Com novos estilistas e tênis de R$ 9 mil, a alta-costura francesa renasce das cinzas, agora de olho na clientela jovem
BRUNO ASTUTO,
DE PARIS
06/02/2014 07h00
- Atualizado em
06/02/2014 07h55
Quando a alta-costura estava em seu apogeu, nos anos 1950, o high
society vivia a euforia do pós-guerra e uma sede insaciável por produtos
de luxo. As festas se multiplicavam e, com elas, o hábito de encomendar
roupas sob medida para bailes, cruzeiros e chás. Hoje, fora do circuito
dos tapetes vermelhos de Hollywood
e dos casamentos nababescos do Brasil, da Rússia e da Índia, raras são
as festas de pessoas físicas. A maioria das reuniões serve para celebrar
lançamentos de carros, perfumes e empreendimentos. Requerem um
guarda-roupa menos excepcional, mais prático. A alta-costura, arte
secular de produzir roupas sob medida pelas mãos de artesãos minuciosos,
sob o comando de uma grife, parecia fadada ao desaparecimento. Mas,
surpreendentemente, está mais viva que nunca.
Em 2000, apenas oito das 35 marcas que apresentavam coleções de alta-costura permaneciam de pé em Paris.
Hoje, elas são 23, com nomes novos como Bouchra Jarrar, Yiqing Yin e
Ralph & Russo. Meio século depois, é possível dizer que a
alta-costura vive novamente uma inesperada explosão. Apesar dos preços
proibitivos de algumas peças (R$ 450 mil para um vestido bordado
Chanel), as marcas têm oferecido produtos mais “acessíveis”, como um
vestido do italiano Giambattista Valli a R$ 40 mil. “Anos atrás, se você
me dissesse que eu desfilaria na semana de alta-costura, eu riria”, diz
a estilista francesa Bouchra Jarrar, estreante nos desfiles da semana
passada, em Paris. “Mas essa clientela cresceu muito, então decidi
investir no setor.”>> Luxo para os tempos difíceis
De fato, com a ascensão de China e Rússia ao time de países com grande número de bilionários – e, em menor escala, o Brasil –, o famoso clube das 200 mulheres que tinham condições de encomendar uma peça de alta-costura, fazer três provas em Paris e dedicar um orçamento semestral de R$ 600 mil em média por temporada quase dobrou no ano passado. As compradoras texanas também retornaram a Paris assim que a economia americana começou a dar sinais de recuperação. “Na China, temos uma longa tradição de artesanato e valorização de peças únicas. É isso que a alta-costura francesa tem a oferecer em termos de moda”, diz Angelica Cheung, diretora da edição chinesa da revista Vogue.
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Ainda que nenhuma grife revele dados sobre suas clientes ou números de vendas, estima-se que as brasileiras respondam por menos de 1% do mercado da alta-costura francesa. “Elas vêm quando têm uma ocasião muito especial, como um casamento, mas sem limite de orçamento”, diz a diretora de salão de uma das marcas, que, como todas as suas colegas, pede anonimato. “As clientes mais jovens estão se interessando novamente pela alta-costura.”
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Ainda tentando se recuperar de uma crise sem precedentes, que começou em 2008, o mundo do luxo teve um sursis com os resultados excepcionais da economia dos países emergentes. Mas, se até eles têm desacelerado, com quem as marcas poderão contar nos próximos anos? A resposta está no fenômeno das redes sociais. Antes privilégio das revistas e dos jornais, nunca a informação de moda foi tão espalhada em forma de posts, tuítes e blogs. Assim que uma peça é exibida no desfile, sua foto imediatamente é reproduzida em posts no Twitter, no Instagram e no Facebook, e as grandes redes de varejo podem copiá-la à exaustão. Até que o vestido chegue às lojas das grifes, a cliente de alto luxo terá se cansado dele. Para essa mulher, que não quer ver sua roupa caríssima na cerimônia do Oscar antes de desfilá-la para as próprias amigas, vale pagar as fortunas cobradas na alta-costura. Madame pode dar seus rolezinhos de tênis, mas só com exclusividade. O preço é um mero detalhe.
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