O HIV está conseguindo escapar da ação de drogas antirretrovirais porque é capaz de passar diretamente de uma célula para outra.
A conclusão é de um novo estudo do laboratório do biólogo David Baltimore, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 1975.
Realizando experimentos com culturas de células no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), o grupo do cientista oferece uma explicação de por que o coquetel anti-Aids reduz o número de vírus nos soropositivos, mas não cura a infecção.
CDC/Reuters |
Detalhes da estrutura do HIV; vírus é mais vunerável às drogas porque não cai na corrente sanguínea, diz estudo |
Esses vírus vagam pelo sangue até encontrar outro linfócito T CD4+, a célula do sistema imune que o HIV ataca. É quando os vírus estão soltos que a droga age.
Baltimore e seus colegas, porém, mostraram que uma parcela menor da transmissão ocorre diretamente, de célula para célula, quando dois linfócitos entram em contato no sangue.
É nesses casos que os antirretrovirais falham. A infecção célula a célula não é tão frequente mas, quando ocorre, a quantidade de vírus transferida é grande.
Explorando essa brecha de segurança, o vírus consegue sobreviver como um reservatório latente dentro das células, mesmo quando o sangue está repleto de moléculas das drogas antirretrovirais.
ESPERANÇA FRUSTRADA
"No início dos anos 1990, quando os inibidores de protease [primeira classe eficaz de droga anti-HIV] surgiram, os médicos estavam medindo o ritmo de queda da carga viral dos soropositivos e concluindo que, com tal redução, os pacientes estariam curados em alguns anos", disse à Folha Alex Sigal, cientista que coordenou o trabalho. "Algumas pessoas vêm sendo tratadas com antirretrovirais por mais de 15 anos, mas, se você para de administrar a droga, o vírus volta."
Sigal descobriu o problema da transmissão célula a célula ao realizar um experimento em que cultivou linfócitos vivos num pires de laboratório para comparar os dois tipos de transmissão.
Quando as células estavam separadas, o efeito da droga sobre o HIV foi muito mais acentuado do que quando estavam juntas.
Segundo os cientistas, que descrevem o trabalho em um estudo publicado hoje na revista "Nature", a descoberta é também uma má notícia para a criação de uma vacina terapêutica anti-HIV.
Esse preparado estimularia o sistema imune a atacar o vírus, mas sua ação se limitaria ao exterior dos linfócitos. A transmissão célula a célula seria um problema.
Mas há esperança de que isso não ocorra no uso preventivo de uma vacina, afirma Sigal. Se o organismo conseguir combater o vírus logo que ele entra, não haveria brecha para a formação de um reservatório.
Estudos de opções terapêuticas no laboratório de Baltimore, porém, já sofreram uma mudança de abordagem.
"Estamos buscando inibidores de infecção do HIV que não funcionam da mesma maneira que as drogas antirretrovirais",
afirma Sigal.
"Essas novas drogas afetam a célula infectada. Assim, não importa quantos vírus estão dentro dela."
Editoria de arte/folhapress | ||
Nenhum comentário:
Postar um comentário