Os termos transtorno, distúrbio e doença combinam-se aos termos mental, psíquico e psiquiátrico para descrever qualquer anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica e/ou mental. Os transtornos mentais são um campo de investigação interdisciplinar que envolves áreas como a psicologia, a filosofia, a psiquiatria e a neurologia. As classificações diagnósticas mais utilizadas como referências no serviço de saúde e na pesquisa hoje em dia são o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais - DSM IV, e a Classificação Internacional de Doenças - CID-10.
Em psiquiatria e em psicologia prefere-se falar em transtornos ou perturbações ou disfunções ou distúrbios (ing. disturbs, alem. Störungen) psíquicos e não em doença; isso porque apenas poucos quadros clínicos mentais apresentam todas as características de uma doença no sentido tradicional do termo - isto é, o conhecimento exato dos mecanismos envolvidos e suas causas explícitas. O conceito de transtorno, ao contrário, implica um comportamento diferente, desviante, "anormal"1 . No Brasil, a Câmara Federal aprovou em 17.03.09, em caráter conclusivo, o Projeto de Lei 6013/01, do deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), que conceitua transtorno mental, padroniza a denominação de enfermidade psíquica em geral e assegura aos portadores desta patologia o direito a um diagnóstico conclusivo, conforme classificação internacional. O projeto determina que transtorno mental é o termo adequado para designar o gênero enfermidade mental, e substitui termos como "alienação mental" e outros equivalentes [1]. José Luís Pio Abreu, no seu livro provocador Como tornar-se doente mental, alerta para toda a problemática da doença mental em que certos problemas seriam melhor resolvidos com psicólogos, advogados ou polícias.
Transtornos mentais (ou doenças mentais, transtornos psiquiátricos ou psíquicos, entre outras nomenclaturas) são condições de anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica, mental ou cognitiva. Em geral, um transtorno representa um significativo impacto na vida do paciente, provocando sintomas como desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória.
Dentre os fatores causadores, a genética, a química cerebral (problemas hormonais ou uso de substâncias tóxicas que afetam o cérebro) e o estilo de vida são tidos como os principais desencadeadores dos diversos transtornos existentes. Doenças em outras partes do corpo podem afetar a mente, e inversamente, transtornos ou doenças mentais podem também desencadear outras doenças pelo corpo, produzindo sintomas somáticos.
Uma doença ou transtorno mental pode ser tratado através de medicamentos, ou várias formas de psicoterapia. O diagnóstico envolve o exame do estado mental confrontando seu histórico clínico, utilizando-se também de testes psicológicos, exames neurológicos, de imagem e exames físicos(Galeno Alvarenga).
Abaixo você encontra uma lista com os principais transtornos mentais:
(Autor: Galeno Alvarenga)
Definição do conceito de "anormalidade"
O conceito de anormalidade só é compreensível em relação a uma norma; mas nem toda variação em relação a uma norma adquire caráter patológico. Assim uma pessoa superdotada ou um criminoso estão ambos "fora da norma", sem que no entanto seu estado tenha um caráter patológico. Assim, para se compreender o termo transtorno é necessário ter-se presente quais normas são relevantes para essa definição:2 31. Norma subjetiva: a própria pessoa sente-se doente. No entanto, esta norma não é suficiente para uma definição, porque ela envolve uma perceção subjetiva do problema, que pode diferir de uma perceção externa, objetiva: além dos casos em que as duas perspectivas estão de acordo, há casos em que a pessoa está subjetivamente doente, mas esse estado é externamente não observável, ou vice-versa;
2. Norma estatística: a norma é dada pela frequência do fenômeno na população. Assim, todas as pessoas que estão acima ou abaixo de um determinado valor de corte estão fora da norma. No entanto essa norma não leva em conta o valor dado às características levadas em conta. Assim uma pessoa que nunca teve cáries está tão fora da norma como uma pessoa que têm muitíssimas - aqui se vê também seu limite;
3. Norma funcionalista: aqui a norma é ditada pelo prejuízo das funções relevantes. Assim, se alguém não consegue mover a mão está fora da norma, porque a mão não pode cumprir sua função de pegar. Enquanto a norma funcional é muito importante para os transtornos e doenças somáticas (ou corporais), não o é sempre no caso dos transtornos mentais, porque a função nem sempre é objetivável. Assim a sexualidade possui inúmeras funções - reprodução, prazer, comunicação, interpessoal… - de forma que se torna difícil definir os transtornos nessa área;
4. Norma social: aqui o transtorno é definido a partir de normas e valores definidos socialmente. A perspectiva da etiquetação (labeling) de Scheff postula o seguinte desenvolvimento para tais normas: (a) Desvio primário - a pessoa desrespeita um determinada norma social e isso pode levar a duas reações: ou o comportamento é "normalizado" (através de tolerância, racionalização, discussão)e assim o conflito é solucionado, ou o conflito não se soluciona de maneira positiva e a pessoa recebe uma "etiqueta" (ex. um diagnóstico, uma condenação jurídica…) e recebe assim uma atenção especial. Esse estigma leva a um (b)desvio secundário - a pessoa, em reação à etiquetação, começa a comportar-se de maneira diferente em conformidade com o novo papel social recebido: a pessoa começa a comportar-se de acordo com a etiqueta recebida. Esse é um dos grandes problemas ligados a todos os tipos de classificação e diagnóstico.1
5. Norma dos especialistas: esta é uma forma especial de norma social, definida por uma categoria especial de pessoas - os especialistas (médicos, psicólogos, etc.). Como as normas sociais, também estas estão sujeitas a uma certa dose de arbitrariedade. Os atuais sistemas de classificação (DSM-IV e CID-10) são formas especiais de normas de especialistas que têm por fim reduzir os perigos dessa arbitrariedade.
