10.03.2011

Passagem.

Talvez esta seja a última carta que lhe escrevo,
não por nada a ser dito
e nem por você deixar de me visitar,
pois sempre te encontro em algum sonho ou rima,
ou por trás desses óculos escuros...
Mas sim porque hoje senti uma dor aguda no peito
E não era dor de saudade, nem nostalgia crônica
Era uma dor ardida, física,
Daquelas que me fez pensar numa morte besta,
Um infarto esparramado no começo da noite...
Imóvel.
E me dei conta de que não consegui te contar
que já são muitos os meus cabelos brancos,
e minhas mãos mais ressecadas...
E meu rosto tão marcado, um calendário...
Você também não sabe que já me esqueço de muitas coisas,
E revivo outras diariamente...
Eu sei que você não leu "O Conto da Ilha Desconhecida"
e eu não sei qual é o livro que você ia me emprestar,
Porque agora não tenho mais seu telefone,
Talvez um dia confunda seu nome,
Perca seu rosto,
Mas nunca, nunca esquecerei
Quem você é...
Existe a hipótese disso ser tudo mentira
E que amanhã eu esteja aqui, novamente em sua porta,
Pra dizer nenhuma novidade,
e nessas minhas repetições sim, eu me perca,
Labirinto angustiante de viver eu mesma,
Onde a única saída, talvez seja mergulhar nesse ardor noturno,
Que talvez me transporte para um dos sonhos,
Ou uma rima...

"Já não dói muito. Assisto como a um filme onde só por acaso sou personagem..." (C.F.A)

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