Gurgel é peixe graúdo. A contrariedade da mídia, com a inclusão do
nome dele na lista de Cunha, comprova. Ele tornou-se um procurador
heterodoxo. Virou peça do jogo político de curto e de longo prazo. Em
linhas gerais, passou a atuar afinado com a oposição a Dilma, a
colaborar com o esforço de neutralização de Lula e, por fim, mas não
menos importante, a agir com o objetivo de encerrar o ciclo do PT no
poder.
É
sinal positivo o clamor da oposição, em coro com trêfegos parlamentares
da base governista, contra o texto do deputado Odair Cunha (PT-MG),
relator da CPMI sobre as atividades criminosas e as afinidades eletivas
do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Cunha incomodou muita gente e contrariou variados interesses. Não se sabe se o relatório conseguirá cruzar a tempestade provocada pelos contrariados e chegar a porto seguro. Na partida, se assemelha a um barquinho navegando sob bombardeio. E pode afundar antes de ancorar.
A lista de indiciados e de responsabilizados, elaborada por Cunha, é uma carga pesada. O relator julgou suficientes as provas colhidas que, em princípio, são capazes de derrubar o governador tucano Marconi Perillo (GO); de incriminar jornalistas que, ao romper limites éticos, transitaram do campo da investigação para o da associação, e de provocar danos graves ao empresário Fernando Cavendish, da Delta, entre outros casos. Notadamente, o relatório pode desestabilizar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Caso aprovado, o relatório de Cunha pode abalar Gurgel e, inclusive, interferir na própria sucessão dele, na PGR, em julho de 2013.
Roberto Gurgel é acusado por crimes constitucional, legal e funcional. A aprovação do relatório, nesse ponto, levará a questão à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, competente para processar o procurador-geral por crime de responsabilidade. No STF, Gurgel seria julgado por improbidade administrativa e por prevaricação.
O procurador-geral foi fisgado porque manteve engavetadas as denúncias da Operação Vegas. Assim atraiu a suspeita de ter sido conivente com as atividades criminosas de Cachoeira, apuradas pela Polícia Federal. Ele alegou à CPI que tinha detectado somente desvios no “campo ético”, insuficientes para abrir ação penal.
Gurgel, no entanto, mantém outros problemas na gaveta. Há quase cem dias guarda o processo enviado ao Ministério Público, no qual a governadora Roseana Sarney (MA) é acusada de assinar convênios com as prefeituras, no valor aproximado de 1 bilhão de reais. Cabe a ele dar um parecer que pode levar Roseana a perder o mandato.
Há quem veja nessa morosidade um conluio entre o senador Sarney, pai da governadora, e Gurgel. Sustentam essa hipótese renitentes coincidências. José Arantes, assessor parlamentar do procurador-geral foi assessor parlamentar de Sarney na Presidência da República. Seria apenas um detalhe curioso?
Mas há problemas concretos. Um deles, já denunciado nesta coluna, levou o presidente da Câmara quase à exasperação. Na terça-feira 20, o deputado Marco Maia criticou pública e duramente o Senado pela morosidade em votar a indicação do professor Luiz Moreira, já aprovada pelos deputados, para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM).
Seria “morosidade gurgeliana”?
Ou seja, a indicação estaria bloqueada por Sarney em favor de Gurgel? Gurgel teria bloqueado o processo de Roseana em favor de Sarney? Finalmente, haveria nessa história uma vergonhosa troca de favores?
Andante Mosso
Verde ou madura?
Dois anos após de ter negado apoio a Dilma ou a Serra, na disputa do 2º turno para a Presidência, Marina da Silva voltou à política nas disputas municipais. Assim, em 2012, ela tenta se recompor desse fiasco de 2010, quando recebeu cerca de 20 milhões de votos no 1º turno da disputa e fugiu da raia.
Setores do PSB, em fase de namoro fácil, se aproximam dela de olho em 2014. Eduardo Campos, por exemplo, abriu espaço para o “marinista”, Sergio Xavier, no secretariado dele.
Marina, amadurecida, encantaria empresários do Sudeste com a referência de boa gestão pública com respeito ao mundo verde.
Trajetórias
Discretamente, foi anunciada a condenação do desembargador aposentado Carpena de Amorim a dois anos e meio de prisão, por crime contra o sistema financeiro. Carpena foi um homem poderoso do Tribunal de Justiça do Rio no início deste século 21. Bajulado e homenageado, e agora se vê, terminou envolvido por advogados famosos e, hoje, milionários.
Quando corregedor, ele abriu processo disciplinar contra a juíza Márcia Cunha, em 2005, que teve a conduta contestada após dar liminar que permitiu à Previ, e outros fundos de pensão,
a retirar do Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, o controle da Brasil Telecom.
Eu, o Supremo
Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, alcançou mais cedo do que esperava a notoriedade buscada. Agora tem problemas para dominar esse fato.