Classificação dos transtornos mentais
O sistema de Jaspers (1913)
Dentre os sitemas de classificação dos transtornos mentais o de Jaspers (1913) recebe, pela sua importância histórica, um lugar preponderante. Esse sistema é triádico, por diferenciar três formas de transtornos mentais:41. Doenças somáticas conhecidas que trazem consigo um transtorno psíquico, em seus subtipos:
- Doenças cerebrais;
- Doenças corporais com psicoses sintomáticas (ex. infecções, doenças endócrinas, etc.)
2. Os três grandes tipos de psicoses endógenas (ou seja, transtornos psíquicos cuja causa corporal ainda é desconhecida):
- Epilepsia genuína;
- Esquizofrenia, em seus diferentes tipos;
- Distúrbios maníaco-depressivos.
- Reações autônomas anormais não explicáveis por meio de doenças dos grupos 1 e 2 acima;
- Neuroses e síndromes neuróticas;
- Personalidades anormais e seu desenvolvimento.
Entre as neuroses costumam-se classificar: a perturbação obsessiva-compulsiva, a transtorno do pânico, as diferentes fobias, os transtornos de ansiedade,a depressão nervosa, a distimia, a síndrome de Burnout, entre outras.4
O tratamento das neuroses e psicoses pode ser feito com um psicoterapeuta, um psiquiatra ou equipes de profissionais de saúde mental. As equipes incluem sempre psicólogos e psiquiatras, e podem incluir também enfermeiros, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas e assistentes sociais, entre outros.7
Essa forma de classificação, apesar de muito utilizada ainda hoje, tem alguns problemas sérios: (a) a classificação limita o transtorno mental à pessoa (não correspondendo às exigências de uma análise bio-psico-social), (b) a diferenciação entre neurose e psicose endógena não é sempre tão clara como parece à primeira vista e (c) ambos os conceitos (neurose e psicose) estão ligados a uma etiologia psicanalítica dos transtornos mentais, tornando-os de utilidade limitada para profissionais de outras escolas1 (ver abaixo "Etiologia: A perspectiva psicoanalítica").
Os sistemas atuais de classificação
O uso de sistemas de classificação para os transtornos mentais possibilita diagnósticos psiquiátricos precisos, fornecendo uma base comum para o diálogo entre os psiquiatras e psicoterapeutas de diversas linhas. Os dois sistemas atualmente em uso - a Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial de Saúde e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, sigla em inglês), da Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association - APA) - prescindiram dos termos "neurose" e "psicose", salvo em raros casos, para os quais não havia termo mais apropriado. A CID é um sistema internacional, enquanto o DSM, tem sua importância ligada sobretudo à pesquisa. Apesar das diferenças, ambos os sistemas têm uma série de características em comum:8- O princípio da comorbididade, ou seja, uma pessoa pode ter ao mesmo tempo diferentes transtornos;
- A multiaxialidade, ou seja, a descrição do transtorno se dá em diferentes eixos, cada um dos quais se referindo a um aspecto diferente (a CID não é originalmente multiaxial, mas um tal sistema foi proposto);
- O sistema de diagnóstico operacional, ou seja, um diagnóstico é descrito com base em uma série de elementos semiológicos, sintomas e ou sinais, que devem estar presentes ou não por um período de tempo determinado. Discussões teóricas sem base empírica sobre a etiologia são deixadas de lado.
Digno de menção é o trabalho do Grupo OPD (Arbeitskreis OPD) que publicou o "Diagnóstico Psicodinâmico Operacionalizado" (OPD, sigla em alemão) que oferece uma classificação de diferentes aspectos psicodinâmicos em complementação aos outros dois sistemas [2].
Epidemiologia
Estudos recentes estimam que entre 32% (Robins & Regier, 1991) e 65% (Wittchen & Perkonigg, 1996) dos adultos sofreram em algum momento da vida de um transtorno mental. A grande diferença entre as estimativas dos dois trabalhos devem-se às dificuldades metodológicas envolvidas nesse tipo de trabalho. No entanto a literatura parece unânime em afirmar que os transtornos mais frequentes são as diferentes formas de fobia (9,2-24,9%), sobretudo as fobias específicas, a fobia social e a agorafobia; o abuso e a dependência de substâncias químicas (17,7-26,6%), sobretudo álcool; e os transtornos afetivos (5,5-19,8%), sobretudo a depressão.9 Outros transtornos são muito menos comuns.Ao contrário do que se pensa normalmente, os transtornos mentais são relativamente frequentes na população infanto-juvenil: entre 15% e 22% da população apresenta alguma forma de distúrbio nessa faixa etária, sobretudo as fobias, abuso e dependência de substâncias e transtornos afetivos.10 Além disso há indícios de que a frequência dos transtornos mentais não aumenta com a idade, com exceção dos transtornos da cognição causados pela demência.9
Os trantornos afetivos, os devidos à ação de substâncias psicoativas e os transtornos neuróticos (ou seja, ligados ao medo) costumam se manifestar pela primeira vez nas três primeiras décadas de vida. Enquanto a maioria desses transtornos aparece ais frequentemente a partir do fim da puberdade e do início da idade adulta, as fobias específicas tendem a se manisfetar pela primeira vez já na infância e na adolescência.11 Outro fenômeno muito comum é a comorbididade dos transtornos mentais: um distúrbio costuma vir acompanhado de um ou até mais transtornos.9
Etiologia
Os transtornos mentais são, tanto em sua gênese como em sua manifestação, fenômenos muito complexos.O modelo bio-psico-social
O modelo bio-psico-social procura fazer jus a essa complexidade buscando analisar a gênese e o desenvolvimento dos transtornos mentais sob diferentes pontos de vista, de acordo com os diferentes fatores que os influenciam:12- Fatores biológicos - como a predisposição genética e os processos de mutação que determinam o desenvolvimento corporal em geral, o funcionamento do organismo e o metabolismo, etc.;
- Fatores psicológicos - como preferências, expectativas e medos, reações emocionais, processos cognitivos e interpretação das percepções, etc.;
- Fatores socioculturais - como a presença de outras pessoas, expectativas da sociedade e do meio cultural, influência do círculo familiar, de amigos, modelos de papéis sociais, etc.
