O segredo dos gordinhos saudáveis
Foi o que aconteceu nesta semana. Um estudo importante demonstrou que ser ativo é mais importante que ser magro. Os pesquisadores analisaram dados de 43 mil americanos. Eles foram divididos em grupos conforme o nível de obesidade e os resultados em testes de colesterol, pressão arterial e condicionamento físico.
Depois de 14 anos, o risco de morte por qualquer causa foi 38% mais baixo no grupo dos obesos considerados saudáveis – aqueles que praticavam atividades físicas e estavam com os exames em ordem. A redução dos óbitos por câncer ou problemas cardiovasculares foi de 30% a 50%.
A condição de saúde dos gordinhos ativos foi semelhante à verificada no grupo dos magros saudáveis, segundo o estudo publicado no European Heart Journal. É isso mesmo: a atividade física é poderosa a ponto de reduzir o impacto dos efeitos prejudiciais da gordura. Os exercícios ajudam na dilatação dos vasos sanguíneos e melhoram a resistência à insulina.
Ao ler sobre esse estudo, me lembrei de uma gordinha que entrevistei certa vez. A história dela e de tantos outros na mesma situação estão sendo cada vez mais investigadas pela ciência. A moça de 25 anos pesava 100 quilos. As dobrinhas na cintura sugeriam que ela fosse uma pessoa pouco disposta, com artérias cheias de colesterol e mil razões para frequentar consultórios médicos. Pois eu estava enganada.
Esse tipo de leitura superficial, baseada apenas na aparência física, é a mesma que leva algumas empresas a descartar candidatos obesos por achar que eles necessariamente têm baixa autoestima, provocam mais despesas médicas e faltam muito ao trabalho. É uma generalização preconceituosa.
Mesmo assim, até o momento era perfeitamente saudável. Uma pessoa pode ser gorda, mas ter genes que não favorecem a elevação dos níveis de colesterol e triglicérides, desequilíbrios frequentemente associados a problemas graves como infarto, derrame e morte. Por outro lado, um magro pode ter os genes que fazem esses níveis aumentar muito.
Essas observações cotidianas e os estudos recentes – cada vez mais prolongados e sofisticados – demonstram que, em obesidade, as coisas são bem mais complexas do que imaginamos.
Ninguém deve achar que a obesidade não tem consequências. O problema de ser gordinho é que, com o passar dos anos, o ganho de peso tende a fugir do controle. A obesidade mórbida, essa sim, reduz dramaticamente a qualidade e o tempo de vida.
Isso é um fato e um alerta. Por outro lado, é importante lembrar que aparência física tem pouco a revelar sobre as reais condições de saúde de uma pessoa. Ficar esbelto é uma consequência da atividade física. Mas os benefícios e o prazer que ela pode proporcionar vão muito além do corpinho sarado.
Cristiane Segatto
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