Em Natal (RN), onde participou de uma cerimônia de casamento, foi assediado pela imprensa.
Dois jornalistas, Rafael Duarte e Nei Douglas (fotógrafo), do Novo Jornal, furaram o cerco e Barbosa não os recebeu bem. Os dois ficaram sob a guarda da polícia por quase uma hora.
Marcado pela suspeita I
Denominado “o maior do mundo”, o Maracanã é conhecido também por ser usado como fonte de mutreta desde sua construção, em 1950. Testemunha isso um raro exemplar, talvez único, da brochura Defesa Complementar do General Herculano Gomes, administrador oficial da obra.
Ela certamente não consta do museu do estádio.
Marcado pela suspeita II
Escrita em 1959, ela tenta responder, em 29 páginas, às acusações “sobre desfalques na construção”. “A velocidade da obra (…) exigia uma série de medidas que não se podiam enquadrar em normas legais (…) dados os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil”, alegou o general.
Tal como se alega hoje, após o Regime Diferenciado de Contratações, criado para dar agilidade à reforma do estádio para a Copa do Mundo, em 2014.
Marcado pela suspeita III
Após contas detalhadas o general-administrador registra o dinheiro saído do Erário: o Maracanã custou 276.876.415,40 de cruzeiros (reprodução). O valor em dólar, pelas regras de atualização do US Labor Statistics, sujeito a chuvas e trovoadas de percurso, teria sido de 125 milhões de dólares.
Algo em torno de 300 milhões de reais, em novembro de 2012. A reforma, até agora, gira em torno de 900 milhões de reais. Um custo também marcado pela suspeita.
Política: Ela x Eles
Não haverá paz, no Ceará, entre o governador Cid Gomes e o irmão dele, Ciro, com Luiziane Lins, do PT, após o choque na recente eleição municipal. Em fim de mandato, ela, prefeita de Fortaleza, está preparada para disputar a eleição ao governo do estado, em 2014, com apoio da direção nacional do partido.
Luiziane parte de uma base na capital onde a administração dela se encerra com aprovação bastante razoável e com a quase vitória do candidato petista que ela lançou e apoiou. Entre eles cada um cumpre um papel. Ciro criticou a intromissão de Lula na disputa da capital. Cid reafirma compromisso com a reeleição de Dilma e, com isso, joga um balde de água fria numa eventual ambição à Presidência do governador pernambucano, Eduardo Campos, líder maior do PSB.
O PT já recusou a oferta feita por Cid ao deputado José Guimarães, para ser vice na chapa encabeçada pelo senador Eunício Oliveira, do PMDB. O clã dos Gomes está sem saída. A discussão pode parecer prematura. Só parece. É hábito político esperar o trem na plataforma.
Cunha incomodou muita gente e contrariou variados interesses. Não se sabe se o relatório conseguirá cruzar a tempestade provocada pelos contrariados e chegar a porto seguro. Na partida, se assemelha a um barquinho navegando sob bombardeio. E pode afundar antes de ancorar.
A lista de indiciados e de responsabilizados, elaborada por Cunha, é uma carga pesada. O relator julgou suficientes as provas colhidas que, em princípio, são capazes de derrubar o governador tucano Marconi Perillo (GO); de incriminar jornalistas que, ao romper limites éticos, transitaram do campo da investigação para o da associação, e de provocar danos graves ao empresário Fernando Cavendish, da Delta, entre outros casos. Notadamente, o relatório pode desestabilizar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Caso aprovado, o relatório de Cunha pode abalar Gurgel e, inclusive, interferir na própria sucessão dele, na PGR, em julho de 2013.
Roberto Gurgel é acusado por crimes constitucional, legal e funcional. A aprovação do relatório, nesse ponto, levará a questão à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, competente para processar o procurador-geral por crime de responsabilidade. No STF, Gurgel seria julgado por improbidade administrativa e por prevaricação.
O procurador-geral foi fisgado porque manteve engavetadas as denúncias da Operação Vegas. Assim atraiu a suspeita de ter sido conivente com as atividades criminosas de Cachoeira, apuradas pela Polícia Federal. Ele alegou à CPI que tinha detectado somente desvios no “campo ético”, insuficientes para abrir ação penal.
Gurgel, no entanto, mantém outros problemas na gaveta. Há quase cem dias guarda o processo enviado ao Ministério Público, no qual a governadora Roseana Sarney (MA) é acusada de assinar convênios com as prefeituras, no valor aproximado de 1 bilhão de reais. Cabe a ele dar um parecer que pode levar Roseana a perder o mandato.
Há quem veja nessa morosidade um conluio entre o senador Sarney, pai da governadora, e Gurgel. Sustentam essa hipótese renitentes coincidências. José Arantes, assessor parlamentar do procurador-geral foi assessor parlamentar de Sarney na Presidência da República. Seria apenas um detalhe curioso?
