"Respeito é bom e eu gosto", diz uma das mil frases feitas - esse sutil veneno ou pontapé no estômago - que pontilham nossa sabedoria dita popular. Vale para muitos aspectos da nossa vida. Vamos ver alguns.
Escuto frequentementea queixa de mulheres de que ainda não são respeitadas como merecem, em seu trabalho ou individualmente. Primeiro, é uma questão de tempo, pois em que quase todos os terítórios da atividade humana, menos cozinhar e parir, mulheres são novidade. Ainda estamos buscando nosso jeito de trabalhar, de comandar, de usar nossa autonomia.
Certa vez, querendo me elogiar, um crítico escreveu: "(...) é uma excelente escritora, pois embora sendo mulher, escreve com mão de homem". Isso por si basta para reconhecer a carga de preconceito que sobrevive mesmo entre pessoas com certo preparo, inclusive mulheres, diga-se de passagem, que em geral são os piores juízes de outras mulheres. Se ela faz bem um trabalho (vale para juízas, reitoras, governadoras, vereadoras, motoristas de ônibus, policiais, grandes cirurgiãs etc.), é porque o faz como homem. Quantas gerações terão de passar , para que isso mude?
Esse preconceito é demorado e obstinado, e nós mulheres colaboramos com ele dando nossa melancólica parcela, por exemplo, no jeito como nos portamos, como nos vestimos, como agimos no trivial, ou quando estamos no poder, qualquer poder. Não é por nada que boa parte das propagandas de quaisquer produtos usa mulheres quase nuas ou em trejeitos sensuais: vende, dá ibope, dá vontade de comprar ... o que é um modo de poder. Falo com certa frequência na psicóloga que atende seus pacientes de minissaia ou profundos decotes, e digo que , lidando com a alma desses pacientes, a roupa não parece muito adequada. Nada contra a peça de roupa, desde que num corpo adolescente: adolescentes ainda não atendem pessoas com problemas psicológicos.
Enquanto nos portarmos feito crianças pouco inteligentes, ou enquanto nosso maior trunfo forem nádegas firmes, fica difícil reclamar que não nos respeitam o bastante. Estarei dando muito valor e exterioridades como saia, jóias, trejeitos? Estou. A aparência é nosso primeiro cartão de visita dizendo coisas como: eu me acho linda, eu sou sensual, estou consciente disso. O segundo cartão é a linguagem: se eu não sei nem articular direito meu pensamento falando ou escrevendo, não vou ser um grande candidato a um emprego razoável, pelo menos um cargo em que eu precise pensar ... e falar.
Pais também se queixam de que os filhos não os respeitam. Um bom começo de diálogo é indagar como eles, pais, se portam em casa. Gentis um com o outro, com empregadas, com os filhos - ou a gente acha que dentro da porta da casa, com os filhos, vale tudo, até grosseria e falta de compostura? O comportamento das crianças e adolescentes e seus conceitos sobre o mundo (eles os têm desde cedo, não se iludam!) refletemsua casa. Um pouco incômodo: querendo ou não, somos seus primeiros modelos, e eles percebem muito bemo que é natural e o que é fingido em nós.
Isso se estende para a escola, onde professores suportam violência verbal e física, agressividade, má-educação, hostilidade por parte de alguns alunos - não todos, possivelmentenem a maioria. Se pudéssemos pesquisar a vida familiar dessa meninada, com frequência iríamos constatar que ela apenas reproduz ou continua, na rua, no pátio da escola e na sala e aula, o tratamento que predomina em sua casa. Lá, talvez, os filhos não conehçam limites ou, quem sabe, o pai é do tipo que aprecia um coronelismo ultrapassado.
Observo muita gente, e não só jovens, dando de ombros ou rindo ao assistir a uma entrevista de alguns dos nosos líderes(ou escutando belas frases sobre ética): também na vida pública, o respeito tem de ser conquistado e merecido. Sendo humanos, homens, mulheres e criança, somos ainda animais predadores, querendo ocupar espaço a patadas. Se pudermos, em vez de falar, rosnamos; em lugar de curtir, cuspimos em cima. A gente precisa ser domesticado desde o dia em que nasce.
por Lya Luft Revista Veja
RESPEITO. Será que hoje em dia realmente sabemos o significado dessa palavra? Ou estamos na era do "cada um por si e Deus por todos", onde tratamos as pessoas bem por conveniência e não por que seria essa a coisa certa a se fazer. A constante e crescente exposição às influências externas torna difícil a tarefa de preservar a estabilidade das identidades das pessoas e livres dos valores e ideais do mundo globalizado e capitalista em que vivemos. Sejam através dos meios de comunicação ou pelas interações cotidianas,no mundo “pós-moderno” a imagem tem prevalecido, com o advento das novas tecnologias que atravessa permanentemente a nossa existência.
Os homens foram obrigados a acompanhar as mudanças pelas quais o mundo passou nas últimas décadas e que modificaram principalmente o modo de viver das mulheres (a inserção delas no mercado de trabalho, nos espaços de poder e outros). Mudanças em seus papéis, valores e identidades construídos ao longo de séculos, que podem estar determinando uma crise identitária e promovendo uma transição nem sempre tranquila. O preconceito contra as mulheres será assunto discutido sempre, pois ele se mascara, mais está presente em todos os setores , desde o mais simples trabalho a mais alta esfera pública, no mais terno dos relacionamentos até nos mais conservadores casamentos...enfim... respeito não deveria ter gênero sexual, raça, cor, idade.. o que as pessoas devem ter em mente que essa palavra de 3 sílabas pode fazer toda a diferença em suas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário