Cientistas descobrem que boa
parte dos pacientes aplica a insulina de forma incorreta, o que pode
levar a sérias complicações causadas pela doença
Mônica Tarantino
RODÍZIO
Luana não sabia que a insulina pode ser aplicada
também em braços e pernas. Antes, usava só na barriga
O modo de se autoaplicar insulina tem grande impacto no controle da
diabetes - doença que matou 50 mil brasileiros em 2010, quatro vezes
mais do que a Aids (12 mil óbitos) e que superou o total de mortes
causadas pelo trânsito (42 mil óbitos), conforme dados divulgados na
semana passada pelo Ministério da Saúde. A insulina é essencial para
levar a glicose (o combustível do organismo) para dentro das células.
Uma pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
feita com 120 diabéticos revelou as falhas mais comuns no uso do
remédio. O levantamento foi patrocinado pela Becton, Dickinson and
Company, empresa de tecnologia médica.
A primeira falha ocorre na retirada da insulina do frasco, com a
seringa. “Metade dos adultos e 60% das pessoas abaixo de 18 anos aplicam
doses incorretas”, diz Augusto Pimazoni Netto, coordenador do grupo de
educação e controle do diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da
Unifesp e principal autor do estudo. “Há 20% mais erros com as seringas
de 100U”, diz. Cada marca dessas seringas vale duas unidades, enquanto
as seringas de 30U e 50U são graduadas com marcas que valem uma unidade.
Por falta de informação, 10% dos diabéticos aplicam a
insulina sempre no mesmo local. Outros 57% fazem o rodízio dos
pontos de forma incorreta. Foi o que aconteceu com a analista de mídia
Luana Damaceno, 29 anos. Um mês após o diagnóstico, tinha manchas roxas e
caroços na barriga. Ela decidiu ir à Associação de Diabetes Juvenil
(ADJ). “Quando comecei a usar insulina, não fui orientada para alternar
os locais de aplicação. Aprendi que posso aplicar nos braços, pernas e
nádegas”, diz. “A orientação é essencial no controle da doença”, define a
enfermeira Cláudia Almeida, instrutora da ADJ.
A ausência desse revezamento causa problemas mais sérios. Um exemplo é
a história de uma garota de 6 anos com diabetes que perdia peso e
apresentava taxas de glicemia muito altas, apesar das doses elevadas de
insulina. Durante uma visita, uma das instrutoras do Programa Sanofi
Diabetes – que orienta pacientes – pediu à criança para contar como
tomava o remédio. Viu de imediato um endurecimento importante no braço,
pois a mãe não fazia o rodízio para aplicação. O erro diminuía a
absorção da insulina. Corrigido o problema, a garota se recuperou. Em
suas constantes visitas aos lares de diabéticos, a instrutora Lara
Bauerlein, do mesmo projeto, viu erros no armazenamento da insulina.
“Depois de aberta, a insulina não precisa ficar na geladeira. Pode ficar
em temperatura ambiente de até 30 graus”, garante Lara.
Outro aspecto revelado pelo estudo da Unifesp é a dificuldade dos
pacientes de fazerem as dobras de pele para prevenir que a injeção
atinja o tecido intramuscular. O risco é a rápida absorção da insulina,
que não age pelo tempo esperado. A pesquisa mostrou ainda que há perda
de insulina quando as pessoas retiram rapidamente a agulha da pele
depois da aplicação. “Deve-se esperar entre cinco e dez segundos para
evitar que isso aconteça”, ensina Pimazoni.
Fotos: Pedro Dias/ag. istoé; Kelsen Fernandes
Fontes: Augusto Pimazoni Netto, médico do Hospital do Rim e Hipertensão
da Universidade Federal de São Paulo; Cláudia Elaine Almeida, enfermeira
da Associação de Diabetes Juvenil; Lara Bauerlein, nutricionista do
Programa de Instrutoras da Sanofi Diabetes
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