'Ser gordo parece defeito de fábrica', diz mulher que largou emagrecedor
Ângela Campos chegou a tomar dois remédios, mas hoje busca exercícios.
Ângela Maria do Couto Campos já fez todo tipo de dieta e gastou muito dinheiro com remédios para tentar emagrecer. “Ser gordo parece defeito de fabricação”, disse a comerciante, que mora em Belo Horizonte e preferiu não comentar o peso atual.
Aos 43 anos, Ângela afirma que já não se preocupa tanto com o corpo como na juventude. “Hoje, olho para o espelho e penso: ‘Quer, quer; não quer, não quer!’ Já curti muito a vida”, diz.
(Série 'Emagrecedores: sim ou não? O G1 publica nesta semana reportagens com exemplos de pessoas que lutam contra a obesidade, com ou sem a ajuda de remédios moderadores de apetite)
Após sessões de terapia, Ângela diz que passou a acreditar que “remédio não resolve nada”. Nesta segunda (10), o governo federal publicou no Diário Oficial da União a proibição de três emagrecedores e a exigência de maior controle sobre a sibutramina.
“Respeito minha condição física. Eu sou gorda. Isso é uma agressão, querer ser o que não sou. Não sou o tipo de pessoa que nasceu magra e foi engordando por algum motivo. Meu biotipo é de gordinha. Quem nasce gordo e quer ser magro é contra a lei da natureza. Não adianta querer ser uma Barbie”, afirma.
Para manter a saúde em dia, a comerciante caminha cerca de uma hora, quatro vezes por semana. “Se emagrecer, é lucro”, destaca. Ângela, que é divorciada e tem dois filhos, diz que não sente necessidade de acompanhamento médico, nem de um nutricionista.
Para a comerciante, a inquietação com a aparência começou cedo. Ela conta que tem seis irmãos e que eles sempre foram divididos em grupos de gordos e magros. “Todo mundo pensava: ‘Coitados dos gordinhos’”, revela.
Aos 20 anos, quando conheceu o ex-marido, Ângela tinha acabado de perder 30 quilos em quatro meses. O “milagre” foi um tratamento de injeções intramusculares, que ficou famoso por volta de 1978 na capital mineira. “Com esse eu emagreci, fiquei linda, puro osso”, diz.
Na época, Ângela compareceu por um mês ao consultório e tomou uma injeção diária de uma substância que ela desconhecia. “Eu ia lá, ficava 15 minutos e ia embora. A sala lotava”, relembra. “A injeção que ele dava no músculo queimava gorduras. Era caro, mas emagreci. Era o boom da época. Se ele estivesse vivo [o médico], eu iria lá de novo”, confessa.
Antes dessa tentativa, Ângela já havia apostado nas dietas da Lua e da proteína, que não foram muito eficazes, segundo ela. Durante o primeiro tratamento, a comerciante conta que tomava apenas líquidos nos sete dias da fase da Lua minguante. “Emagreci mixaria”.
Já ao experimentar a dieta da proteína, Ângela conseguiu perder de cinco a seis quilos, mas também não aprovou o método. “Sentia uma fraqueza muito grande. Ficava nervosa. Não podia comer carboidrato, então comia carne, carne, carne”, conta.
Depois dessas tentativas, a comerciante recorreu a remédios e já chegou a tomar sete comprimidos com vários compostos manipulados em um dia. “É uma forma rápida de emagrecer, é o milagre”, disse. No início, ela ficou satisfeita com o efeito. “Você olha para a comida e ela não olha para você”, completa.
Após perder alguns quilos, Ângela conta que começou a “pensar com cabeça de magro” e que, além de voltar a engordar, passou a gastar muito dinheiro com acessórios que não podia usar antes. “O consumismo é muito grande. O magro pode comer tudo, comprar roupas. Qual gordo não quer fazer isto: entrar na loja e ver que a roupa serve?”, questiona.
