8.14.2011

USP testa células-tronco para tratar diabete

Combinação de células extraídas da medula óssea e 3 quimioterápicos pretende liberar os pacientes com o tipo 1 da doença de injetarem insulina

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto começaram a testar uma combinação de células-tronco extraídas da medula óssea com três quimioterápicos para tratamento de pacientes com diabete tipo 1.
O trabalho está sendo realizado em parceria com cientistas da Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), e deve atender 30 pacientes - 10 no Brasil, 10 nos Estados Unidos e 10 no Hospital Saint-Louis, em Paris, na França.
O protocolo da pesquisa permite a participação de voluntários a partir de 12 anos, que tenham apresentado os primeiros sintomas da doença há no máximo três meses.
A diabete tipo 1 é uma doença autoimune, caracterizada pela destruição das células produtoras de insulina, o que afeta a capacidade de metabolizar o açúcar. Essa forma da doença é mais comum em crianças e adolescentes. Se não for controlada, a doença pode afetar os rins, os olhos, a circulação e o coração.
No tratamento, células-tronco da medula óssea são extraídas por meio de uma máquina capaz de separar os componentes do sangue e congeladas. Em seguida, o paciente passa por um tratamento com altas doses de quimioterápicos, para reduzir seu sistema imunológico. As células-tronco são então reinjetadas, como numa transfusão de sangue. Elas entram na corrente sanguínea e se encaminham para a medula óssea.
"A ideia é que, após o procedimento, o sistema imunológico do paciente se altere e ele não ataque mais o pâncreas", explica Júlio Voltarelli, coordenador da Divisão de Imunologia Clínica e da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
"A gente ainda não fala em cura da diabete, mas em remissão, em uma melhora da doença. E estamos tentando fazer isso pela neutralização do sistema imunológico", explica.
Por reduzir temporariamente as defesas do organismo, o tratamento deixa o paciente mais sujeito a infecções, por exemplo. "Acreditamos que esse efeito colateral não é tão grave. Os pacientes ficam vulneráveis a infecções por um tempo curto, pouco mais de uma semana", diz o médico.
"O diabete, principalmente em crianças, é terrível. Ela cresce dependente de insulina e ao final poderá ter complicações cardíacas, neurológicas, vasculares e impotência."
Dificuldade. A equipe de Voltarelli realizou outra pesquisa para tratar diabete tipo 1 há oito anos. O método também utilizou uma associação de células-tronco com quimioterápicos.
Dos 25 pacientes que foram submetidos ao tratamento, nenhum teve complicações sérias - 2 tiveram algum tipo de infecção, que foi tratada sem maiores complicações.
Todos deixaram temporariamente de usar insulina, mas a maioria precisou retomar as injeções do hormônio. Passados oito anos, apenas seis continuam sem aplicar as injeções.
"Estamos mudando o esquema de tratamento para tentar reduzir o número de pacientes que volta a usar insulina", afirmou Voltarelli. A diferença na pesquisa atual é a mudança nos medicamentos usados.
Atualmente, vários centros de pesquisa no mundo estudam uma forma de tratar o diabete tipo 1 utilizando células-tronco. Há também pesquisas sendo feitas em Harvard e na Universidade Stanford, ambas nos Estados Unidos.
Clarissa Thomé /
O Estado de S.Paulo

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