5.16.2010

Os efeitos do jejum no corpo

O jejum abala o metabolismo do organismo, e isso pode ser benéfico! Mas pode desencadear um distúrbio alimentar, o que é um perigo.
Religiosidade à parte, médicos explicam o impacto do jejum no corpo segundo diferentes especialidades.
Abalos no sistema metabólico são interessantes, diz Luiz Eugênio Mello, professor do Departamento de Fisiologia da Unifesp.
O organismo muito estável durante muito tempo não exercita a capacidade de se adaptar às alterações ambientais que são inexoráveis --como ser acometido por um vírus ou por um desgaste de uma atividade estressante demais. "O sistema enrijecido é menos maleável para vencer as intempéries", diz ele.
Sobre o estado de alerta e a sensação de bem-estar descritos por quem experimentou o jejum, a explicação médica está na liberação de algumas substâncias neurocerebrais: neurotransmissores, como endorfinas, e hormônios, como noradrenalina e adrenalina, que entram em ação em situações especiais, como estresse.
Essa liberação se dá para compensar a falta de ingestão calórica, explica o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC). "É uma falsa sensação até de excesso de energia", diz ele.
Quando esse estoque de substâncias acaba, vêm as sensações de fraqueza, moleza e apatia e a dificuldade de concentração.Já para o médico Fadlo Fraige, chefe do departamento de endocrinologia da Beneficência Portuguesa, o bem-estar no início do jejum acontece porque a pessoa está fora do chamado pós-prandial (a digestão).
Nesse processo, o fluxo de sangue se desloca para o sistema digestivo, diminuindo no restante do corpo. Por isso sente sono e precisa dormir, como o cristão do texto da página anterior."Hoje se come mais do que se necessita.
Das 24 horas, ficamos cerca de nove no pós-prandial", diz Fraige, referindo-se à digestão de três refeições normais.
Se o sujeito encarar pratos pesados e gordurosos, o tempo da digestão pode chegar a 16 horas."Segunda-feira devia ser o dia internacional do jejum", diz o médico, sugerindo ingestão apenas de líquidos durante um dia da semana para quem tem sobrepeso ou é obeso e, especialmente, é sedentário.
"Seria extremamente benéfico, estaria depurando o organismo", diz ele, alertando para casos em que a prática é proibida, como aos portadores de diabetes.Para a medicina tradicional chinesa, que considera o alimento e a respiração as fontes básicas de energia para o corpo, não teria sentido se valer do jejum como terapêutica.
Porém, "se o corpo está carregado dos chamados excessos momentâneos e um excesso comum é o de ingestão de bebidas", o jejum de um dia com o consumo apenas de líquidos é indicado, diz a médica Angela Tabosa, do Setor de Medicina Chinesa-Acupuntura da Unifesp.
Do Grecco (Grupo de Estudos, Assistência e Pesquisa em Comer Compulsivo e Obesidade, do HC), vem o alerta: "Jejum é um perigo", diz Alexandre Azevedo, coordenador do grupo.
"Quase todos os pacientes que têm um distúrbio alimentar, como anorexia e bulimia, têm um histórico de dieta inadequada e, na maioria das vezes, o hábito de jejuar", diz o psiquiatra.Decidir que não vai jantar um dia ou que vai pular o almoço é considerado jejuar.
E atenção: seguir essa prática uma vez por semana ou de forma contínua pode provocar um desequilíbrio neuroquímico e desencadear um distúrbio alimentar.
Folha


Saiba mais
Especialistas alertam para os perigosos efeitos do jejumExistem modalidades de dieta que propõem perda de peso quase que instantânea e a garantia de não voltar a engordar, uma é o jejum.
Existem modalidades de dieta que propõem perda de peso quase que instantânea e a garantia de não voltar a engordar, uma é o jejum. Tome cuidado com esse tipo de proposta. Óbvio que ela não é nada saudável e traz enormes riscos de prejuízos à saúde. Um período de jejum, que podemos estabelecer em mais de quatro horas, pode resultar em lentidão dos movimentos, raciocínio confuso, perda de memória, suores frios, dores musculares e de cabeça, tontura e até mesmo desmaios. Esses sintomas, muitas vezes, estão relacionados ao processo de hipoglicemia, isto é, redução da glicose na corrente sanguínea.
No jejum, além de o metabolismo agir lentamente, a perda de peso não ocorre da maneira prevista. Em vez de perder a gordura, a grande vilã da balança, o organismo elimina apenas os líquidos e massa muscular. Ou seja, a sensação de emagrecimento é passageira, pois ao voltar a se alimentar normalmente, há a recuperação orgânica e o conseqüente ganho de peso. Isso por que o corpo mantém uma reserva maior de energia para se prevenir em uma nova situação de carência alimentar.
Há mulheres que seguem o jejum para entrar naquele vestido especial ou lutadores de boxe que o fazem para entrar em uma categoria de peso mais leve. Mas não é um hábito saudável. O importante, sempre, é ter limite. Deixar de comer agora e depois descontar em uma única refeição tem efeito pior.
Como evitar longos períodos sem comer
O essencial é se alimentar a cada três, ou no máximo, quatro horas. Dessa forma, evita-se o consumo excessivo. A disciplina ajuda na manutenção do peso, além de controlar os níveis de glicemia, que, quando muito baixa, desperta um desejo intenso de comer doce.
Se você é do tipo que passa períodos do dia na rua, os especialistas indicam levar algo para degustar, pois nunca é bom deixar a fome prevalecer. Opções práticas são torradas integrais em embalagens com duas unidades, frutas que não precisam de utensílios para ser consumidas, e, claro, as barras de cereais. São uma rica fonte de fibra e ainda possuem uma variedade de sabores.
Já para os que têm tempo disponível para as refeições, a dica varia um pouco. Frutas, iogurtes (desnatados, em caso de dieta) e vitaminas de frutas com leite são opções saborosas e saudáveis. Se não está tão preocupado em perder peso, a proposta é relaxar um pouco, só um pouquinho: Comer uma fatia de bolo ou um pão também não faz mal, desde que o faça com moderação.
Fonte: Segs

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