Só mesmo Chico Buarque pra falar de amor...e de desamor.
Chico canta músicas que fala do fim de um amor, de uma relação. Embora o mesmo tema e a mesma sensibilidade poética descomunal, elas tocam o assunto de maneira oposta.
Em "Pedaço de mim", o amor ou o objeto de amor é, como o próprio nome da música, uma parte da pessoa que o ama, tamanha importância, tamanha sintonia. A perda dele é comparada a um exílio, à morte de um filho, à perda de parte do corpo, revés de um parto, tormento, castigo, mortalha. O sentimento constante é uma saudade profunda, fica claro o sofrimento pela perda do outro. Ainda há amor, mas traz sofrimento ("a mortalha do amor"), por isso há também um pedido claro para que a pessoa amada se afaste de vez, na esperança de que o tormento diminua: "Leva o teu olhar"; "Leva os teus sinais"; "Leva o vulto teu"; "Leva o que há de ti"; "Lava os olhos meus".
Na sequencia deste post assista:
De maneira bem geral, é possível que quando uma pessoa "é terminada", ou seja, o outro que termina o namoro/casamento, o sentimento predominante é o de Pedaço de Mim. É uma situação de súbita e intensa perda de reforço positivo: nada que eu faça agora vai produzir que ele me reforce, ele se foi, o barco não vai atracar mais no cais.
Quando a própria pessoa termina (Eu bato o portão sem fazer alarde) , principalmente por ter sido muito machucada, ou por ter percebido muita incompatibilidade na relação, o sentimento combina mais com Trocando em Miúdos. "E a leve impressão de que já vou tarde" traduz um começo de sensação de alívio, isto é, efeito de reforço negativo, em que eliminou o outro que estava lhe fazendo mal.
Agora, sendo um pouco mais realista, o que é mais freqüente é uma mistura das sensações. Amamos uma pessoa porque ela faz coisas que reforçam as coisas que nós fazemos. Como isso ocorre vai variar de infinitas maneiras e em vários níveis - quando recebemos carinho, quando somos ajudados, quando nos sentimos fisicamente atraídos, quando temos afinidade para fazer coisas juntas, e assim por diante. Ocorre que há diferenças individuais, e a relação de casais é uma relação social, em que predomina reforço intermitente. Isso tanto pode aumentar a coesão e a procura de um pelo outro, como criar situações de não-compatibilidade. O que eu quero ele não quer. O que eu quero ele não gosta. O que eu gosto ele critica. O casal se desfaz quando esse lado começa a pesar demais na balança e não pode ser solucionado. E mais: quando o que cada um quer começa a ser obtido em outras interações sociais, mais do que na própria interação do casal.
Quando a relação acaba, completamente contra a sua vontade, resta o desamparo. O caminho natural (mas não fácil) é, aos poucos, buscar reforçadores "em outro lugar", fazer coisas, conhecer pessoas, resgatar amigos, enfim, estar com quem poderá reforçar seus comportamentos novamente.
Porém, é muito comum que um ou ambos busquem o término. Isso não deveria ser interpretado como uma relação que nunca funcionou, mas que não está mais funcionando satisfatoriamente. Quando acaba e ambos concordam ser a melhor solução, o sentimento que fica é misto: saudade dos momentos bons, alívio por eliminar os momentos ruins.
Lembrar dos momentos bons faz muitos casais permanecerem juntos, aguentando as arguras. Ou faz terminarem e sentirem - como nas duas músicas do Chico - muitas saudades
Chico canta músicas que fala do fim de um amor, de uma relação. Embora o mesmo tema e a mesma sensibilidade poética descomunal, elas tocam o assunto de maneira oposta.
Em "Pedaço de mim", o amor ou o objeto de amor é, como o próprio nome da música, uma parte da pessoa que o ama, tamanha importância, tamanha sintonia. A perda dele é comparada a um exílio, à morte de um filho, à perda de parte do corpo, revés de um parto, tormento, castigo, mortalha. O sentimento constante é uma saudade profunda, fica claro o sofrimento pela perda do outro. Ainda há amor, mas traz sofrimento ("a mortalha do amor"), por isso há também um pedido claro para que a pessoa amada se afaste de vez, na esperança de que o tormento diminua: "Leva o teu olhar"; "Leva os teus sinais"; "Leva o vulto teu"; "Leva o que há de ti"; "Lava os olhos meus".
Na sequencia deste post assista:
Trocando em Miúdos também conta uma separação. Chega a admitir saudade, o peito dilacerado, ficando aquela sensação de que ainda se gosta da pessoa amada e, igualmente à outra música, não se quer mais sofrer. Mas aqui Chico conta de uma história (há quem diga que ele escreveu quando terminou o casamento com a Marieta Severo) que já não dava mais certo, com rancor e desprezo, alfinetando-a a cada fim de frase: devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu. Fica clara a consciência de que o casal não é mais compatível. Trocando em miúdos, isto é, para ser bem claro: fique com o lar, os lençóis, as lembranças, a aliança, que eu não faço mais questão dessas coisas nem de saber o que fará com elas ("você pode empenhar ou derreter").
De maneira bem geral, é possível que quando uma pessoa "é terminada", ou seja, o outro que termina o namoro/casamento, o sentimento predominante é o de Pedaço de Mim. É uma situação de súbita e intensa perda de reforço positivo: nada que eu faça agora vai produzir que ele me reforce, ele se foi, o barco não vai atracar mais no cais.
Quando a própria pessoa termina (Eu bato o portão sem fazer alarde) , principalmente por ter sido muito machucada, ou por ter percebido muita incompatibilidade na relação, o sentimento combina mais com Trocando em Miúdos. "E a leve impressão de que já vou tarde" traduz um começo de sensação de alívio, isto é, efeito de reforço negativo, em que eliminou o outro que estava lhe fazendo mal.
Agora, sendo um pouco mais realista, o que é mais freqüente é uma mistura das sensações. Amamos uma pessoa porque ela faz coisas que reforçam as coisas que nós fazemos. Como isso ocorre vai variar de infinitas maneiras e em vários níveis - quando recebemos carinho, quando somos ajudados, quando nos sentimos fisicamente atraídos, quando temos afinidade para fazer coisas juntas, e assim por diante. Ocorre que há diferenças individuais, e a relação de casais é uma relação social, em que predomina reforço intermitente. Isso tanto pode aumentar a coesão e a procura de um pelo outro, como criar situações de não-compatibilidade. O que eu quero ele não quer. O que eu quero ele não gosta. O que eu gosto ele critica. O casal se desfaz quando esse lado começa a pesar demais na balança e não pode ser solucionado. E mais: quando o que cada um quer começa a ser obtido em outras interações sociais, mais do que na própria interação do casal.
Quando a relação acaba, completamente contra a sua vontade, resta o desamparo. O caminho natural (mas não fácil) é, aos poucos, buscar reforçadores "em outro lugar", fazer coisas, conhecer pessoas, resgatar amigos, enfim, estar com quem poderá reforçar seus comportamentos novamente.
Porém, é muito comum que um ou ambos busquem o término. Isso não deveria ser interpretado como uma relação que nunca funcionou, mas que não está mais funcionando satisfatoriamente. Quando acaba e ambos concordam ser a melhor solução, o sentimento que fica é misto: saudade dos momentos bons, alívio por eliminar os momentos ruins.
Lembrar dos momentos bons faz muitos casais permanecerem juntos, aguentando as arguras. Ou faz terminarem e sentirem - como nas duas músicas do Chico - muitas saudades
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