O estudo britânico tem como foco pacientes com epilepsia resistente a medicamentos e que não podem ser operados
A epilepsia afeta de 1% a 1,5% da população mundial. No
Brasil, isso corresponde a cerca de dois a três milhões de pessoas.
(Thinkstock)
CONHEÇA A PESQUISAA epilepsia é uma doença neurológica que se caracteriza por queda, perda de consciência, convulsões e movimentos involuntários e afeta de 1% a 1,5% da população mundial. No Brasil, isso corresponde a cerca de dois a três milhões de pessoas. O tratamento mais comum é feito através de medicamentos. De acordo com Luciano De Paola, neurologista e presidente da Liga Brasileira de Epilepsia, 70% dos pacientes respondem bem a um tratamento com medicamento, deixando de ter crises com uma dose não muita alta. "Hoje existe uma gama de 20 a 25 medicamentos disponíveis no mundo. No Brasil, temos acesso a 10 ou 12 e, em termos de saúde pública, 5 ou 6", diz De Paola.
Título original: Optogenetic and Potassium Channel Gene Therapy in a Rodent Model of Focal Neocortical Epilepsy
Onde foi divulgada: periódico Science Translational Medicine
Quem fez: Robert C. Wykes, Joost H. Heeroma, Laura Mantoan,Kaiyu Zheng, Douglas C. MacDonald, Karl Deisseroth, Kevan S. Hashemi, Matthew C. Walker,Stephanie Schorge e Dimitri M. Kullmann
Instituição: University College London Institute for Neurology
Resultado: Em um dos testes, os roedores receberam um gene que produz halorodopsina, porteína sensível à luz, e em outro, genes que expressam um canal de potássio localizado no cérebro. Os animais deixaram de apresentar ataques epiléticos, e não foram observados efeitos colaterais.
Desse grupo de 30%, que corresponde aos pacientes com epilepsia de difícil controle, cerca de metade ainda pode ser tratado com medicamentos em doses mais altas ou uma combinação de remédios. Restam, assim, as pessoas que sofrem de epilepsia e não obtêm efeitos benéficos do tratamento com remédios, cerca de 15% daqueles que têm a doença. Para essas pessoas, uma opção é a cirurgia. Nesse procedimento, os médicos identificam o local exato do surgimento das crises no cérebro do paciente e o removem. Porém, nem todos os pacientes que não respondem aos medicamentos que podem se submeter à operação. "Alguns pacientes não apresentam uma localização exata do foco das convulsões ou, em alguns casos, o foco está em uma área cerebral que não pode ser removida sem afetar funções cerebrais importantes. Pode acontecer também de uma pessoa ter mais de uma área causadora de crise no cérebro, então a cirurgia torna-se inviável", afirma o neurologista.
Por existir um número de pacientes para o qual ainda não há um
tratamento adequado, muitas pesquisas continuam a ser desenvolvidas a
fim de descobrir novos tratamentos. Atualmente existem, em número menor,
tratamentos com implantes que estimulam determinadas áreas do cérebro,
estudos de terapia genética e com células-tronco.
Terapia genética - No estudo britânico, foram
desenvolvidas duas formas de terapia genética distintas, que têm em
comum o fato de ajudarem a tornar as células nervosas eletricamente
negativas, pois as cargas elétricas positivas estão relacionadas à
ocorrência dos ataques epiléticos.
Os neurônios se comunicam por meio de pequenas correntes elétricas.
Essa correntes causam excitação (agitação) o inibição das células. O
desequilíbrio entre os dois estados causa um mau funcionamento das
células, o que pode desencadear uma crise epilética.
A primeira abordagem foi desenvolvida utilizando conceitos da
optogenética, combinação de ótica e genética para melhor conhecimento de
processos cerebrais. Os pesquisadores utilizaram um lentivírus como
vetor viral (vírus geneticamente modificado que pode infectar a célula
hospedeira) para inserir um gene que produz halorodopsina, uma proteína
sensível à luz, nas células do córtex motor dos roedores. Os animais
testados, nesse caso, haviam sido previamente infectados com a toxina do
tétano, que provoca epilepsia.
Os pesquisadores conectaram um laser, utilizando fibra ótica, ao córtex
motor do animais, de forma que a luminosidade ativou a halorodopsina.
Essa proteína, quando ativada, faz com que íons negativos de cloro
entrem nas células, tornando os neurônios negativos, o que impede que
eles desencadeiem um ataque epilético.
A segunda terapia desenvolvida utilizou a um canal de potássio
(denominado kv 1.1) localizado no cérebro, no local considerado o foco
das convulsões, para ajuda a controlar a carga elétrica dos neurônios.
Em um dos testes, os pesquisadores inseriram cópias extras do gene que
expressa o canal de potássio ao mesmo tempo em que a toxina tetânica foi
injetada no animal. Esse gene permite que os íons de potássio saiam
das células, o que as torna mais negativas, dificultando as chances de
chegarem ao ponto de uma convulsão. Nesse caso, houve uma prevenção da
doença, pois o roedor não chegou a desenvolver a epilepsia.
Em outros testes, o canal de potássio foi estimulado depois que a
epilepsia já estava instalada no roedor. Dias após a expressão dos genes
ligados ao canal, as convulsões começaram a diminuir de frequência e
cessaram depois de algumas semanas.
Jaderson Costa, neurocientista e diretor do Instituto do Cérebro da
PUC-RS, alerta para o fato de que a terapia gênica procura corrigir
efeitos de tipos específicos de epilepsia. "Essas terapias são
bem-vindas e promissoras, mas elas são limitadas a um tipo específico de
epilepsia", afirma. Ele também demonstra preocupação com o uso de vírus
como vetores, pois eles poderiam causar danos ao organismo, caso não
sejam rigorosamente controlados.
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