8.20.2011

Óleo essencial

Os óleos essenciais compreendem uma mistura de substâncias voláteis extraída de plantas. Podem se revelar como matérias-primas de importância para as indústrias cosmética, farmacêutica e alimentícia, sendo geralmente os componentes de ação terapêutica de plantas medicinais.

Desde há muitos séculos atrás, os óleos essenciais são explorados, ainda que hoje não se tenha completamente documentado o início exato. Acredita-se que os primeiros usos primitivos para estes tenha sido através de bálsamos, ervas aromáticas e resinas que eram usadas para embalsamar cadáveres em cerimônias religiosas há milhares de anos atrás.
Há relatos do uso de essências em 2.700 a.C pelos chineses, no mais antigo livro de ervas do mundo, Shen Nung. Algumas plantas citadas eram o gengibre (''Syzygium aromaticum'') e o o ópio (''Papaver somniferum''). Outro uso documentado de óleos essências se deu em 2.000 a.C. em livros escritos em sânscrito, pelos hindus. Em tal época, já havia um conhecimento mais rudimentar de aparatos de destilação. Nesta época também há relatos de outros povos que fizeram uso desses compostos, como os persas e egípcios, ainda que seja muito provável que esses já dominassem as técnicas de extração há muito antes. Muitas das ervas comuns na atualidade já eram conhecidas, como por exemplo o capim limão (''Cymbopogon citratus''). Ainda que não fossem extratos puros, eram soluções alcoólicas, não apenas usadas como perfumes, mas também em cerimônias religiosas ou com fins terapêuticos.
Junto com as cruzadas, o conhecimento até então obtido por outros povos, se difundiu entre os árabes, que em pouco tempo aperfeiçoaram as técnicas e os aparatos de destilação. Tanto é que o mérito pelo primeiro indivíduo a extrair óleo de rosas foi de um físico árabe conhecido na época por Avicena. Os árabes, aliás, foram mestres na alquimia, e não por acaso são conhecidos naquele momento da história como bem aperfeiçoados na alquimia, medicina e terapias naturais. De fato, os árabes melhoraram e publicaram muito mais conhecimento sobre essa área do que qualquer outro povo.
Não obstante, somente com uma publicação em 1563, por Giovanni Battista Della, é que se tem na história um salto na evolução nesta área de conhecimento: tinha-se então documentando uma forma de separar os óleos essenciais que até então eram apenas soluções alcoólicas.
A partir de dos séculos XVI e XVII, a comercialização destes óleos se popularizou pelo mundo, devido ao nível de tecnologia e também conhecimento de suas propriedades já mais explorado e divulgado no mundo. Não se deve esquecer que as especiarias, muitas delas ervas aromáticas de grande valor econômico, eram produtos valiosos na Europa e é por este motivo que Marco Polo empreendeu suas viagens pelo Oriente.
Um termo que está bem associado a óleos essenciais é a "aromaterapia". Este foi criado por um químico francês em 1928, conhecido como Maurice René de Gattefossé. Foi em uma de suas destilações em seu laboratório, que Gattefossé sofreu um acidente e teve seus braços seriamente queimados. Em meio ao pânico, imergiu-os em uma tina de lavanda, que até então pensava ser água. Notou que em poucos minutos sua dor havia passado, e dias mais tarde já não tinha mais cicatrizes. Passou a explorar mais as propriedades curativas desses extratos, ao contrário de antes, que só os usava como perfumes para seus produtos e criações. Também se deve a este químico um dos primeiros relatos de que produtos sintéticos que imitavam essências naturais tendiam a não ter as mesmas propriedades curativas, assim como Cuthbert Hall em 1904 publicara sobre as propriedades anti-sépticas do óleo de ''Eucalyptus globulus'' em sua forma natural, em detrimento do seu principal constituinte isolado, o eucaliptol. Entretanto, hoje é sabido que como os óleos compreendem misturas complexas, a síntese e adição de substâncias puras aos preparados obviamente não deve produzir o mesmo efeito.
Até mesmo durante as grandes guerras, as propriedades medicinais de óleos essenciais foram exploradas. Como ocorreu com em situações em que alguns médicos não tinham a disposição antibióticos, e que eram forçados a usar o que tinham em mãos.

