Bancos europeus dão sinais de problemas, mas a falta de informações confiáveis pode estar agravando o clima de nervosismo de mercado
Jack Ewing - O Estado de S.Paulo
THE NEW YORK TIMES / FRANKFURTBenoit Tessier/Reuters
Perda. O francês Societé Generale é um dos bancos em risco
Houve alarme entre os investidores depois que um único banco, entre os 8 mil da zona do euro, recorreu ao programa do Banco Central Europeu (BCE) que dá amplo acesso a dólares. O banco, que o BCE se recusou a identificar, tomou emprestado US$ 500 milhões na quarta-feira, soma relativamente modesta.
Porém, foi a primeira vez que um banco recorreu ao canal de dólares do BCE desde fevereiro. A falta de financiamentos em dólares para os bancos europeus foi uma das mais alarmantes características da crise financeira de 2008.
Ontem as ações europeias despencaram, com o principal índice da bolsa da França cedendo 5,5% e o principal índice alemão recuando 5,8%. Em Wall Street, os indicadores mais relevantes recuavam mais de 4% no meio da tarde, com o índice Dow Jones perdendo mais de 450 pontos. Na venda de ações, os recursos foram aplicados no ouro e nos títulos do Tesouro americano.
A reação do mercado evidenciou como investidores nervosos se comportam na ausência de informações abrangentes. "Não temos os dados básicos", disse Nicolas Véron, um pesquisador sênior da Bruegel, um organização de pesquisa em Bruxelas. "Nós precisamos de informação sobre as condições de liquidez no mercado interbancário."
A falta de certezas leva os executivos dos bancos a temerem que outros bancos possam ser "riscos ruins". Logo, em alguns momentos eles param de emprestar e seguram o dinheiro - o que em 2008 contribuiu para uma recessão aguda e pode se repetir agora.
Os investidores estão claramente incomodados. Bancos como o Société Generale da França e o Barclays da Grã Bretanha estão entre os maiores perdedores do pregão de ontem. "Há muito nervosismo. É uma dessas situações em que existe espaço para uma profecia ser autorrealizável", disse Nick Mattheus, economista sênior em Londres do Banco da Escócia.
"Atualmente muitos bancos não podem acessar os mercados a taxas razoáveis", escreveram os analistas do Morgan Stanley em uma nota. "O resultado é que os bancos comerciais continuam apertando as condições de crédito para clientes corporativos e de varejo. Se o estresse continuar, aumentam os riscos de que a falta de crédito disponível possa deprimir a demanda doméstica ainda mais."
Muitos analistas aconselham calma, no entanto, afirmando que o nível de estresse ainda é muito menor que os níveis de 2008. "Não há dúvida de que há uma tensão", disse John Peace, analista de bancos da Nomura em Londres. "Mas o mercado está reagindo exageradamente a essa questão do crédito."
Os analistas também apontam grandes diferenças entre o momento atual e 2008. Os bancos têm mais capital em reserva, estão menos confiantes no financiamento de curto prazo, e os governos tem mais prática em lidar com emergências financeiras.
Viral V. Acharya, professor de economia na Escola de Negócios de Stern da Universidade de Nova York aponta um paralelo perturbador.
Em 2008, assim como hoje, um ativo podre estava espalhado por todo o sistema bancário. Em 2008, eram as títulos ligados aos empréstimos imobiliários subprime. Hoje são as dívidas soberanas dos países.
Como as dívidas do governo foram consideradas como quase sem risco, os bancos não fizeram provisões para o caso de perdas. Os reguladores também não exigiram que os bancos fizessem. "Esse ativo foi considerado muito seguros para fracassar", disse Acharya.
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