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6.10.2010
DOR CRÔNICA
Autônomos e donas de casa estão entre os que mais têm dor crônica
Pesquisa da USP ouviu 2.446 pessoas na capital paulista.
Bairros periféricos são os mais afetados pelo problema.
Aposentados e pessoas que trabalham em casa ou por conta própria – tanto autônomos quanto donas de casa – são os grupos que mais sofrem com a dor crônica na cidade de São Paulo, revela uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (10) pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
Os cientistas ouviram 2.446 paulistanos por telefone, e descobriram que 28% da população com mais de 18 anos se queixa de dores – ou sensações estranhas, como choques, pontadas ou formigamentos – que persistem por mais de três meses.
Segundo a pesquisadora da USP Maria do Rosário Latorre, que liderou o estudo, quem trabalha por conta própria corre mais risco de sentir dores porque não tem orientação sobre posturas corretas.
"Uma das hipóteses que levantamos é que essas pessoas exercem atividades que exigem muito esforço físico, mas não estão preparados para isso. É o caso dos pedreiros, mecânicos, encanadores".
De acordo com ela, o mesmo ocorre com a dona de casa, que tem que carregar peso ou trabalhar em situações desconfortáveis, como na hora de estender a roupa. Já entre os aposentados, o desgaste natural do corpo, somado a muitos anos de atividades prejudiciais, são causadores de dor.
Mapa dor crônicaMapa da cidade de São Paulo mostra em vermelho as
áreas onde a população mais reclama de dores crônicas
(Foto: Divulgação)
Escolaridade
A pesquisa também constatou que a dor crônica é menor em quem tem estudou mais. Enquanto o problema atinge 33,7% dos adultos analfabetos, apenas 23,5% dos que estudaram 15 anos ou mais sofre com dores crônicas.
Quando observaram as regiões de São Paulo onde há mais registro de dor, os cientistas descobriram que as regiões mais próximas à periferia são mais atingidas. O bairro onde há mais reclamações é Aricanduva (67,4% dos adultos), seguido de Socorro (65,9%) e Cachoeirinha (52,1%).
De acordo com a pesquisadora, além de serem locais onde há uma porcentagem maior de pessoas com menor escolaridade, o desconforto do transporte público, utilizado por períodos mais longos para chegar ao trabalho, pode ser um dos causadores da dor.
Obesidade
A maior parte das pessoas ouvidas pela pesquisa reclamou de dores nas pernas e pés (22%), nas costas (21%), no peito (17%) e na cabeça (15%). Segundo os cientistas, esses números são efeito da obesidade. "Mais da metade das pessoas que reclamaram de dores nos membros inferiores tinham sobrepeso", explica Maria.
Entre os obesos entrevistados, 32,6% sofria de dores crônicas, enquanto o problema atingia 21,6% das pessoas consideradas desnutridas.
Iberê Thenório
G1, em São
Saiba Mais
Apesar dos notáveis avanços no campo da farmacologia, modernas técnicas diagnósticas e recursos terapêuticos, a prevalência da dor crônica tem aumentado progressivamente. No Brasil, cerca de 50 milhões de pessoas padecem de algum tipo de dor. É o principal motivo de procura por assistência de saúde, sendo considerado hoje um sério problema de saúde pública.
Dor crônica é aquela que perdura por meses e até anos causando altos níveis de stress emocional que, com o tempo prejudica seriamente o psiquismo e produz conseqüências desastrosas na vida das pessoas.Causa impacto negativo sobre muitas doenças e sua recuperação clínica. A dor é considerada hoje uma porta de entrada para muitos distúrbios físicos e psicológicos.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento da dor em nosso meio. O próprio desenvolvimento tecnológico na área da saúde tem permitido o aumento da longevidade e a sobrevida de muitas pessoas portadoras de doenças graves, até a pouco, consideradas fatais. Nos últimos 10 anos, a idade média subiu mais de 6%. Mas, apesar das pessoas viverem mais anos, sua qualidade de vida não tem sido necessariamente melhor. A dor crônica em idosos aumenta a cada dia, atingindo sua prevalência máxima em torno dos 65 anos.
Algumas características do nosso ambiente físico, nem sempre ergonômico, cheio de barreiras arquitetônicas que atentam contra a boa postura, mobilidade e segurança das pessoas, como nossas calçadas públicas por exemplo, provocam acidentes e estimulam a cronificação da dor física.
Alterações nos hábitos de vida como má alimentação e sedentarismo respondem pelo aumento da obesidade e consequentemente da dor. Carga horária de trabalho excessiva, competitividade profissional, dificuldades econômicas e familiares, falta de lazer, solidão afetiva e tantas outras condições estressantes de vida, também podem contribuir para o aumento da dor crônica.
As principais conseqüências psicológicas da dor crônica são angústia, ansiedade, medo, raiva, irritabilidade, tristeza, depressão, desconfiança, mudança na percepção corporal, diminuição da auto-estima e sentimento de rejeição social e profissional. Além disso, o sofrimento pela dor prolongada pode alterar o sistema de crenças, gerando sentimento de desamparo e preocupações em relação ao futuro. Restringe ou impede a atividade física, dificulta o convívio familiar e social, inibe o interesse e a prática sexual, piora a qualidade do sono, agravando a condição geral de saúde que, por sua vez, compromete a percepção e o manejo da dor, além de agravar doenças pré-existentes e reduzir a imunidade do organismo. Por todas essas razões, a eficácia dos tratamentos da dor crônica não é fácil.
A forte presença de fatores emocionais em alguns quadros dolorosos crônicos representa uma das dificuldades para seu diagnóstico e tratamento. O que ocorre é que quando se convive por longo tempo com a dor física, a pessoa pode desenvolver conflitos mentais e emocionais que, por sua vez, determinam alguns comportamentos e atitudes que contribuem para piorar a dor e dificultar seu tratamento.Convém lembrar que a dor é sempre uma experiência humana de sofrimento, carregada de significados subjetivos que precisam ser compreendidos e que variam de pessoa para pessoa. Porém, toda dor é sempre uma dor psicológica. É a representação mais profunda do sofrimento humano. Se as agressões ao corpo provocam dor, feridas na alma também. Não se pode separar a dor física da dor moral e psíquica.
No entanto, reconhecer a presença e o papel dos aspectos emocionais na origem e agravamento da dor nem sempre é possível. Pode ocorrer um sentimento de adaptação e até mesmo dependência dos sintomas dolorosos. Apesar do sofrimento, a dor física muitas vezes representa uma importante forma de expressar a dor afetiva. Além disso, estímulos ambientais familiares e profissionais desfavoráveis também podem perpetuar a dor crônica.
Por isso, não basta apenas compreender e eliminar o sintoma da dor, é importante ouvir e entender a pessoa que sente a dor, como ela percebe sua dor e ajudá-la a lidar melhor com seus sentimentos e atitudes.
* Maria da Graça Rodrigues Bérzin
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