A comerciante diz que já chegou a tomar os remédios femproporex e sibutramina ao mesmo tempo. “O médico fazia uma receita no meu nome e outra no nome do meu irmão”, relata. Segundo ela, a longo prazo, o resultado dos comprimidos foi negativo, pois trouxe sintomas de depressão. “Você seca, você fica linda, mas fica uma linda triste. Você cabe em qualquer roupa, mas sem vontade de viver”, observa.
Ela diz que, durante uma das crises depressivas, acabou se divorciando. “Um problema simples se torna terrível. Não parava de chorar um minuto. Na hora em que você percebe, começa a ver que tem força para vencer. Na terapia, entendi que o remédio não faz milagre”, diz.
Além disso, Ângela contou que a cada vez que ia ao médico, voltava com mais caixas de remédios. “Você vai ao médico e ele pergunta: 'Você está se sentindo bem?' Aí você fala que não está conseguindo dormir, que está nervosa, com o intestino preso. Então o médico 'joga' outros remédios”.
Para ela, a restrição a emagrecedores não vai ser eficiente. “O gordo vai achar em outro lugar. Esse mercado é muito lucrativo”, aponta.
Atualmente, Ângela se diz menos insatisfeita com a aparência. “Sou vaidosa, gosto de estar bonita, chamar a atenção. Não me escondo no ‘gordo’. Estou com 43 anos, mas até me acho gostosinha”, brinca.
Proibição não funciona
Para a nutricionista Cynthia Antonaccio, o caso de Ângela mostra como dietas baseadas na proibição não trazem efeitos duradouros. ”A pessoa pode até perder peso, mas não aprende a comer”, diz a especialista, diretora do Grupo Equilibrium, voltado para saúde e nutrição. “Não existe alimento bom ou ruim, o que importa é o conteúdo total da dieta.”
Ao pensar sobre as tentativas para emagrecer, Ângela mostra que não acredita em milagre. Um diagnóstico parecido com o da nutricionista. “A dica é: já que você testou todas as dietas, desista. É preciso ter disciplina para comer”, destaca Cynthia. “Estabelecer horários para a alimentação, não comer a toda hora e colocar porções adequadas.”
Os remédios também não podem servir de fórmula “mágica” para reduzir o peso. “Não sou contra os medicamentos, mas hoje o uso é muito abusivo. Tem gente que sai com receita após 10 minutinhos de consulta”, diz. “O remédio é algo para ser usado temporariamente e junto com as técnicas de nutrição. Nunca vai substituir a boa alimentação.”
Uma alimentação ideal deve contar com horários regulares. “É sempre bom tentar manter a rotina de café da manhã, almoço e jantar, com lanchinhos entre eles”, explica Cynthia. “As pessoas precisam saber fazer escolhas mais adequadas e consumir grupos de alimentos menos calóricos. Curtir uma boa salada, uma boa fruta", recomenda a nutricionista.
O médico Antonio Roberto Chacra, professor de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tem uma avaliação parecida sobre dietas como a da Lua. “Muitas vezes, aparecem dietas malucas com o mesmo princípio, que é comer menos uma vez por semana. Você emagrece, mas recupera o peso facilmente”, diz.
Chacra afirma que a depressão que Ângela sentiu com os remédios é um efeito conhecido. “Depressão é normal, não só como efeito colateral. Ela pode ser também a causa da obesidade”, explica.
Para o especialista (em receitar remédios), os emagrecedores ajudam, sim, a perder peso – desde que sejam prescritos por um médico de confiança (confiança de quem), seguindo critérios rigorosos. Além disso, não é para tomar o remédio para sempre. (me engana que eu gosto). A medicação deve ser apenas um primeiro impulso – depois, o próprio paciente precisa aprender a controlar sua alimentação.
“Há casos em que os remédios se justificam, sem dúvida. Mas têm que ser prescritos por um endocrinologista, com critério. Não pode ficar tomando direto,” ( Que boa explicação)
Para ele, a reeducação alimentar é fundamental. “O efeito passa depois que a pessoa para de tomar o remédio, então ela sempre quer voltar e acaba se viciando,” diz. “A prevenção passa pela mudança do estilo de vida.”
