11.18.2013

Natural beleza humana

Especialistas defendem que ser belo passa por respeitar características próprias e evitar transformações radicais

Flávia Milhorance


A atriz Catherine Deneuve em cena do filme “Um conto de Natal”
Foto: Divulgação

A atriz Catherine Deneuve em cena do filme “Um conto de Natal”
A atriz francesa Catherine Deneuve recém completou 70 anos. Já foi considerada a mulher mais bonita do mundo. E provavelmente por isso já afirmou que beleza sempre foi um fardo. Olhando hoje para ela, quem ousaria dizer que não é mais uma “belle femme”? Olhando um pouco mais, quem conseguiria afirmar com absoluta certeza qual foi sua fórmula de beleza? Arriscaríamos alguns chutes, recortaríamos algumas entrevistas, mas dificilmente seríamos catedráticos. Pois a eterna “bela da tarde”, mesmo com toda pressão que recai sobre as estrelas, não se rendeu às transformações radicais do corpo. A difícil tarefa de ser e manter-se bela passa, segundo especialistas, por preservar a naturalidade, sem radicalismos.
- Há várias proposições no conceito de beleza, mas o principal é o da naturalidade. Não vamos impor uma intervenção, dando a impressão de que qualquer coisa foi feita, tudo tem que parecer natural - diz o cirurgião plástico Ivo Pitanguy.
Para o cirurgião-filósofo, vaidade nada mais é do que querer assemelhar-se aos demais. A deformidade, diz, desloca o indivíduo do senso comum. É aquele com orelha grande que no colégio será chamado de Dumbo, exemplifica. O normal é o que não chama a atenção. Por isso, ele gosta de cunhar a frase de que “não se mede o descontentamento pelo tamanho da deformidade”. Ou seja, até uma pequena correção pode trazer um grande bem-estar a um indivíduo. E avançamos a tal ponto na ciência médica que “não é preciso sofrer a vida toda”.
Isto não significa, porém, que a exagerada importância dada ao corpo e à imagem seja natural, diz Pitanguy. Para ele, é doença. Nem que tenhamos que ser cópias fiéis de Catherine. Até porque experiências mostram que Catherine só tem mesmo uma. Cirurgião que já operou pessoas de várias partes do mundo, Pintanguy defende que se mantenham as características até raciais:
- Isto hoje está um pouco diluído, mas a beleza de cada raça tem que ser preservada. Existe uma beleza na raça negra, oriental, na nossa, que é mista. Temos que procurar harmonizar, não transformar um grupo em outro.
Pequenas imperfeições criam identidades e tornam indivíduos mais reais. Até para o maior admirador da beleza, que disse seguidas vezes que ela é, sim, fundamental, Vinícius de Moraes foi também quem pediu “que haja uma hipótese de barriguinha”. Ele provavelmente defenderia a boca super carnuda de Angelina Jolie ou as curvas latinas de Jennifer Lopez.
Elas têm dinheiro, diria a maioria das reles humanas. E o cirurgião plástico José de Gervais concorda, mas garante uma coisa: vaidade não tem classe social. E nem deve ter.
- Atendo pobre e milionário. Sou chefe do serviço de cirurgia da Santa Casa de Misericórdia do Rio; lá vejo pessoas que ganham um salário mínimo e economizaram cinco anos para fazer uma cirurgia - conta.
Gervais também afirma que, em vez de uma operação plástica, já aconselhou pacientes a apenas fazer dieta, atividade física ou a ter acompanhamento psicológico:
- Muitas vezes é melhor nem operar um deprimido. A cirurgia não tira o problema da pessoa. Ela vai continuar se sentindo infeliz.

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