- Nível intrapessoal: são os transtornos de
(b) grupos de funções. Como a psicologia geral ainda não produziu modelos empíricos para tais grupos de funções e sua relação com os transtornos mentais, deve ficar sua descrição por hora no nível dos sintomas, das síndromes e dos diagnósticos, como descritos nos sistemas de classificação (CID-10 e DSM-IV)
- Nível interpessoal: são os transtornos de sistemas, ou seja, de conjuntos de duas ou mais pessoas - casal, família, empresa, escola, etc. Tais transtornos são em parte menos objeto de estudo da psicologia clínica e da psiquiatria do que da psicologia das organizações ou da psicologia pedagógica e não são normalmente tratados como distúrbios mentais. Seu significado para a compreensão dos transtornos mentais em sentido mais restrito é no entanto enorme, o que se mostra na estrutura multiaxial dos atuais sistemas de classificação (ver acima).
O modelo estresse-vulnerabilidade
Ver artigo principal: estresse
De acordo com o modelo estresse-vulnerabilidade o irromper de
um transtorno mental está ligado, de um lado, à presença de uma
predisposição genética ou adquirida no decorrer da vida (vulnerabilidade)
e, de outro, à exposição a situações estressantes. Quanto maior a
predisposição, menor tem de ser o nível de estresse para que um
distúrbio mental irrompa. A relação entre vulnerabilidade e estresse, no
entanto, é mediada pela resiliência, ou seja, a capacidade do indivíduo de resistir ao estresse13 Ver mais abaixo "Fatores vulnerabilizantes e fatores protetivos". Importante pare este tema é o conceito de salutogênese.Fatores genéticos
Apesar de fatores genéticos desempenharem sempre um papel ora mais ora menos importante na gênese dos transtornos mentais, até hoje pouco se sabe a respeito do exato funcionamento de seus mecanismos: apenas para o Mal de Alzheimer pôde-se localizar um grupo de genes responsáveis - que no entanto ainda não explica a doença completamente. Nos outros casos a influência genética parece dar de maneira mais indireta na forma de tendências, que são influenciadas (fortalecidas ou enfraquecidas) por outros fatores.14Fatores biológicos
Para o desenvolvimento dos transtornos mentais são importantes sobretudo três sistemas do corpo humano: o sistema nervoso, o sistema endócrino e o sistema imunológico.Relacionadas à maioria dos distúrbios mentais foram observadas modificações do sistema nervoso central; os distúrbios mais importantes ligaam-se às funções cognitivas (memória, atenção, concentração, processamento e avaliação de informações, planejamento de ações, etc.) bem como distúrbios da regualção das emoções e do estresse. Esses dois últimos grupos de funções estão, além disso, intimamente ligados ao sistema nervoso periférico - como no caso dos ataques de pânico, normalmente caracterizados por taquicardia e suor excessivo.15
A regulação hormonal desempenha também um importante papel no desenvolvimento dos transtornos mentais, e não apenas nos transtornos psicossomáticos. Modificações na regulação hormonal foram descritos também nas depressões, transtornos de estresse pós-traumático e transtornos alimentares. Aqui, como no caso dos demais fatores biológicos tratados, é muito difícil de estabelecer a causa, porque as observações têm caráter correlativo: é difícil estabelecer se o transtorno mental provoca a mudança física ou vice-versa.15
Fatores psicológicos
Fatores vulnerabilizantes e fatores protetivos
Fatores vulnerabilizantes são aqueles que provocam a vulnerabilidade da pessoa, ou seja, uma maior probabilidade de ela apresentar um transtorno mental. A vulnerabilidade pode ser pessoal, com uma maior influência dos fatores biológicos, ou ambiental, com maior influência de fatores sócio-econômicos e do meio ambiente. As diferentes vulnerabilidades podem ter um valor mais ou menos relativo conforme sejam mais ou menos estáveis - geneticamente determinadas ou ligadas a determinadas condições externas; relacionadas a determinadas fases da vida (ver abaixo, ex. puberdade) ou à situação geral da pessoa (ex. pobreza), etc.16Paralelamente aos fatores vulnerabilizantes há os chamados fatores protetivos, ou seja, aqueles que agem contra as condições estressantes, "fortalecendo" o indivíduo contra os transtornos mentais. Há dois tipos de tais fatores: os fatores de resiliência, que são as características pessoais e as competências que dão a uma pessoa a capacidade de se adaptar adequadamente a situações ruins ou mesmo ameaçadoras para o seu bem estar; e os fatores de apoio social, que se referem sobretudo ao meio ambiente e à rede social da pessoa. A capacidade de construir uma rede social está intimamente ligada às experiências com relacionamento feitas na infância (ver abaixo).16
A perspectiva das tarefas do desenvolvimento
Ver artigo principal: Psicologia do desenvolvimento
Robert J. Havighurst (1982)17 propõe, com seu conceito de tarefas do desenvolvimento (developmental tasks),
uma visão abrangente do desenvolvimento humano que envolve toda a sua
vida. Ele dividiu a vida humana em 6 fases, desde a infância até a
velhice. Cada uma dessas fases confronta o indivíduo com uma série de
tarefas ou desafios de ordem biológica ou cultural que devem ser
superados, a fim que o desenvolvimento seja visto como "normal". Por
exemplo fazem parte das tarefas do início da idade adulta a definição
profissional, a escolha de um parceiro, a fundação de uma família, a
criação dos filhos. Além das tarefas individuais existem também outros
tipos de tarefas, como as tarefas familiares (como se espera que uma
família se desenvolva). Caso a pessoa não possua os meios necessários (resources)
para superar essas tarefas ou não possa fazê-lo por influência externa
surge uma situação extremamente tensa que pode provocar ou pelo menos
facilitar o aparecimento de um transtorno mental. Sobre o estresse como
fator etiológico dos transtornos mentais ver mais abaixo.A perspectiva psicanalítica
Ver artigo principal: Psicanálise
Freud (1917)18
foi o primeiro a propor um modelo abrangente do desenvolvimento dos
transtornos mentais: De acordo com esse teórico são eles fruto de
tensões internas e, no mais das vezes, inconscientes não resolvidas que têm sua origem no desenvolvimento da libido
da criança. Nesse desenvolvimento a criança atravessa diferentes fases
(oral, anal, fálica, edipal e genital), nas quais faz a experiência de
ter determinadas necessidades saciadas ou não. Quando adulta a pessoa
faz determinadas experiências traumáticas que desencadeiam os distúrbios
mentais - a forma exata desses distúrbios está então ligada às
experiências feitas nas diferentes fases do desenvolvimento.Apesar de ser muito difundida e ter tido muita influência sobre toda a psicologia posterior, a perspectiva psicanalítica é alvo de muitas críticas, sobretudo por parte de psicólogos ligados a uma abordagem mais experimental em psicologia: Os conceitos psicanalíticos são de difícil operacionalização e são assim difíceis de ser averiguados empiricamente. Além disso vários estudos parecem sugerir que algumas partes da teoria original de Freud precisam ser revistas - sobretudo no que diz respeito à origem da personalidade. O poder heurístico da teoria psicanalista é no entanto muito grande, servindo como base de alguns paradigmas de pesquisa muito férteis também sob um ponto de vista empírico - como é o exemplo da teoria do apego (ver abaixo); além disso ela apontou desde muito cedo a importância da infância como uma fase central para o desenvolvimento dos transtornos mentais.16
A perspectiva da teoria do vínculo afetivo
Ver artigo principal: Teoria do vínculo afetivo
A teoria do vínculo ou da ligação afetiva (attachment)
parte da observação do chamado "comportamento de apego", que pode ser
observado em crianças desde seu nascimento: são formas de comunicação
rudimentares (ex. choro, sorriso, primeiros sons orais, mais tarde a
linguagem) que têm por fim gerar e manter a proximidade entre a criança e
sua mãe. Através desse tipo de comportamento surge uma forma especial
de relacionamento - o relacionamento de vínculo afetivo - que é
uma forma especial de relacionamento social caracterizada por segurança
emocional e confiança. A qualidade dos primeiros relacionamentos de
vínculo é de grande importância para o desenvolvimento da pessoa,
influenciando a auto-estima,
o otimismo em relação à vida, etc. O relacionamento mãe-filho é o
modelo de tal relacionamento, que no entanto pode se desenvolver com
outras pessoas (pai, mãe adotiva, babá, etc.). Problemas no
desenvolvimento de um relacionamento de vínculo saudável podem surgir
por meio de diferentes formas de privação social:
interações sociais dicontínuas, interações sociais nocivas e interações
sociais insuficientes. Esse tipo de privação aumenta a susceptibilidade
a diferentes tipos de transtorno mental, desde transtornos do
funcionamento social na infância (CID F94) até outros transtornos na
idade adulta.16A perspectiva da teoria da aprendizagem
Ver artigo principal: behaviorismo
Ver artigo principal: psicologia cognitiva
Ver artigo principal: psicologia da aprendizagem
A contribuição da psicologia da aprendizagem para o entendimento dos
transtornos mentais apontam três tipos de condições de aprendizagem que
aumentam a susceptibilidade a transtornos mentais - o comportamento
nocivo pode ser fruto:161. de processos de condicionamento:
- processos de condicionamento clássico ajudam a compreender vários tipos de fobia;
- conceitos derivados do condicionamento operante, como o de que é necessário um determinado nível de "reforços" (coisas e experiências positivas) na vida de alguém para que haja saúde mental e que assim o conceito de perda de reforços ajuda a compreender certos tipos de depressão; ou ainda que punição, na forma de castigos corporais ou psicológicos, dependendo de sua intensidade, frequência e consistência, pode tornar a pessoa susceptível a medos e inseguranças - ou a comportamentos agressivos;
3. de processos cognitivos: não apenas as condições do aprendizado em si podem ser negativas e facilitar o desenvolvimento de transtornos mentais, mas também sua interpretação pelo indivíduo. Aqui desempenham um papel muito importante os chamados padrões ou esquemas de pensamento disfuncionais: a pessoa está convencida de ser incapaz de influenciar a situação em que se encontra e por isso não vê as possibilidades que realmente tem, ou a pessoa tem teorias próprias a respeito do que outras pessoas pensam a respeito dela, etc.
Fatores Socio-culturais
Segundo Tseng (2001) a cultura pode ter seis tipos de efeito sobre os transtornos mentais:191. Efeito patogênico: Fatores culturais podem ser a origem explícita ou imediata de um transtorno mental. Exemplos são distúrbios frutos da quebra de um tabu ou o não cumprimento de uma expectativa social, como o suicídio de alunos que não são aprovados em exames de admissão típico de algumas culturas do extremo oriente.
2. Efeito pato-seletivo: cada cultura vê alguns comportamentos patológicos como mais ou menos aceitáveis, de acordo com suas próprias normas. Assim em algumas culturas certos comportamentos patológicos, como a agressividade ou o suicídio, são mais aceitos do que em outras.
3. Efeito pato-plástico: a cultura determina a forma de expressão de determinados transtornos, por exemplo o conteúdo das alucinações, determinados tipos de obsessões e fobias. Além disso alguns transtornos têm sintomas diferentes em diferentes culturas, como no caso da depressão: na Ásia faltam os sentimentos de culpa típicos da depressão na Europa.
4. Efeito pato-facilitante: determinados fatores culturais, como a permissividade o até mesmo a exigência de determinados tipos de comportamento que podem tornar-se patológicos, podem aumentar a frequência de determinados transtornos e na população. Assim culturas em que o álcool é mais aceito e em que bebedeiras fazem parte de determinadas circunstâncias sociais tendem a ter um maior número de casos de abuso e dependência desse tipo de substância.
5. Efeito pato-reativo: a cultura determina além disso a reação das pessoas a determinados tipos de doença. Essa é uma possível explicação para o fato de a esquizofrenia ter uma prognose mais positiva nos países em desenvolvimento do que nos países industrializados.
6. Idioma de estresse (Idioms of distress): cada cultura possui um "idioma" próprio para expressar seus estresses, tensões e problemas psíquicos. A esse fato estão relacionados as "síndromes ligadas à cultura" (culture bound syndromes), ou seja, determinados quadros clínicos que há apenas em determinados círculos culturais - como por exemplo as reações psicóticas ao Chi Kung, que há apenas na China, e a bulimia, típica da cultura ocidental.
Intervenção
Para as intervenções psicológicas ver intervenções psicológicas ou ainda psicoterapia. Para intervenções medicamentosas ver psicofarmacologia e psiquiatria.Referências
- ↑ Ir para: a b c d Perrez, Meinrad & Baumann, Urs (2005) (Hrgs.). Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- Ir para cima ↑ Bastine, Reiner (1998). Klinische Psychologie, Band 1. 3. Aufl. Stuttgart: Kohlhammer.
- Ir para cima ↑ Dalgalarrondo, Paulo (2000). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes médicas.
- ↑ Ir para: a b Jaspers, Karl (1973). Allgemeine Psychopathologie: ein Leitfaden für Studierende, Ärzte und Psychologen, 9. Aufl. Berlin: Springer.
- Ir para cima ↑ "seelische Abweichungen, welche den Menschen selbst nicht ergreifen" (Jaspers, 1973, p. 481).
- Ir para cima ↑ "Psychose [heißen] soche [seeliche Abweichungen], welche den Menschen im ganzen befallen" (Jaspers, 1973, p. 481).
- Ir para cima ↑ Bueno JR, Nunes-Filho EP, Nardi AE. Psiquiatria e Saúde Mental Conceitos Clínicos e Terapêuticos Fundamentais. Editora Atheneu, Rio de Janeiro, Brasil, 2001.
- Ir para cima ↑ Baumann & Stieglitz, 2005, cap. 4 em Meinrad Perrez & Urs Baumann (Hrgs.). Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- ↑ Ir para: a b c Lieb (2005), cap. 6 em Meinrad Perrez & Urs Baumann (Hrgs.), Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- Ir para cima ↑ Ihle, W. & Esser, G. (2002). "Epidemiologie psychischer Störungen im Kindes- und Jugendalter: Prävalenz, Verlauf, Komorbidität und Geschlechtsunterschied". Psychologischer Rundschau, 53. 159-169.
- Ir para cima ↑ Andrade, L. Caraveo-Anduaga, J.J. et al. (2000). "Cross-sectional comparisons of the prevalence and correlates of mental disorders. Bulletin of the World Health Organization, 78, 413-428.
- Ir para cima ↑ Myers, David G. (2008). Psychologie. Heidelberg: Springer.
- Ir para cima ↑ Baumann & Perrez (2005), cap. 7 em Meinrad Perrez & Urs Baumann (Hrgs.), Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- Ir para cima ↑ Maier & Wagner (2005), cap. 8 em em Meinrad Perrez & Urs Baumann (Hrgs.), Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- ↑ Ir para: a b Wingelfeld & Hellhammer (2005), cap. 9 em Meinrad Perrez & Urs Baumann (Hrgs.), Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- ↑ Ir para: a b c d e Perrez & Ahnert (2005), cap. 10 em Meinrad Perrez & Urs Baumann (Hrgs.), Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber.
- Ir para cima ↑ Havighurst, Robert J. (1982). Developmental tasks and education. New York: Longman.
- Ir para cima ↑ Freud, Sigmund (1917). Vorlesung zur Einführung in die Psychoanalyse. 3. Teil. Allgemeine Neurosenlehre. Leipzig: Heller.
- Ir para cima ↑ Tseg, W.-S. (2001). Handbook of cultural psychiatry. San Diego: Academic press.
Bibliografia
- Andrade, L. Caraveo-Anduaga, J.J. et al. (2000). "Cross-sectional comparisons of the prvalence and correlates of mental disorders. Bulletin of the World Health Organization, 78. [S.l.]: 413-428.. ISBN
- Bastine, Reiner (1998). Klinische Psychologie, Band 1. 3. Aufl. Stuttgart: Kohlhammer.. ISBN
- Dalgalarrondo, Paulo (2000). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes médicas.. ISBN
- Freud, Sigmund (1917). Vorlesung zur Einführung in die Psychoanalyse. 3. Teil. Allgemeine Neurosenlehre.. Leipzig: Heller.. ISBN
- Havighurst, Robert J. (1982). Developmental taskas and education. New York: Longman. (1. Ed. 1948)
- Ihle, W. & Esser, G. (2002). "Epidemiologie psychischer Störungen im Kindes- und Jugendalter: Prävalenz, Verlauf, Komorbidität und Geschlechtsunterschied". Psychologischer Rundschau, 53. [S.l.]: 159-169.. ISBN
- Jaspers, Karl (1973). Allgemeine Psychopathologie: ein Leitfaden für Studierende, Ärzte und Psychologen, 9. Aufl. Berlin: Springer. (1. Ed. 1913)
- Myers, David G. (2008). Psychologie. Heidelberg: Springer. ISBN 978-3-540-79032-7 (Original: Myers, 2007). Psychology, 8th Ed. New York: Worth Publishers.)
- Perrez, Meinrad & Baumann, Urs (2005) (Hrgs.). Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. 3. Aufl. Bern: Huber. ISBN 3-456-84241-4. ISBN
- Robins, L.N. & Regier, D.A. (eds.) (1991). Psychiatric disorders in America: The Epidemiologic Catchment Area Study. New York: Free Press.. ISBN
- Tseg, W.-S. (2001). Handbook of cultural psychiatry. San Diego: Academic press.. ISBN
- Wittchen, H.-U. & Perkonnig, A. (1996). "Epidemiologie psychischer Störungen. Grundlagen, Häufigkeit, Risikofatoren und Konsequenzen. In A. Ehlers & K. Hahlweg (Hrgs.), Enzyklopädie der Psychologie, Themenbereich D Praxisgebiet Band 1, Grundlagen der klinischen Psychologie (p. 69-144). Göttingen: Hogrefe.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
( Doença mental)
Pesquisa aponta causas dos transtornos mentais provocados pelo ambiente de trabalho
Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
(USP) mostrou de que forma os transtornos mentais podem estar ligados a
pressões impostas no ambiente de trabalho. Esta é a terceira razão de
afastamento de trabalhadores pelo Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS).
O coordenador da pesquisa, o médico do trabalho João Silvestre da Silva-Júnior, trabalha como perito da Previdência Social há seis anos e, tendo observado a grande ocorrência de afastamentos por causas ligadas ao comportamento, decidiu investigar o que tem provocado distúrbios psicológicos.
O cientista notou que a violência no trabalho ocorre pela humilhação, perseguição, além de agressões físicas e verbais e listou quatro razões principais que prejudicam a saúde mental no ambiente corporativo.
A primeira delas é a alta demanda de trabalho. “As pessoas têm baixo controle sob o seu ritmo de trabalho; elas são solicitadas a várias e complexas tarefas”, disse o pesquisador. O outro aspecto são os relacionamentos interpessoais ruins, tanto verticais (com os chefes), quanto horizontais (entre os próprios colegas).
A terceira razão é o desequilíbrio entre esforço e recompensa. “Você se dedica ao trabalho, mas não tem uma recompensa adequada à dedicação. A gente não fala só de dinheiro. Às vezes, um reconhecimento, um elogio ao que você está desempenhando”, explica Silvestre. O último aspecto citado pelo pesquisador é a dedicação excessiva ao trabalho, que também pode afetar a saúde mental.
A pesquisa coletou dados na unidade de maior volume de atendimentos do INSS da capital paulista, a Glicério. Foram ouvidas 160 pessoas com algum tipo de transtorno mental. Silvestre informa que, entre as pessoas que pediram o auxílio doença nos últimos quatro anos, uma média de 10% apresentava algum tipo de transtorno.
Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2011, mais de 211 mil pessoas foram afastadas em razão de transtornos mentais, gerando um gasto de R$ 213 milhões em pagamentos de benefícios. “Quando você entende o que gera os afastamentos, você pode estabelecer medidas para evitar os gastos”, disse. As doenças mentais só perderam, naquele ano, para afastamentos por sequelas de causas externas, como acidentes, e por doenças ortopédicas.
Em São Paulo, a pesquisa constatou a alta presença de trabalhadores do setor de serviços, como operadores de teleatendimento, profissionais da limpeza e da saúde com doenças mentais. “Mas essa variável do tipo de trabalho não se apresentou significativa no nosso estudo. Ela não apareceu como algo que influencia o aparecimento do transtorno mental incapacitante”, relata.
A pesquisa apontou que o perfil predominante entre os afastamentos foi o feminino e alta escolaridade (mais de 11 anos de estudo). Mas Silvestre alerta para uma distorção, porque as mulheres têm maior cuidado com a saúde, o que aumenta a presença feminina nas estatísticas.
“O sexo feminino apresentar uma maior possibilidade de transtorno mental está relacionado às mulheres terem facilidade em relatar queixas. Reconhece-se que as mulheres procuram os médicos com mais facilidade, elas têm uma maior preocupação com a saúde do que os homens”, contou. De acordo com o cientista, os homens demoram a ir ao médico e, quando vão, encontram-se em situação mais grave.
O fator escolaridade, segundo o estudo, pode afetar a percepção da existência das doenças. A maioria dos afastamentos ocorre com indivíduos de alta escolaridade, pois eles são mais esclarecidos. “As pessoas conseguem ter uma maior percepção de que o ambiente de trabalho está sendo opressor. Quando ela percebe que ali é um local ruim de trabalhar, ela vem a adoecer, a ter o distúrbio psicológico e termina se afastando”, disse.
Para melhorar o clima no trabalho e prevenir doenças, Silvestre recomenda que os profissionais ligados à saúde e segurança do trabalho das empresas tenham consciência sobre onde estão os fatores de risco. Ele sugere também uma melhora da fiscalização por parte dos ministérios do Trabalho e da Saúde.
Fonte: Agência Brasil
O coordenador da pesquisa, o médico do trabalho João Silvestre da Silva-Júnior, trabalha como perito da Previdência Social há seis anos e, tendo observado a grande ocorrência de afastamentos por causas ligadas ao comportamento, decidiu investigar o que tem provocado distúrbios psicológicos.
O cientista notou que a violência no trabalho ocorre pela humilhação, perseguição, além de agressões físicas e verbais e listou quatro razões principais que prejudicam a saúde mental no ambiente corporativo.
A primeira delas é a alta demanda de trabalho. “As pessoas têm baixo controle sob o seu ritmo de trabalho; elas são solicitadas a várias e complexas tarefas”, disse o pesquisador. O outro aspecto são os relacionamentos interpessoais ruins, tanto verticais (com os chefes), quanto horizontais (entre os próprios colegas).
A terceira razão é o desequilíbrio entre esforço e recompensa. “Você se dedica ao trabalho, mas não tem uma recompensa adequada à dedicação. A gente não fala só de dinheiro. Às vezes, um reconhecimento, um elogio ao que você está desempenhando”, explica Silvestre. O último aspecto citado pelo pesquisador é a dedicação excessiva ao trabalho, que também pode afetar a saúde mental.
A pesquisa coletou dados na unidade de maior volume de atendimentos do INSS da capital paulista, a Glicério. Foram ouvidas 160 pessoas com algum tipo de transtorno mental. Silvestre informa que, entre as pessoas que pediram o auxílio doença nos últimos quatro anos, uma média de 10% apresentava algum tipo de transtorno.
Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2011, mais de 211 mil pessoas foram afastadas em razão de transtornos mentais, gerando um gasto de R$ 213 milhões em pagamentos de benefícios. “Quando você entende o que gera os afastamentos, você pode estabelecer medidas para evitar os gastos”, disse. As doenças mentais só perderam, naquele ano, para afastamentos por sequelas de causas externas, como acidentes, e por doenças ortopédicas.
Em São Paulo, a pesquisa constatou a alta presença de trabalhadores do setor de serviços, como operadores de teleatendimento, profissionais da limpeza e da saúde com doenças mentais. “Mas essa variável do tipo de trabalho não se apresentou significativa no nosso estudo. Ela não apareceu como algo que influencia o aparecimento do transtorno mental incapacitante”, relata.
A pesquisa apontou que o perfil predominante entre os afastamentos foi o feminino e alta escolaridade (mais de 11 anos de estudo). Mas Silvestre alerta para uma distorção, porque as mulheres têm maior cuidado com a saúde, o que aumenta a presença feminina nas estatísticas.
“O sexo feminino apresentar uma maior possibilidade de transtorno mental está relacionado às mulheres terem facilidade em relatar queixas. Reconhece-se que as mulheres procuram os médicos com mais facilidade, elas têm uma maior preocupação com a saúde do que os homens”, contou. De acordo com o cientista, os homens demoram a ir ao médico e, quando vão, encontram-se em situação mais grave.
O fator escolaridade, segundo o estudo, pode afetar a percepção da existência das doenças. A maioria dos afastamentos ocorre com indivíduos de alta escolaridade, pois eles são mais esclarecidos. “As pessoas conseguem ter uma maior percepção de que o ambiente de trabalho está sendo opressor. Quando ela percebe que ali é um local ruim de trabalhar, ela vem a adoecer, a ter o distúrbio psicológico e termina se afastando”, disse.
Para melhorar o clima no trabalho e prevenir doenças, Silvestre recomenda que os profissionais ligados à saúde e segurança do trabalho das empresas tenham consciência sobre onde estão os fatores de risco. Ele sugere também uma melhora da fiscalização por parte dos ministérios do Trabalho e da Saúde.
Fonte: Agência Brasil
Transtornos mentais afetam 700 milhões no mundo; veja mitos e verdades
Chris Bueno
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Segunda causa mais comum de invalidez em todo o mundo, a depressão fica atrás apenas das dores nas costas, segundo um estudo recém-publicado na revista científica PLOS Medicine.
A pesquisa comparou a depressão clínica, um dos transtornos mentais
mais comuns, com outras 200 doenças e lesões apontadas como causas de
invalidez. Segundo os autores, a doença deve ser tratada como uma
prioridade de saúde pública global.
Falar sobre transtornos mentais ainda é um assunto muito delicado. Mas o fato é que eles são bem mais comuns do que se imagina. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os transtornos mentais atingem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, representando 13% do total de todas as doenças. E apesar de doenças como esquizofrenia e psicose serem as primeiras lembradas ao se falar no assunto, elas não são as mais frequentes. No topo da lista estão a depressão e a ansiedade.
No Brasil, a capital paulista é a cidade com o índice mais alto de habitantes com transtornos mentais. Isso é o que aponta o projeto São Paulo Megacity: estudo realizado pelo IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo com 5.037 residentes dos 39 municípios da região da Grande São Paulo, em 2012.
Depressão
A depressão é caracterizada pela tristeza, baixa autoestima, pessimismo e desânimo. Segundo a OMS, a depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas pelo planeta, o que corresponde a 5% da população mundial. Só no Brasil, 10% da população sofrem com o problema.
Já a ansiedade é caracterizada por excesso de pensamentos negativos, sensação de aflição, incapacidade de relaxar, tensão e preocupação exagerada. De acordo com a organização, a ansiedade atinge 10 milhões de pessoas.
Apesar dos altos números, muitas pessoas consideram a depressão e a ansiedade mais um "estado emocional" do que uma doença. O que é um erro grave: não dando o devido valor a esses sintomas, pode-se adiar o diagnóstico da doença, agravar seu estado e até mesmo prejudicar seu tratamento.
"É necessário entender que o transtorno mental é uma doença como qualquer outra, como diabetes, por exemplo. É necessário buscar tratamento para que os sintomas sejam controlados e, assim, a pessoa possa levar uma vida normal", afirma a psicóloga Ana Cristina Fraia, coordenadora terapêutica da Clínica Maia Prime.
Uma doença com tratamento
Os transtornos mentais podem ser causados por vários fatores, entre eles a genética, a química cerebral (problemas hormonais ou uso de substâncias tóxicas que afetam o cérebro) e o estilo de vida são tidos como os principais. "Muita pessoas acreditam que os transtornos mentais não tem componente físico e, portanto seriam causados apenas por fatores externos, ambientais, sociais", aponta Pedro Katz, psiquiatra do Hospital Samaritano de São Paulo.
Como qualquer doença, os transtornos mentais precisam de tratamento e acompanhamento especializado. Existem medicamentos eficazes para tratar depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo e todas as outras doenças mentais.
"Hoje, com um refinamento maior dos diagnósticos e com o avanço dos tratamentos, pode-se ajudar pessoas que possuem alterações mais sutis em relação a um sofrimento emocional, mas que, se diagnosticadas e tratadas, apresentam uma melhora importante na qualidade de vida", explica Marco Antônio Abud Torquato Junior, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Ipq/HCFMUSP) e do Hospital Universitário da USP.
Porém o tratamento não é fácil: ele exige comprometimento e adesão - em muitos casos para a vida toda. Isso porque a maioria dos transtornos mentais não tem cura. Muitos médicos os comparam às doenças como hipertensão ou diabetes, que também não têm cura, mas podem ser controladas a ponto do paciente viver bem. "Não tem cura, mas tem controle - desde que a pessoa busque e siga um tratamento adequado. Aí é possível atingir uma boa qualidade de vida", ressalta Fraia.
Preconceito e desinformação
O que não pode é ficar sem tratamento - o que acontece muitas vezes devido ao preconceito e a desinformação que cercam os transtornos mentais. E vencer isso é um verdadeiro desafio.
"Em geral, o maior desafio está no início do tratamento, em ajudar a própria pessoa e sua família a vencerem o preconceito e o estigma em relação a realizar um tratamento psiquiátrico", afirma Torquato.
