6.06.2010

Aumenta consumo de estimulantes pelos jovens alunos

Jovens recorrem a suplementos ou mesmo a medicamentos da família das anfetaminas para estudar melhor.

A venda de suplementos para aumentar a concentração e a memória disparou: nos últimos 12 meses venderam-se quase 525 mil embalagens, mais 66% que há dois anos. Aumentou também o consumo de psicoestimulantes, medicamentos prescritos para tratar doenças como défice de atenção e hiperactividade, sendo que muito clínicos receiam que os jovens tomem também estes remédios para estudar.

Segundo dados da consultora IMS Health avançados ao DN, o consumo de psicoestimulantes como metilfenidato e modafinil (substâncias da família das anfetaminas, que estão na base de medicamentos como Modafinil e Modiodal , Ritalina, Concerta ou Rubifen)subiu 34% nos últimos dois anos.

"Tenho ideia que já há muitos alunos em Portugal a tomar estas substâncias, embora não tenha números. As anfetaminas são dos produtos mais usados, porque estimulam a atenção", explica o psicólogo clínico Carlos Lopes Pires, especialista em farmacologia.

"No meu tempo, há 30 anos, tomavam anfetaminas, agora usam os medicamentos derivados de anfetaminas, que fazem o mesmo efeito", indica António Vaz Carneiro, do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência.

Um passeio rápido pelos fóruns na internet mostra a quantidade de dúvidas dos alunos da faculdade e até do secundário sobre estas "soluções" em vésperas de exames: dos suplementos aos medicamentos, procuram-se formas de superar o cansaço e a ansiedade.

"Aparecem-me alguns jovens muito ansiosos, porque são épocas em que está muito em jogo na vida deles. A ansiedade funciona como um motor, mas também pode ser um bloqueio. Se estiverem muito ansiosos posso receitar um ansiolítico, mas nada mais do que isso", diz a neurologista Helena Coelho. Mas a médica reconhece que se "consome de tudo menos bom senso".

"Aqueles medicamentos, como as anfetaminas, dão-lhes a sensação que aprendem melhor, mas é uma ilusão. É um doping mental que aumenta a memória de curto prazo, mas não há nenhum estudo que demonstre um aumento da capacidade cognitiva", explica Vaz Carneiro. "O problema é que quando passa o efeito esquecem tudo o que estudaram", acrescenta Carlos Lopes Pires.

Além disso, há o risco de habituação. "Se são tomadas por um espaço de tempo curto - uma semana - à partida não cria habitação. Mas depende das pessoas". E os efeitos para a saúde "podem ser devastadores": desde problemas graves no fígado a surtos psicóticos. "As pessoas podem ficar muito eufóricas por causa da energia das anfetaminas e depois passarem por estados depressivos, porque sentem falta dessa energia", conclui o psicólogo.

Ou seja, a inteligência não vem em comprimidos, ao contrário do que o marketing nos faz pensar, alerta Vaz Carneiro. "A solução é trabalhar e estudar muito." Mas se os dados das vendas dos "inofensivos" suplementos forem vistos de mês a mês, nota-se que há um pico em Outubro, mês de regresso às aulas, e outro em Abril, quando se aproximam os exames finais (ver infografia). Para os especialistas, os suplementos vitamínicos têm um efeito placebo. "Não aquecem nem arrefecem, não fazem efeito numa pessoa que não tenha problemas porque consegue ter esses nutrientes através da alimentação", indica Carlos Lopes Pires.

Tags: Portugal
por PATRÍCIA JESUS e ANA BELA FERREIRA

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