(* Colaboraram Mário Barra e Tadeu Meniconi, do G1 em São Paulo)
Com observações de "boaspraticasfarmaceuticas"
Aos 43 anos, Ângela afirma que já não se preocupa tanto com o corpo como na juventude. “Hoje, olho para o espelho e penso: ‘Quer, quer; não quer, não quer!’ Já curti muito a vida”, diz.
(Série 'Emagrecedores: sim ou não? O G1 publica nesta semana reportagens com exemplos de pessoas que lutam contra a obesidade, com ou sem a ajuda de remédios moderadores de apetite)
Após sessões de terapia, Ângela diz que passou a acreditar que “remédio não resolve nada”. Nesta segunda (10), o governo federal publicou no Diário Oficial da União a proibição de três emagrecedores e a exigência de maior controle sobre a sibutramina.
“Respeito minha condição física. Eu sou gorda. Isso é uma agressão, querer ser o que não sou. Não sou o tipo de pessoa que nasceu magra e foi engordando por algum motivo. Meu biotipo é de gordinha. Quem nasce gordo e quer ser magro é contra a lei da natureza. Não adianta querer ser uma Barbie”, afirma.
Para manter a saúde em dia, a comerciante caminha cerca de uma hora, quatro vezes por semana. “Se emagrecer, é lucro”, destaca. Ângela, que é divorciada e tem dois filhos, diz que não sente necessidade de acompanhamento médico, nem de um nutricionista.
“Quando o gordo se assume, começa a fazer refeições regularmente e a saúde melhora. Você passa a se policiar, não o remédio”. Ângela diz que, no caso dela, não vale mais a pena pagar pelos serviços desses profissionais. “Não vou mais a médico porque sei de cor os regimes”, admite.
Para a comerciante, a inquietação com a aparência começou cedo. Ela conta que tem seis irmãos e que eles sempre foram divididos em grupos de gordos e magros. “Todo mundo pensava: ‘Coitados dos gordinhos’”, revela.
Aos 20 anos, quando conheceu o ex-marido, Ângela tinha acabado de perder 30 quilos em quatro meses. O “milagre” foi um tratamento de injeções intramusculares, que ficou famoso por volta de 1978 na capital mineira. “Com esse eu emagreci, fiquei linda, puro osso”, diz.
Na época, Ângela compareceu por um mês ao consultório e tomou uma injeção diária de uma substância que ela desconhecia. “Eu ia lá, ficava 15 minutos e ia embora. A sala lotava”, relembra. “A injeção que ele dava no músculo queimava gorduras. Era caro, mas emagreci. Era o boom da época. Se ele estivesse vivo [o médico], eu iria lá de novo”, confessa.
Antes dessa tentativa, Ângela já havia apostado nas dietas da Lua e da proteína, que não foram muito eficazes, segundo ela. Durante o primeiro tratamento, a comerciante conta que tomava apenas líquidos nos sete dias da fase da Lua minguante. “Emagreci mixaria”.
Já ao experimentar a dieta da proteína, Ângela conseguiu perder de cinco a seis quilos, mas também não aprovou o método. “Sentia uma fraqueza muito grande. Ficava nervosa. Não podia comer carboidrato, então comia carne, carne, carne”, conta.
Depois dessas tentativas, a comerciante recorreu a remédios e já chegou a tomar sete comprimidos com vários compostos manipulados em um dia. “É uma forma rápida de emagrecer, é o milagre”, disse. No início, ela ficou satisfeita com o efeito. “Você olha para a comida e ela não olha para você”, completa.
Após perder alguns quilos, Ângela conta que começou a “pensar com cabeça de magro” e que, além de voltar a engordar, passou a gastar muito dinheiro com acessórios que não podia usar antes. “O consumismo é muito grande. O magro pode comer tudo, comprar roupas. Qual gordo não quer fazer isto: entrar na loja e ver que a roupa serve?”, questiona.
A comerciante diz que já chegou a tomar os remédios femproporex e sibutramina ao mesmo tempo. “O médico fazia uma receita no meu nome e outra no nome do meu irmão”, relata. Segundo ela, a longo prazo, o resultado dos comprimidos foi negativo, pois trouxe sintomas de depressão. “Você seca, você fica linda, mas fica uma linda triste. Você cabe em qualquer roupa, mas sem vontade de viver”, observa.
