8.28.2011

Se Inglaterra e EUA proibem a sibutramina porque o Brasil irá permitir o uso

Decisão de liberar droga sibutramina para emagrecer desagrada à Câmara de Medicamentos

A polêmica sobre a liberação da sibutramina - um dos remédios receitados no tratamento de obesidade mais vendidos no país - continua, a poucos dias de uma decisão final da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o tema. Depois que, na semana passada, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou nota pública na qual alertava a sociedade e os profissionais de saúde sobre os riscos de uma possível suspensão do comércio de inibidores de apetite no país, técnicos da Anvisa se mostraram favoráveis à venda da droga, porém com mais restrições. Só que esta hipótese não agrada a membros da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme) da própria agência, o que estaria gerando um impasse.
A ideia da Anvisa seria proibir apenas as drogas dietilpropiona, femproporex e mazindol, todos anorexígenos e classificados como psicotrópicos, uma vez que agem no Sistema Nervoso Central e podem causar dependência. Já a sibutramina reduz a vontade de comer promovendo o aumento da saciedade. O CFM defende a realização de campanhas educativas com foco no médico e nos pacientes. Segundo o órgão, essa seria uma forma de "assegurar o uso racional deste tipo de medicamento, sem necessidade de proibir sua comercialização no país". Mas a Anvisa ainda não decidiu o que fazer.
No início do ano, a posição da Anvisa era de cancelar o registro de todos os medicamentos que contêm sibutramina. Hoje estima-se que 1 milhão de brasileiros tomem sibutramina, cuja venda nos Estados Unidos e na Europa foi proibida depois que estudos revelaram o aumento de problemas cardiovasculares entre os usuários. Pesquisa publicada no "New England Journal of Medicine", que acompanhou dez mil pacientes em 16 países revelou que houve aumento de 16% do risco de complicações cardiovasculares entre os pacientes que tomavam sibutramina.
O endocrinologista Marcio Mancini, chefe do grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da FMUSP, explica que a sibutramina não é eficaz para todos os pacientes. Mas afirma que a Cateme tem "uma visão viciada e preconceituosa contra todos os remédios e se mostrou surda às evidências científicas".
- Suspender a comercialização dos anorexígenos não é condizente com a postura inicial. Esses remédios estão no mercado há 40 anos ou mais. Percebe-se pelas incertezas e mudanças de postura que eles realmente não entendem do assunto, mas não querem dar o braço a torcer e precisam proibir alguma coisa para não saírem derrotados dessa batalha - diz Mancini. - Os sacrificados com tudo isso serão os pacientes obesos. O Ministério da Saúde gastará mais e mais com remédios para diabetes e hipertensão, entre outras coisas.
Alfredo Halpern, professor livre-docente da Faculdade de Medicina da USP, aprova a possível liberação da sibutramina, com mais rigor na sua prescrição; que, na sua opinião, deveria se estendida a outras classes de medicamentos.
- A Cateme é formada por médicos sérios e competentes, mas sem experiência em tratamento de obesidade. A proibição total da sibutramina deixaria os médicos e pacientes de mãos atadas.
Em nota técnica, a Anvisa chegou a dizer que a sibutramina apresenta baixa efetividade de redução de peso e pouca manutenção de perda de peso em longo prazo. Segundo especialistas, pessoas que fazem dieta, se exercitam e tomam a sibutramina alcançariam uma diminuição de peso média equivalente a 5% a 6% de sua massa corporal. Sem o uso da droga, a perda média seria de 3%. Agora parece que a droga será liberada com mais restrições.
A sibutramina foi desenvolvida nos anos 80 como um antidepressivo, porque atua em regiões do cérebro que controlam o humor, a sensação de bem-estar, além do apetite. A droga também age aumentando o gasto calórico do paciente em situações de repouso. O remédio não é indicado em várias situações: pacientes em uso de anorexígenos, descongestionantes, sedativos da tosse; histórico de anorexia nervosa ou bulimia; com glaucoma, hipertensão, doença cardíaca, convulsões, derrame, entre outros. E pode causar efeitos adversos como amnésia, insônia, vertigem, ansiedade, depressão, dor de cabeça e taquicardia. De acordo com o IBGE, 12,5% dos homens e 16,9% das mulheres sofrem de obesidade.
O globo

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