Óleos essenciais no Brasil

Um dos produtos inicialmente explorados no Brasil para extração de óleos essenciais foi retirado do pau-rosa. Sua exploração foi tamanha que até os dias atuais o IBAMA colocou essa planta na lista de espécies em perigo de extinção. Outros vegetais também foram explorados, como o eucalipto,[1] capim limão, menta, laranja, canela e sassafrás.
Devido a uma dificuldade de importar essências, uma maior demanda mundial pela produção brasileira ocorreu durante a segunda grande guerra, que foi ocasionada pela dificuldade dos países do ocidente de conseguir esses produtos de seus fornecedores habituais. Com isso o Brasil teve a maior parte de suas vendas voltadas para a exportação, o que ajudou significativamente para o aumento produção. Na década de 50, mais um fator colaborou para o aumento da extração de essências dentro do país: empresas internacionais produtoras de perfumes, cosméticos, e produtos farmacêuticos e alimentares se instalaram no país
Tendências do mercado atual
Junto com a exploração a partir de vegetais, nas últimas décadas a indústria de sintéticos também cresceu significativamente, inclusive com o estímulo de alguns órgãos governamentais, em especial na Europa. Para alguns setores, como o da indústria de perfumes, tal fato é ruim.Localização no vegetal, características e extração
Dependendo da espécie vegetal em questão, os óleos essenciais podem estar presentes em diferentes partes, tais como (folhas, flores, madeira, ramos, galhos, frutos, rizomas) e raízes. Após sua biossíntese, são armazenados em células e locais especiais, tais como dutos, canais e bolsas secretoras, além de tricomas e glândulas. Estão presentes principalmente em espécies das famílias Apiaceae, Lauraceae, Myristicaceae, Lamiaceae, Asteraceae, Myrtaceae, Rosaceae, Piperaceae e Rutaceae, as quais podem ser encontradas em praticamente todos os continentes [2].
Os óleos essenciais compreendem uma complexa mistura de substâncias, podendo chegar até várias centenas delas. Porém, sempre há a predominância de uma até três substâncias que caracterizaram a espécie vegetal em questão, por exemplo lhe conferindo um aroma característico. Geralmente essas substâncias pertencem à classe dos terpenos, como os mono e sesquiterpenos, ou dos fenilpropanos (ou C6C3), além de outros grupos menores. Tais substâncias possuem várias funções orgânicas, tais como álcoois, aldeídos, ésteres, fenóis e hidrocarbonetos[3]. Nem sempre os óleos essenciais possuem aroma agradável e nem sempre as espécies que os contem apresentam propriedades terapêuticas, embora algumas sejam empregadas como condimento ou preparo de chás. Possuem aroma forte, coloração amarelada e consistência oleosa, são lipossolúveis e líquidos à temperatura ambiente.