Parte desse preconceito existe justamente pela falta de informação. O assunto ainda é considerado tabu e dificilmente é discutido abertamente, mesmo na mídia. Também não existem muitos materiais informativos ou campanhas para esse tipo de doença. E a informação é um aliado importantíssimo na hora de fazer um diagnóstico e buscar um tratamento, que pode fazer toda a diferença para a qualidade de vida e o bem-estar do paciente.
"As pessoas ainda têm muita dificuldade e pouco acesso a informações que as auxilie a compreender que, embora estejamos falando de doenças que se manifestam com alterações emocionais, mudanças de humor, do comportamento e do pensamento, existe na maioria dos casos um comprometimento orgânico. E que é necessário um tratamento, que é efetivo na grande maioria dos casos", explica Katz.
Falar sobre transtornos mentais ainda é um assunto muito delicado. Mas o fato é que eles são bem mais comuns do que se imagina. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os transtornos mentais atingem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, representando 13% do total de todas as doenças. E apesar de doenças como esquizofrenia e psicose serem as primeiras lembradas ao se falar no assunto, elas não são as mais frequentes. No topo da lista estão a depressão e a ansiedade.
No Brasil, a capital paulista é a cidade com o índice mais alto de habitantes com transtornos mentais. Isso é o que aponta o projeto São Paulo Megacity: estudo realizado pelo IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo com 5.037 residentes dos 39 municípios da região da Grande São Paulo, em 2012.
Depressão
A depressão é caracterizada pela tristeza, baixa autoestima, pessimismo e desânimo. Segundo a OMS, a depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas pelo planeta, o que corresponde a 5% da população mundial. Só no Brasil, 10% da população sofrem com o problema.
Já a ansiedade é caracterizada por excesso de pensamentos negativos, sensação de aflição, incapacidade de relaxar, tensão e preocupação exagerada. De acordo com a organização, a ansiedade atinge 10 milhões de pessoas.
Apesar dos altos números, muitas pessoas consideram a depressão e a ansiedade mais um "estado emocional" do que uma doença. O que é um erro grave: não dando o devido valor a esses sintomas, pode-se adiar o diagnóstico da doença, agravar seu estado e até mesmo prejudicar seu tratamento.
"É necessário entender que o transtorno mental é uma doença como qualquer outra, como diabetes, por exemplo. É necessário buscar tratamento para que os sintomas sejam controlados e, assim, a pessoa possa levar uma vida normal", afirma a psicóloga Ana Cristina Fraia, coordenadora terapêutica da Clínica Maia Prime.
Os transtornos mentais podem ser causados por vários fatores, entre eles a genética, a química cerebral (problemas hormonais ou uso de substâncias tóxicas que afetam o cérebro) e o estilo de vida são tidos como os principais. "Muita pessoas acreditam que os transtornos mentais não tem componente físico e, portanto seriam causados apenas por fatores externos, ambientais, sociais", aponta Pedro Katz, psiquiatra do Hospital Samaritano de São Paulo.
Como qualquer doença, os transtornos mentais precisam de tratamento e acompanhamento especializado. Existem medicamentos eficazes para tratar depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo e todas as outras doenças mentais.
"Hoje, com um refinamento maior dos diagnósticos e com o avanço dos tratamentos, pode-se ajudar pessoas que possuem alterações mais sutis em relação a um sofrimento emocional, mas que, se diagnosticadas e tratadas, apresentam uma melhora importante na qualidade de vida", explica Marco Antônio Abud Torquato Junior, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Ipq/HCFMUSP) e do Hospital Universitário da USP.
Porém o tratamento não é fácil: ele exige comprometimento e adesão - em muitos casos para a vida toda. Isso porque a maioria dos transtornos mentais não tem cura. Muitos médicos os comparam às doenças como hipertensão ou diabetes, que também não têm cura, mas podem ser controladas a ponto do paciente viver bem. "Não tem cura, mas tem controle - desde que a pessoa busque e siga um tratamento adequado. Aí é possível atingir uma boa qualidade de vida", ressalta Fraia.
Preconceito e desinformação
O que não pode é ficar sem tratamento - o que acontece muitas vezes devido ao preconceito e a desinformação que cercam os transtornos mentais. E vencer isso é um verdadeiro desafio.
"Em geral, o maior desafio está no início do tratamento, em ajudar a própria pessoa e sua família a vencerem o preconceito e o estigma em relação a realizar um tratamento psiquiátrico", afirma Torquato.
Parte desse preconceito existe justamente pela falta de informação. O assunto ainda é considerado tabu e dificilmente é discutido abertamente, mesmo na mídia. Também não existem muitos materiais informativos ou campanhas para esse tipo de doença. E a informação é um aliado importantíssimo na hora de fazer um diagnóstico e buscar um tratamento, que pode fazer toda a diferença para a qualidade de vida e o bem-estar do paciente.
"As pessoas ainda têm muita dificuldade e pouco acesso a informações que as auxilie a compreender que, embora estejamos falando de doenças que se manifestam com alterações emocionais, mudanças de humor, do comportamento e do pensamento, existe na maioria dos casos um comprometimento orgânico. E que é necessário um tratamento, que é efetivo na grande maioria dos casos", explica Katz.
Ampliar
Quando
se fala em TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), muita gente se lembra
do personagem Melvin Udall, interpretado por Jack Nicholson no filme
"Melhor é Impossível", de 1997. São famosas as cenas em que ele anda na
rua evitando pisar nas linhas das calçadas, lavando a mão com água
quente ou levando seus próprios talheres ao restaurante. No filme, os
rituais são engraçados, mas, no mundo real, o transtorno traz muito
sofrimento e vergonha. Vários já admitiram o problema à imprensa, como o
cantor Roberto Carlos, a ex-modelo e atriz Luciana Vendramine, a atriz
sul-africana Charlize Theron, o ator Leonardo DiCaprio, o jogador inglês
David Beckham. Veja, a seguir, alguns deles: Leia mais Divulgação
Nenhum comentário:
Postar um comentário