2.06.2014

Militar da reserva admite ter montado farsa no caso Rubens Paiva

  • Depoimento do general Raimundo Ronaldo Campos revela manobra do Exército ao mentir que ex-deputado havia sido resgatado por “terroristas”
Chico Otavio

O Fusca incendiado fez parte do cenário montado pelos órgãos de repressão para encenar a falsa fuga de Rubens Paiva
Foto: Álbum de família
O Fusca incendiado fez parte do cenário montado pelos órgãos de repressão para encenar a falsa fuga de Rubens Paiva Álbum de família
RIO - O depoimento de um militar da reserva joga luz sobre o caso do ex-deputado Rubens Beirodt Paiva, desaparecido no dia 20 de janeiro de 1971, depois de ser levado para a carceragem do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), na Tijuca. O general reformado Raimundo Ronaldo Campos revelou no decorrer das investigações da Comissão da Verdade, realizadas no fim do ano passado, que o Exército montou uma farsa ao sustentar, na época, que Paiva teria sido resgatado por seus companheiros “terroristas” ao ser transportado por agentes do DOI no Alto da Boa Vista, para fazer um reconhecimento. Ronaldo, que era capitão, foi apontado na ocasião como o condutor do veículo, na companhia dos sargentos e irmãos Jacy e Jurandir Ochsendorf (os três serviram na unidade).

Até então, duas provas indicavam que Paiva dera entrada no DOI, depois de ser preso em casa, no Leblon, por uma guarnição da Aeronáutica: o depoimento de Amilcar Lobo, ex-tenente médico que atendia o torturado e teria tentado socorrer o ex-deputado, já em estado crítico depois das torturas; e um ofício encontrado na casa de um ex-comandante do DOI-I, coronel Molinas Dias, contendo o nome completo do político (Rubens Beirodt Paiva), de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (o CISAer, Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data (20 de janeiro de 1971), seguido de uma relação de documentos, pertences pessoais e valores do ex-deputado. Na margem esquerda do documento, à caneta, constava uma assinatura, possivelmente de Paiva.
A acusação que pesava sobre o ex-deputado era manter correspondência com exilados brasileiros no Chile.

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