Os óleos essenciais podem ser extraídos das plantas por diferentes processos, tais como destilação a vapor, extração por solventes orgânicos voláteis, por gorduras a frio ou a quente, adsorventes (sílica, carvão ativado) ou por pressão (expressão). Algumas substâncias, quando possuem valor comercial elevado, podem ser isoladas do óleo que a contem ou mesmo sintetizada em laboratório, como o caso do mentol das espécies de Mentha. Entretanto, na área de perfumaria, dá-se maior valor a essências naturais, o que pode encarecer o produto, daí os casos de adulteraçãoMatéria-prima
Em geral, a matéria-prima para a extração de óleos essenciais é diversificada. Pode ser utilizado qualquer vegetal que apresenta óleos voláteis odoríferos. Contudo, o interesse comercial na extração pode ser menor ou maior conforme a planta. A parte do vegetal a ser explorada na extração também influencia a relação custo/benefício. Esses óleos essenciais usualmente são uma mistura de compostos de variadas funções químicas. Alguns exemplos conforme a função são os seguintes[2]:
Álcoois: linalol, geraniol, citronelol, terpinol, mentol, borneol;
Aldeídos: citral, citronelal, benzaldeído, aldeído cinâmico, aldeído cumínico e vanilina;
Ácidos: benzóico, cinâmico e mirístico;
Fenóis: eugenol, timol, carvacrol;
Cetonas: carvona, mentona, pulegona, irona, cânfora;
Éteres: cineol, eucaliptol, anetol, safrol;
Ésteres: ésteres de geraniol, mentol;
[[Lactonas]]: cumarina;
Hidrocarbonetos: pinemo, limoneno, felandreno, cedreno;
Hidrocarbonetos: cimeno, estireno (fenileteno);
Note que certas substâncias têm mais de uma função, o que justifica poderem ser conhecidos tanto por uma, como por outra.
Processos de obtenção
Na extração de óleos essenciais, o método a ser utilizado deve ser bem escolhido antes de ser aplicado. Ainda que uma empresa já tenha um método sendo usado, nada impede de que seja sugerido um meio melhor e mais barato de produzir o que se deseja. Alguns pontos significativos o químico deve ter em mente:
O que levar em conta ao escolher o método
Matéria-prima
Um dos pontos mais significativos a ser pensado. Conforme o caso, pode até mesmo inviabilizar um método. O preço da matéria-prima inicial pode fazer uma grande diferença também. Ainda que várias partes de uma planta contenham o produto de interesse, a relação de custo/benefício pode levar a explorar só a que dá melhor rendimento.
Qualidade do produto final
Alguns métodos têm mais chances de destruir uma composição mais complexa de compostos orgânicos sensíveis ao calor. Não obstante, algumas essências são mais estáveis a situações mais adversas, o que dá uma boa margem de escolha ao engenheiro.
Quantidade/hora
Dependendo da situação, algumas formas de extração podem ter uma produção por hora diferenciada. Métodos mais mecânicos podem ser mais ágeis do que os mais manuais, ainda que custem proporcionalmente mais caro.
Outro detalhe importante é que, a produção pode ser em larga escala, com uma grande produção por hora para produtos com baixo lucro final por quantidade, bem como se pode investir em processo menor e mais delicado, mais próximo da química fina, e com um valor agregado muito maior. Isso só depende da escolha a ser feita.
Métodos utilizados

