Cientistas criam materiais com as mesmas características dos tecidos musculares. Eles serão usados para regenerar essas estruturas do corpoGreice Rodrigues
O corpo humano vive em constante processo de regeneração. Mas quando algo mais sério acontece nem sempre ele consegue se reconstituir sozinho. Nesse quesito, no entanto, a ciência tem dado uma importante contribuição. A busca por alternativas que ajudem na reconstrução de estruturas do organismo é uma das áreas da medicina que mais evoluem. Com o auxílio de uma tecnologia cada vez mais refinada, cientistas dos principais centros de pesquisa do mundo já recriaram em laboratório órgãos como rins, bexiga, vasos sanguíneos e até ossos. Mais recentemente, boa parte dos esforços foi concentrada no desenvolvimento de músculos artificiais. E os resultados de todo o empenho, pelo menos até agora, são bem promissores.
Um exemplo dessas experiências bem-sucedidas pode ser visto em um artigo que acaba de ser publicado na última edição da renomada publicação científica “Nature”. Nele, cientistas da Universidade de British Columbia, no Canadá, relatam como conseguiram desenvolver um material, um tipo de tecido, que imita as propriedades elásticas dos músculos. A façanha foi obtida porque a equipe, da área de engenharia mecânica, foi capaz de reproduzir em laboratório um composto com estrutura molecular semelhante à da titina, uma importante proteína responsável pelas propriedades elásticas dos músculos nos organismos vivos.
O produto foi criado a partir de um polímero especialmente desenvolvido para funcionar como um biomaterial que apresenta características multifuncionais até então presentes unicamente na titina. “Ela age como uma mola com alta resistência, capaz de absorver grandes impactos”, explica John Gosline, coautor do estudo. “Sob stress, libera tensão em vez de rasgar.”
O objetivo dos pesquisadores é usar esse novo tecido na regeneração de diversos tipos de tecido muscular. Agora, a próxima fase da experiência é testar sua compatibilidade com o tecido humano.
Outra importante descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Lá, os cientistas recriaram em laboratório dois tipos de tecidos musculares que chegam a ser até 100 vezes mais resistentes do que o tecido humano. Os biomateriais foram desenvolvidos com recursos da nanotecnologia – área de crescimento impressionante e que se baseia na criação de partículas em escala nanométrica (um nanômetro é um bilhão de vezes menor do que um metro).
De acordo com os pesquisadores, esse biomaterial imita os músculos humanos de várias formas. Uma das principais semelhanças é que eles liberam energia e consomem oxigênio – eles conseguiram essa resposta a partir de um estímulo provocado por eletrodos e baterias. A invenção, ainda em fase de testes, já é considerada um avanço. “Inicialmente esses materiais poderiam ser usados na criação de próteses avançadas e, no futuro, na construção de sistemas musculares mais complexos”, diz o cientista John Madden, do Instituto de Nanotecnologia da Universidade do Texas. Esses resultados foram publicados na edição deste mês da também importante revista científica “Science”.
Ainda que experimentais, essas tecnologias sinalizam boas perspectivas para o tratamento de diversos tipos de doenças musculares. Uma delas, a paralisia facial permanente, por exemplo, virou o alvo de estudos de médicos da Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos. Os cirurgiões desenvolveram uma técnica que poderá ajudar a recuperar movimentos da musculatura da região dos olhos, prejudicados por traumas ou por doenças como o acidente vascular cerebral.
O modelo criado utiliza um tipo de músculo artificial feito com polímeros eletroativos, um material à base de silicone que apresenta potencial para recuperar esses movimentos.
Na verdade, os cientistas criaram um sistema, composto pelo tecido e por um delicado suporte, colocado nas pálpebras e ligado a uma pequena bateria implantada na região frontal do rosto. “A força e o movimento que o músculo artificial gera, a partir dos estímulos, são semelhantes aos da musculatura natural. Isso permitiu que a pálpebra voltasse a se mexer”, diz Travis Tollefson, um cirurgião plástico do Departamento de Otorrinolaringologia da universidade americana.
Segundo Tollefson, a partir de agora eles tentarão aperfeiçoar a técnica para que possa ser testada em pessoas vivas – o estudo foi feito com cadáveres. Esse músculo artificial é composto de três camadas de silicone macio e um tipo de acrílico e carbono. Quando uma corrente elétrica é aplicada, o material estica. Quando a carga é removida, o músculo se contrai. Esse mecanismo permite que a pálpebra realize seu movimento natural. Esse trabalho foi publicado no “Journal Archives of Facial Plastic Surgery”.
Outra linha de pesquisa que promete revolucionar o tratamento das doenças musculares é a terapia com células-tronco, que podem se transformar em qualquer tecido do corpo. Experiências realizadas em centros de estudos de todo o mundo estão permitindo a criação de vários tecidos – musculares entre eles. Embora essas novas técnicas ainda não estejam disponíveis no dia a dia da rotina médica, o futuro parece ser bem promissor.
Fonte:Isto é
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