o 'sim'. Atualmente, ninguém sabe dizer qual o peso real da duquesa — dizem que ela está pesando 47 quilos e usando o 'size 0', o manequim americano que veste modelos magérrimas com cinturas de, em média, 60 centímetros.Como criticar, no entanto, uma mulher que deseja eternizar no álbum de fotos uma aparência perfeita? E, se esse álbum será visto em todo o planeta, supõe-se que a cobrança com cada detalhe seja ainda mais justificável. O ritual de emagrecimento antes do caminho até o altar é quase uma regra nos dias atuais. "Em seis meses de preparativo, emagrecer vira uma obsessão. Fazem dietas malucas, tomam remédio para emagrecer, fazem lipoaspiração, plástica", diz Constance Zahn, consultora de casamentos. "Elas não chegam a ficar anoréxicas, mas já vi noiva passar mal no dia do casamento."
Há um limite - de saúde e de sensatez - nisso tudo, que muitas parecem não enxergar. E esse limite, se ultrapassado, pode comprometer seriamente corpo e mente, transformando um ideal de aparência no pesadelo da aneroxia, por exemplo.
'Cara de hospital' — O vestido dos sonhos costuma ser um dos principais culpados pelas dietas ultra restritivas adotadas pelas noivas. Foi o caso da professora de educação infantil Patrícia*, de 29 anos, que sonhava casar usando um vestido modelo sereia. "Um ano antes, tomei inibidor de apetite, fiz academia e dieta balanceada", conta Patrícia, que tinha 1,75 m e 60 quilos. "A costureira falava que não dava para apertar mais e eu dizia que não ligava de não respirar, meu único objetivo era ficar linda". Ela se casou pesando 53 quilos.
Carla*, 28, foi além. A jovem de manequim 40, 1,65 m e 58 quilos comprou um vestido número 36. "Tive muita dificuldade para achar o vestido que eu queria. Quando encontrei ele era muito menor e não fechava.Comprei mesmo assim." Na primeira prova, ela havia perdido quatro quilos; na segunda, mais dois quilos. "O dia que fui buscar o vestido, dois dias antes do casamento, havia perdido mais um quilo e o vestido precisou ser ajustado novamente." Tudo isso aconteceu entre janeiro e abril, mês do casamento. Depois do grande dia, ela perdeu mais dois quilos. "Hoje, as pessoas estão falando que eu estou muito magra. Estão pedindo para eu engordar, mas não quero", diz.
Para emagrecer, a jornalista Camila*, 28, não mastigava nenhum alimento após às 18h. Ela chegava até a ir dormir mais cedo para não sentir fome. Ela casou-se com 1,76 m e 54 quilos. "Percebi que tinha passado dos limites quando até meu marido falou que eu estava magra demais”, conta. "Mas só hoje, na verdade, que eu vejo como estava feia – magra e pálida demais. Com 'cara de hospital', como dizia minha sogra."
Vergonha de ir à academia — Outra fase da vida em que a maioria das mulheres opta por fazer loucuras em nome da perda de peso é o pós-parto. Muitas ficam ainda mais magras depois de darem à luz. Não faltam exemplos de celebridades magérrimas que — para qualquer um que esteja desatento — parecem nunca ter dado à luz. Victoria Beckham, Angelina Jolie estão no topo da lista das mamães modelos de magreza.
Preocupada com a boa forma, a arquiteta Fernanda*, 34, malhava cinco vezes por semana para perder os 12 quilos adquiridos na gravidez de gêmeos. "Estava fora de forma, coloquei uma esteira na varanda de casa porque tinha vergonha de ir na academia." Nessa época, ela corria até pingar e substituía refeições por shakes emagrecedores. Na segunda gravidez, de apenas um filho, ela não teve tantos problemas para emagrecer e voltar aos mesmos 52 quilos. Atualmente, raramente se permite sair da dieta. "Almoço dois pratos de salada para não ter que comer arroz e feijão", conta.
'Cotovelo maior que o braço' — No cenário de magreza a qualquer custo há uma armadilha para todas — princesas, plebeias, famosas ou anônimas. Ao ultrapassar os limites do bom senso, as mulheres que exageram em suas dietas podem ter mais dores de cabeça do que apenas aquela causada pela fome. Segundo Liliane Kijner Kern, psiquiatra do Programa de Orientação e Atenção ao Pacientes com Transtorno Alimentar (Proata), serviço da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 96% dos casos de anorexia começam a partir de uma dieta para emagrecer. A compulsão por emagrecer pode ser precipitada por um momento de stress — se a mulher está mudando de apartamento, se está assumindo mais compromissos profissionais, mudanças bruscas na rotina. "Vira um problema quando a própria pessoa perde a noção de que a magreza está trazendo um comprometimento para a vida dela", diz Kern.
Vale lembrar que, nem sempre, a magreza excessiva fica bem no álbum de casamento. "O exagero é tanto que algumas casam com o cotovelo mais grosso que o resto do braço", diz a consultora de casamentos Constance Zahn.
*A pedido dos entrevistados, os nomes utilizados nesta reportagem foram trocados
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