Enfleurage
Geralmente usado em: pétalas de flores que tem compostos sensíveis demais para usar outros métodos, e que tem uma quantidade pequena de óleos essenciais.
Qualidade do produto final: satisfatória.
Quantidade hora: extremamente baixa,
O método:
Na enfleurage(Italia), que tambem recebe o nome de enfloração ou expressão são utilizadas flores frescas que tem baixo teor de óleos essenciais e que são extremamente delicadas, ao ponto de não poderem ser usadas outros métodos mais práticos, como arraste por vapor d'água. Algumas dessas flores, como é caso do jasmim, podem continuar a produzir seu perfume até 24 horas depois de retiradas da planta.
O método propriamente dito consiste basicamente em colocar tais pétalas em um chassi, que é uma armação com placa de vidro, recoberta de gordura e compostos preservativos por ambos os lados. Estas placas são postas umas sobre as outras, de modo a evitar o contato direto com o ar atmosférico. As pétalas são substituídas por outras frescas por um período que pode variar conforme o caso, mas usualmente tende a ser 24 horas.
Após 8 a 10 semanas, a gordura chega a seu ponto de saturação em relação aos óleos das flores. Com isso, esta é removida e sofre uma extração por álcool, aproveitando-se do princípio de maior solubilidade neste solvente, para a recuperação do perfume. Esta solução é resfriada para remoção da pequena quantidade de gordura dissolvida, e recebe após isso o nome de "extrato" das flores. Este passa por um processo de destilação, visando finalmente separar o solvente dos óleos essenciais desejados.
Arraste por vapor d'água
Geralmente usado em: folhas e ervas, mas nem sempre é indicado para extrair-se o óleo essencial de sementes, raízes, madeiras e algumas flores, porque devido as altas pressões e temperaturas empregadas no processo as frágeis moléculas aromáticas podem perder seus princípios ativos.
Qualidade do produto final: satisfatória, para óleos essenciais de folhas e ervas que não sofrem modificações com altas temperaturas e pressões.
Quantidade hora: apresenta bom rendimento.
O método:
A destilação a vapor é o mais comum método de extração de óleos essenciais. Esta é feita em um alambique, onde partes da planta frescas ou secas são colocadas. O vapor, saindo de uma caldeira, circula por onde a planta se encontra, forçando a quebra das bolsas intercelulares, fazendo liberar os óleos essenciais presentes na planta. Os óleos voláteis apresentam tensão de vapor mais elevadas que a da água, sendo, por isso, arrastadas pelo vapor d'água, saindo no alto do destilador, e a seguir passa por um resfriamento, através do uso de uma serpentina que está em contato com um líquido (água) a temperatura mais baixa. Então a água e óleo são condensados. Nesse produto de saída pode se ver a diferença de duas fases, óleo na parte superior e na inferior a água; elas são separadas por um processo de decantação.
A água que sobra deste processo recebe o nome de água floral, destilado, hidrosol ou hidrolato. Ela contém muitas propriedades terapêuticas extraídas da planta, sendo útil para preparados para a pele e também para uso oral.
Em pequena escala de laboratório, emprega-se o aparelho de Clevenger. O óleo volátil obtido, após separar-se da água, deve ser seco com Na2SO4 anidro.
Extração com solventes voláteis
Geralmente usado em: delicadas plantas, para óleos usados em perfumaria e cosméticos.
Qualidade do produto final: apresenta maior rendimento que outros processos e produtos que não podem ser obtidos por qualquer outro método. Mas o óleo extraído contém resquícios do solvente utilizado.
Quantidade hora: apresenta bom rendimento.
O método:
As plantas são imersas em um solvente químico adequado (pode ser utilizado a cetona, hexano ou qualquer derivado do petróleo) usado para extrair os compostos aromáticos da planta. Fornecendo um produto denominado concreto. O concreto pode ser dissolvido em álcool de cereais para remoção dos solventes. Com a evaporação do álcool temos o absoluto.
No processo de extração do concreto não só se obtém óleo essencial mas também ceras, parafinas, gorduras e pigmentos. O concreto apresenta uma consistência pastosa. Já absoluto não é somente sujeito a uma limpeza dos solventes empregados, assim como de obter uma mistura mais purificada de ceras, parafinas e substâncias gordurosas presentes, o que leva o produto final ter uma consistência mais líquida. O teor de solvente no produto final varia de 1% a 6%.
Apesar do rendimento ser bem maior e o custo benefício bem maior que o da enfleurage, os óleos obtidos por extração a solvente apresentam resíduos de solvente no final do seu processo, e podem apresentar efeitos colaterais dependendo do solvente empregado. Por isso absolutos e concretos costumam ser usados para perfumaria e cosmética.
Prensagem a frio
Geralmente usado em: extração de óleos essências de frutas cítricas como bergamota, laranja, limão e toranja.
Qualidade do produto final: apresenta boa qualidade.
Quantidade hora: apresenta bom rendimento.
O método:
As frutas cítricas são prensadas para extração dos óleos e do suco. Após é efetuada uma centrifugação para separar o óleo essencial puro.

CO2 supercrítico

Geralmente usado em: extração de óleos essenciais de frutas cítricas como bergamota, laranja, limão e toranja.
Qualidade do produto final: ótima qualidade. Os óleos obtidos por esse método se assemelham muito aos aromas da planta viva.
Quantidade hora: é um processo rápido e eficiente.
O método:
As partes das plantas a serem extraídas são colocadas em um tanque onde é injetado dióxido de carbono supercrítico, isto ocorre a extrema pressão de 200 atmosferas e temperaturas superiores de 31°C. Nessa pressão e temperatura o CO2 atinge o que seria um quarto estado físico, no qual a sua viscosidade é semelhante a de um gás, mas a sua capacidade de solubilidade é elevada como se fosse um líquido.
Uma vez efetuada a extração faz-se com que a pressão diminua e o gás carbônico volta ao estado gasoso, não deixando qualquer resíduo de solvente. A grande solubilidade e a eficiência na separação tornam o CO2 supercrítico mais indicado para ser utilizado na indústria do que solventes orgânicos.

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