Caros colegas,
Todos os servidores da Fiocruz
passam pelo processo de avaliação de desempenho, por meio de pontuação
individual e institucional. Todos, exceto os dirigentes: o Presidente da
Fiocruz e os Diretores de Unidades.
Enquanto os elementos da avaliação de
desempenho dos servidores são técnicos, segundo metodologia definida, o
processo democrático que a Fiocruz instituiu na gestão Arouca atribui a
toda a comunidade de servidores uma função nobre: avaliar seus
dirigentes num processo eleitoral. Neste processo, entram indicadores
técnicos do bom gestor (bom planejamento e bom uso dos recursos
públicos) e indicadores políticos do bom gestor (compromissos assumidos e
cumpridos). Quando ocorre confronto de candidaturas, como acontece
agora, esses indicadores aparecem e podem ser comparados.
O debate sobre o caso Alert, reaberto
por uma pergunta feita aos dois candidatos no debate de 31 de outubro,
expõe a péssima qualidade do gestor que assumiu as decisões no referido
caso (o atual Presidente da Fiocruz). Por isso, o caso choca tanto a
comunidade Fiocruz. Cai a máscara do “bom gestor”, “experiente” e
“confiável”.
Nossa campanha divulgou documento (clique aqui para ler)
aprofundando a resposta que dei no dia do debate sobre a aquisição do
software Alert por R$ 365 milhões com dispensa de licitação e contra
decisão do Congresso Interno de 2002, que definiu como prioridade a
utilização de software livre. Esse caso chegou ao conhecimento dos
trabalhadores da Fiocruz pela primeira vez por meio de uma denúncia
feita na imprensa em 2011. O desconforto da atual Presidência com o tema
é tão grande que até uma nota foi publicada no site do candidato da
situação, na qual termos como “basta de insinuações” e “caráter
eleitoreiro” são utilizados para criticar nossa candidatura, que se
pauta na integração, na transparência e na participação.
Nas alegadas justificativas técnicas
apresentadas em sua resposta ao nosso documento, a atual Presidência
ainda se cala sobre questões que permanecem sem esclarecimento:
1- Se havia uma justificativa
técnica para o contrato com a Alert, realizado em 8 de agosto de 2011, e
se isso era tão importante a ponto do atual presidente tomar essa
decisão sem sequer uma consulta pautada e documentalmente embasada ao
seu Conselho Deliberativo, por que recuou e cancelou o contrato após
recomendação da Auditoria Interna?
2- Se a atribuição de
desenvolvimento ou de aquisição de softwares para o SUS é missão de
outro órgão, o DATASUS, por que a Fiocruz tomou para si uma atribuição
que não compete à sua missão, se permitindo “ser usada para”? Para essa
compra ser feita pelo DATASUS ela teria de passar por quais processos
decisórios? Que critérios seriam utilizados para se tomar a decisão de
comprar o tal software?
3- Se o Ministério da Saúde
decidiu “por outros caminhos para o Cartão SUS e softwares de suporte”,
com base em que critérios foi tomada a decisão de contratação que expôs
tão negativamente a Fiocruz, questionada por jornais, sociedades
científicas e membros do parlamento?
4- Se o processo foi descontinuado em agosto de 2011, por que ainda permanecia no quadro de detalhamento de despesas da PLOA Fiocruz 2012 a Ação 10.183.2015.6152 - Cartão Nacional de Saúde” R$ 116.000.000 ?
5- Se“nenhum centavo sequer
desses R$ 116 milhões foram ou serão usados pela Fiocruz em qualquer
contrato no âmbito do Cartão SUS”, em que ação está orçado o contrato
com a Alert pelo qual está sendo desenvolvido o prontuário eletrônico do
IFF, do IPEC e da ENSP? Quanto está custando? Está compatível com o
valor praticado em outras transações de informatização de processos
complexos no Brasil em órgãos públicos? Foi decidido em fóruns que
legitimam essa escolha? Envolveu a participação dos usuários nessa
decisão?
6- Qual a relação entre a “larga
experiência” da Fiocruz em transferência de tecnologia para
imunobiológicos e a competência para transferência de tecnologia para
softwares para o SUS?
7- Como e por que um presidente
se investe de tanto poder a ponto de tomar de forma monocrática uma
decisão como a do contrato publicado no DOU de 8 de agosto de 2011? Como
o processo democrático da Fiocruz foi tão desfigurado que permitiu tal
conduta?
8- Como assegurar que diretrizes
decididas nos Congressos Internos sejam efetivamente implementadas com
um Presidente com esse histórico?
9- Por que a Fiocruz ainda não
tem uma Controladoria Interna que analise os atos antes de serem
tomados, e tem apenas uma Auditoria Interna, que analisa por amostragem
as ações depois de terem sido realizadas?
Não estamos fazendo qualquer
insinuação, muito menos de caráter eleitoreiro. Estamos fazendo
perguntas, sobre fatos e atos, baseados em documentos oficiais e em
questionamentos feitos pela sociedade com que a Fiocruz está
comprometida.
Questionamentos tão legítimos que
reverteram o posicionamento inicial da atual Presidência, por prudência
recomendada pela Auditoria Interna. E isso cabe exatamente no processo
eleitoral, e não antes. É no processo eleitoral que a qualidade da
gestão está definitivamente sendo avaliada por quem de direito: os
eleitores. Estamos politizando o debate. Estamos analisando decisões de
uma Presidência e a forma como conduz os processos pelos quais deveria
assegurar os projetos que a Fiocruz define no seu Congresso Interno como
sendo as ações estratégicas para essa instituição.
O compromisso com as cláusulas pétreas
da Fiocruz deve ser o padrão para comparar as ações de um gestor na
Presidência e de um gestor numa Diretoria de Unidade. Por isso,
participamos dessa eleição sem medo de questionamentos sobre os oito
anos de experiência na gestão de uma Unidade da Fiocruz. Para nós,
transparência não é palavra vazia: é algo que une a instituição,
esclarece e legitima decisões. Discutir o futuro da Fiocruz é discutir
com o conjunto de seus trabalhadores como combinar o risco de acertar ou
errar nas decisões tomadas pela instituição. Essa diretriz, na qual nos
pautamos, não está sendo adotada pela atual Presidência e é por isso
que lançamos uma candidatura alternativa nessa eleição. Essa é a
diferença central entre a nossa candidatura e a outra.
Discutir o futuro da Fiocruz é
discutir como a missão, a visão de futuro, os valores e o mapa
estratégico da Fiocruz, pactuados em 2010 no Congresso Interno, vão ser
conduzidos pela próxima gestão. Pois a atual já mostrou como não deve
ser feito: não avançamos com segurança nos últimos 4 anos, crescemos sem
planejamento nem sustentabilidade.
Por essas e outras, a FIOCRUZ QUER MUDANÇA. Seguimos firmes neste caminho!
Continuaremos a questionar, sem medo e sem melindres, os problemas de gestão que comprometem o futuro da Fiocruz.
De: Tania Araújo-Jorge e coletivo da campanha 'Tania 2013 para a Presidência da Fiocruz'
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