2.07.2014

Um choque contra a depressão

Pesquisadores brasileiros testam pela primeira vez no País método que consiste na aplicação de leves estímulos elétricos na face e constatam sua eficácia na redução dos sintomas da doença

Cilene Pereira

Médicos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo estão testando, pela primeira vez no País, um método inovador contra a depressão. Chamada de estimulação do nervo trigêmeo, a técnica já foi aplicada em 11 pacientes. Um ainda está em tratamento, mas o restante já o finalizou. Desses, todos relataram uma redução de pelo menos 50% na intensidade dos sintomas da enfermidade – entre eles a vontade de chorar e pensamentos suicidas. “Hoje me sinto outra pessoa, com disposição para viver. O tratamento foi uma revolução na minha vida”, atesta a funcionária pública Ivone Lopes, 55 anos, uma das pessoas submetidas à técnica.
chamada.jpg AVANÇO
Responsável pela experiência, Pedro vai ampliar
o número de pacientes a serem testados
O método consiste na aplicação de estímulos elétricos sobre um dos ramos do nervo trigêmeo, presente na face. O canal nervoso mantém conexões com áreas cerebrais associadas à doença. Dessa forma, conduz os sinais elétricos até elas, o que promove a restauração do equilíbrio da atividade elétrica do local. Esse rearranjo interfere no mecanismo responsável pela doença, daí a diminuição de seus sintomas.
A estratégia vinha sendo estudada na Universidade da Califórnia (Ucla), nos Estados Unidos. Neste mês, o grupo que lá conduz os experimentos publicou uma atualização de seus achados na revista científica “Neurosurgery Clinics of North America”. Novamente, eles concluíram que os pacientes – a maioria portadora da forma grave ou moderada da enfermidade – demonstraram melhora significativa.
Os participantes não deixaram de tomar antidepressivos. Mas, com a evolução do tratamento, diminuíram consideravelmente sua utilização. No futuro, a ideia é que a estimulação substitua a medicação na maioria dos casos ou que pelo menos a reduza à menor quantidade possível.

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Tanto os brasileiros quanto os americanos se preparam para ampliar as pesquisas. Por aqui, a meta é iniciar em breve um novo teste, dessa vez com 40 pacientes. “Eles também farão dez sessões, diariamente, e depois passaremos para aplicações quinzenais”, informa o psiquiatra Pedro Shiozawa, coordenador do laboratório de Neuromodulação da Santa Casa e responsável pela pesquisa. “E eles serão acompanhados por seis meses”, completa. O especialista está à procura de voluntários. Nos EUA, as investigações continuam, enquanto a Neurosigma, empresa que patenteou o sistema, trabalha para obter sua liberação em vários países. “Já está em uso no Canadá e nos países da União Europeia”, contou à ISTOÉ Ian Cook, da Ucla e pioneiro no estudo da técnica. 

Eletrodos na coluna para tratar Parkinson
Pesquisadores da Duke University, nos Estados Unidos, e do Instituto de Neurociências de Natal acabam de comprovar que o uso de estímulos elétricos é eficaz contra os sintomas da doença de Parkinson. O experimento, feito com ratos, consistiu no implante de eletrodos na medula espinhal conectados a um gerador portátil para desfechar sinais elétricos nessa estrutura. Após seis semanas de terapia, os cientistas concluíram que o método melhorou a coordenação motora e ajudou a reverter a perda de peso associada à evolução da doença. Testes anteriores haviam demonstrado essa ação apenas por períodos breves. “Precisamos de opções de longo prazo. A estimulação da medula espinhal tem esse potencial”, disse o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que liderou a pesquisa, publicada na semana passada na edição online da revista “Scientific Reports”.
Foto: Gabriel Chiarastelli

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