7.16.2011

Correndo de costas

Grupos de corredores invertem a direção do treino em busca de mais benefícios. Mas a prática ainda desperta muita polêmica

Rachel Costa

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CONTRÁRIO
Pablo (de roupa azul) e seus alunos
treinam em academia  de São Paulo
Correr para a frente pode parecer até pleonasmo – como subir para cima ou descer para baixo. Não é, porém, o que pensam várias pessoas espalhadas pelo mundo que optaram por algo inusitado: correr de costas. Na Inglaterra, estava prevista, no domingo 17, a realização do primeiro campeonato londrino da modalidade. E, para agosto, os ingleses planejam a segunda competição nacional. No Brasil, provas pontuais acontecem desde 2005. Além disso, a rede de academias Runner, em São Paulo, pretende incluir o treino na sua grade de aulas.

No entanto, o assunto é controverso. Os divulgadores da prática argumentam que a marcha reversiva (como também é chamada) reduz o risco de lesões, promove maior queima calórica e melhora o equilíbrio e a visão periférica. Na África do Sul, Elmarie Ter­­blanche, da Universidade de Stellenbosch, estuda o assunto há nove anos. “Usamos a corrida de costas para substituir outros treinos aeróbicos”, disse Elmarie à ISTOÉ. Em suas pesquisas, jogadoras de netball (jogo semelhante ao basquete) que se submeteram à modalidade apresentaram melhora na capacidade cardiorrespiratória e na agilidade durante as partidas.

No Brasil, na Universidade do Estado de Santa Catarina, há cinco trabalhos em andamento sobre o tema. “A alteração no modo como o pé entra em contato com o chão, a par­tir da ponta, ajuda na redução do impacto”, defende Stella Michaelsen, vice-coordenadora do mestrado em fisioterapia da instituição. O fisiologista Pablo Galletto, divulgador da opção no País, planeja iniciar em breve a produção de esteiras próprias. “O protótipo está construído.”

Outros especialistas contestam as colocações. “Muito tempo forçando o corpo a se mover ao contrário pode comprometer articulações e músculos”, diz Júlio Serrão, coordenador do Laboratório de Biomecânica da Universidade de São Paulo. “Os mecanismos de proteção do corpo estão planejados para o movimento para a frente.” Ele cita como exemplo o quadríceps (músculo anterior da coxa). Na corrida de costas, ele perde sua função de controle de carga. O problema, segundo o pesquisador, é que não se sabe qual outra musculatura assume essa tarefa e tampouco se a alteração, a médio e longo prazo, causa lesões.

Apesar da polêmica, o francês Christian Grollé, uma espécie de articulador internacional da prática, sonha alto. “Espero que o Comitê Olímpico Internacional realize a primeira maratona de costas na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016”, disse à ISTOÉ. Para materializar o desejo, entretanto, resta à modalidade o seu maior desafio: provar, cientificamente, sua pertinência.  
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