'Jane', que não revela a própria identidade, quis desmistificar as imagens de fetos mortos usadas para critica procedimento
Sem o conhecimento da clínica, a americana registrou, através de seu celular, imagens do aborto de seu bebê, então com seis semanas.
"Quando entrei no hospital, manifestantes contra o aborto aglomeravam-se na entrada segurando cartazes de fetos mortos. Aquelas imagens grotescas me chocaram de tal maneira que eu me senti pessoalmente agredida, triste e violada", disse ela à BBC Brasil.
"Então, enquanto esperava pela minha vez, eu comecei a pensar na aparência do meu aborto. Foi então que decidi tirar as fotos", acrescentou.
Para sua surpresa, conta Jane, as imagens não eram semelhantes às dos cartazes dos manifestantes.
Com o propósito de mostrar às mulheres uma nova "perspectiva" sobre o aborto, ela decidiu, logo em seguida, montar uma página na internet na qual postou as fotos.
"Espero que isso sirva de contribuição para uma maior educação sobre o aborto. Acredito que as pessoas têm o direito de receberam a educação e informação adequadas", afirmou.
Repercussão
Em menos de 48 horas, Jane recebeu milhares de comentários, de vários lugares do mundo, apoiando sua decisão. Uma "pequena parcela", entretanto, disse ela, criticou a divulgação das fotos, alegando que "uma vida em potencial foi tirada".
"Ainda que não concorde com isso (o protesto contra o aborto), as críticas também fazem parte do diálogo. Mas, no geral, fiquei surpresa com a quantidade de homens e mulheres que escreveram sobre suas histórias pessoais, contando suas vidas, experiências médicas e opiniões", afirmou.
"São histórias de pessoas de todo os lugares do mundo, de diferentes idades e classes sociais. Nunca poderia imaginar que havia tanta gente partilhando uma mesma experiência (o aborto) e que viveu em completo isolamento. Tudo isso é verdadeiramente gratificante", acrescentou.
Jane também contou que recebeu total apoio do pai da criança e de sua mãe, quem já havia abortado um bebê na década de 1970, quando a polêmica nos Estados Unidos era muito maior.
"Decidi não ter um bebê porque simplesmente não estava preparada para ser mãe. Desde o início, já estava certa de que não queria levar adiante a gravidez, porque sabia que não poderia dar a meu filho o que ele mereceria. Infelizmente, não havia outra opção", contou ela à BBC Brasil.
"O pai da criança sabia da gravidez e me apoiou do início ao fim. Ele é um homem incrível, um amigo leal, e acredita que é direito da mulher escolher o que é melhor para seu corpo e sua vida", disse.
"Já minha mãe também me deu o suporte necessário. Ela ficou feliz de que eu teria acesso a uma infraestrutura hospital segura e limpa, além de ser tratada por especialistas", acrescentou.
Debate
Segundo Jane, seu objetivo, a partir de agora, foi abrir um espaço para a discussão de ideias sobre um tema polêmico.
"No fundo, esse projeto não é sobre mim. Trata-se de uma comunidade muito maior de mulheres que viveram as mesmas experiências e hoje podem dividir uma mesma estória", concluiu.
Desde 1973, o aborto é legalizado em todos os 50 estados americanos, mas continua dividindo opiniões.
Uma pesquisa da consultoria Gallup, feita em maio do ano passado, apontou que 49% dos americanos era a favor da "escolha" das mulheres, enquanto 46% se mantinham contra a prática.
BBC Brasil
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