Ela diz que, durante uma das crises depressivas, acabou se divorciando. “Um problema simples se torna terrível. Não parava de chorar um minuto. Na hora em que você percebe, começa a ver que tem força para vencer. Na terapia, entendi que o remédio não faz milagre”, diz.
Além disso, Ângela contou que a cada vez que ia ao médico, voltava com mais caixas de remédios. “Você vai ao médico e ele pergunta: 'Você está se sentindo bem?' Aí você fala que não está conseguindo dormir, que está nervosa, com o intestino preso. Então o médico 'joga' outros remédios”.
Para ela, a restrição a emagrecedores não vai ser eficiente. “O gordo vai achar em outro lugar. Esse mercado é muito lucrativo”, aponta.
Atualmente, Ângela se diz menos insatisfeita com a aparência. “Sou vaidosa, gosto de estar bonita, chamar a atenção. Não me escondo no ‘gordo’. Estou com 43 anos, mas até me acho gostosinha”, brinca.
Proibição não funciona
Para a nutricionista Cynthia Antonaccio, o caso de Ângela mostra como dietas baseadas na proibição não trazem efeitos duradouros. ”A pessoa pode até perder peso, mas não aprende a comer”, diz a especialista, diretora do Grupo Equilibrium, voltado para saúde e nutrição. “Não existe alimento bom ou ruim, o que importa é o conteúdo total da dieta.”
Ao pensar sobre as tentativas para emagrecer, Ângela mostra que não acredita em milagre. Um diagnóstico parecido com o da nutricionista. “A dica é: já que você testou todas as dietas, desista. É preciso ter disciplina para comer”, destaca Cynthia. “Estabelecer horários para a alimentação, não comer a toda hora e colocar porções adequadas.”
Os remédios também não podem servir de fórmula “mágica” para reduzir o peso. “Não sou contra os medicamentos, mas hoje o uso é muito abusivo. Tem gente que sai com receita após 10 minutinhos de consulta”, diz. “O remédio é algo para ser usado temporariamente e junto com as técnicas de nutrição. Nunca vai substituir a boa alimentação.”
Uma alimentação ideal deve contar com horários regulares. “É sempre bom tentar manter a rotina de café da manhã, almoço e jantar, com lanchinhos entre eles”, explica Cynthia. “As pessoas precisam saber fazer escolhas mais adequadas e consumir grupos de alimentos menos calóricos. Curtir uma boa salada, uma boa fruta", recomenda a nutricionista.
O médico Antonio Roberto Chacra, professor de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tem uma avaliação parecida sobre dietas como a da Lua. “Muitas vezes, aparecem dietas malucas com o mesmo princípio, que é comer menos uma vez por semana. Você emagrece, mas recupera o peso facilmente”, diz.
Chacra afirma que a depressão que Ângela sentiu com os remédios é um efeito conhecido. “Depressão é normal, não só como efeito colateral. Ela pode ser também a causa da obesidade”, explica.
Para o especialista (em receitar remédios), os emagrecedores ajudam, sim, a perder peso – desde que sejam prescritos por um médico de confiança (confiança de quem), seguindo critérios rigorosos. Além disso, não é para tomar o remédio para sempre. (me engana que eu gosto). A medicação deve ser apenas um primeiro impulso – depois, o próprio paciente precisa aprender a controlar sua alimentação.
“Há casos em que os remédios se justificam, sem dúvida. Mas têm que ser prescritos por um endocrinologista, com critério. Não pode ficar tomando direto,” ( Que boa explicação)
Para ele, a reeducação alimentar é fundamental. “O efeito passa depois que a pessoa para de tomar o remédio, então ela sempre quer voltar e acaba se viciando,” diz. “A prevenção passa pela mudança do estilo de vida.”
(* Colaboraram Mário Barra e Tadeu Meniconi, do G1 em São Paulo)
Com observações de "boaspraticasfarmaceuticas"
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