Mas há problemas concretos. Um deles, já denunciado nesta coluna, levou o presidente da Câmara quase à exasperação. Na terça-feira 20, o deputado Marco Maia criticou pública e duramente o Senado pela morosidade em votar a indicação do professor Luiz Moreira, já aprovada pelos deputados, para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM).
Seria “morosidade gurgeliana”?
Ou seja, a indicação estaria bloqueada por Sarney em favor de Gurgel? Gurgel teria bloqueado o processo de Roseana em favor de Sarney? Finalmente, haveria nessa história uma vergonhosa troca de favores?
Andante Mosso
Verde ou madura?
Dois anos após de ter negado apoio a Dilma ou a Serra, na disputa do 2º turno para a Presidência, Marina da Silva voltou à política nas disputas municipais. Assim, em 2012, ela tenta se recompor desse fiasco de 2010, quando recebeu cerca de 20 milhões de votos no 1º turno da disputa e fugiu da raia.
Setores do PSB, em fase de namoro fácil, se aproximam dela de olho em 2014. Eduardo Campos, por exemplo, abriu espaço para o “marinista”, Sergio Xavier, no secretariado dele.
Marina, amadurecida, encantaria empresários do Sudeste com a referência de boa gestão pública com respeito ao mundo verde.
Trajetórias
Discretamente, foi anunciada a condenação do desembargador aposentado Carpena de Amorim a dois anos e meio de prisão, por crime contra o sistema financeiro. Carpena foi um homem poderoso do Tribunal de Justiça do Rio no início deste século 21. Bajulado e homenageado, e agora se vê, terminou envolvido por advogados famosos e, hoje, milionários.
Quando corregedor, ele abriu processo disciplinar contra a juíza Márcia Cunha, em 2005, que teve a conduta contestada após dar liminar que permitiu à Previ, e outros fundos de pensão,
a retirar do Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, o controle da Brasil Telecom.
Eu, o Supremo
Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, alcançou mais cedo do que esperava a notoriedade buscada. Agora tem problemas para dominar esse fato.
Em Natal (RN), onde participou de uma cerimônia de casamento, foi assediado pela imprensa.
Dois jornalistas, Rafael Duarte e Nei Douglas (fotógrafo), do Novo Jornal, furaram o cerco e Barbosa não os recebeu bem. Os dois ficaram sob a guarda da polícia por quase uma hora.
Marcado pela suspeita I
Denominado “o maior do mundo”, o Maracanã é conhecido também por ser usado como fonte de mutreta desde sua construção, em 1950. Testemunha isso um raro exemplar, talvez único, da brochura Defesa Complementar do General Herculano Gomes, administrador oficial da obra.
Ela certamente não consta do museu do estádio.
Marcado pela suspeita II
Escrita em 1959, ela tenta responder, em 29 páginas, às acusações “sobre desfalques na construção”. “A velocidade da obra (…) exigia uma série de medidas que não se podiam enquadrar em normas legais (…) dados os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil”, alegou o general.
Tal como se alega hoje, após o Regime Diferenciado de Contratações, criado para dar agilidade à reforma do estádio para a Copa do Mundo, em 2014.
Marcado pela suspeita III
Após contas detalhadas o general-administrador registra o dinheiro saído do Erário: o Maracanã custou 276.876.415,40 de cruzeiros (reprodução). O valor em dólar, pelas regras de atualização do US Labor Statistics, sujeito a chuvas e trovoadas de percurso, teria sido de 125 milhões de dólares.
Algo em torno de 300 milhões de reais, em novembro de 2012. A reforma, até agora, gira em torno de 900 milhões de reais. Um custo também marcado pela suspeita.
Política: Ela x Eles
Não haverá paz, no Ceará, entre o governador Cid Gomes e o irmão dele, Ciro, com Luiziane Lins, do PT, após o choque na recente eleição municipal. Em fim de mandato, ela, prefeita de Fortaleza, está preparada para disputar a eleição ao governo do estado, em 2014, com apoio da direção nacional do partido.
Luiziane parte de uma base na capital onde a administração dela se encerra com aprovação bastante razoável e com a quase vitória do candidato petista que ela lançou e apoiou. Entre eles cada um cumpre um papel. Ciro criticou a intromissão de Lula na disputa da capital. Cid reafirma compromisso com a reeleição de Dilma e, com isso, joga um balde de água fria numa eventual ambição à Presidência do governador pernambucano, Eduardo Campos, líder maior do PSB.
O PT já recusou a oferta feita por Cid ao deputado José Guimarães, para ser vice na chapa encabeçada pelo senador Eunício Oliveira, do PMDB. O clã dos Gomes está sem saída. A discussão pode parecer prematura. Só parece. É hábito político esperar o trem na plataforma.
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