1.18.2014

Fertilidade feminina



O organismo feminino é algo complexo até mesmo para os especialistas da área. Fora do campo clínico, as dúvidas também são muitas, especialmente quando o assunto é fertilidade.
Outro fator que gera ainda mais questões é a mudança de comportamento da mulher com relação a isso: muitas delas estão preferindo adiar a maternidade e apostar no avanço das técnicas de fertilização para viver o sonho somente após conquistar a estabilidade profissional e financeira.

Mas as dúvidas em torno do assunto são inúmeras. Tomar anticoncepcional por muito tempo prejudica a fertilidade? E a obesidade, o estresse ou o tabagismo? Quem tem ovário policístico não pode ser mãe? Confira estas e outras perguntas mais comuns respondidas por Ricardo Barini, ginecologista e obstetra da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; Augusto Bussab, ginecologista e especialista em reprodução humana; e Graciela Morgado, ginecologista e diretora da Clínica Invita, de São Paulo.
Quais são as principais causas da infertilidade feminina?
As principais causas são as dificuldades no processo de ovulação. Além disso, também existem as sequelas que as infecções pélvicas e a endometriose podem provocar nos órgãos internos, isto é, nas trompas, ovários e útero. Juntos, estes dois motivos correspondem a mais de 60% das causas de infertilidade feminina.
Como saber se a mulher é fértil? Que testes é preciso fazer?
Uma mulher pode ser considerada infértil quando, em um período de 12 meses mantendo relações sexuais sem métodos contraceptivos, não consegue engravidar. Existe uma avalição básica que é feita no casal, com exames de dosagens hormonais, sorologias e outros de ordem bioquímica, que variam de caso para caso. No entanto, para as mulheres existem alguns exames importantes. São eles:
Ultrassonografia: este exame pode ser realizado pelo abdome (é necessário estar com a bexiga cheia) ou pela vagina (transvaginal). Ele avalia o corpo uterino, o endométrio (camada interna do útero) e os ovários. É de grande importância para acompanhar o crescimento dos folículos ovarianos (onde se encontram os óvulos) e determinar a ovulação (quando há a ruptura do folículo com saída do óvulo do ovário, em direção à trompa).
Dosagens Hormonais: servem para diagnosticar a reserva ovariana.
Histeroscopia: utiliza-se um equipamento que permite visualizar a cavidade uterina para diagnósticos, biópsias e até mesmo cirurgias, como a retirada de pólipos, miomas e septos.
Histerosalpingografia: é um exame radiológico em que se injeta um líquido (contraste) que percorre o útero e as trompas. Serve para avaliar a cavidade uterina e a permeabilidade das trompas.
A partir de que idade a mulher pode engravidar?
A mulher está suscetível à gravidez a partir do momento de sua primeira menstruação. Porém, para um melhor preparo psicológico e anatômico do desenvolvimento corporal de uma menina, o ideal seria entre 25 e 35 anos.
As mulheres devem engravidar até os 35 anos? Por quê?
Após os 36 anos, a taxa de fertilização e implantação do embrião – no caso da fertilização in vitro – já começa a mostrar um declínio e isto é comprovado por meio de vários trabalhos científicos. A taxa de fertilidade começa a cair a partir dos 35 anos em decorrência do envelhecimento dos óvulos, por isso a preservação de fertilidade com vitrificação (congelamento) é uma opção a ser cogitada. Também é verdade que as mulheres que desejam engravidar deverão primeiramente saber se têm condições físicas para isso. Estando tudo bem com a saúde não há problemas de isso ocorrer um pouco mais tarde, mesmo porque essa mulher será assistida e orientada da melhor maneira quando estiver fazendo seu pré-natal.
Depois de quanto tempo de tentativa um casal deve procurar ajuda para engravidar?
A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) define infertilidade como a ausência de gravidez após um ano de relações sexuais frequentes sem o uso de método contraceptivo.
A pílula anticoncepcional, quando usada por muito tempo, pode prejudicar a reprodução?
Não. O que ocorre é que o uso dos anticoncepcionais mascaram as dificuldades ovulatórias já existentes, ou seja, ao parar de consumir o medicamento e começar a tentar engravidar, eles podem ficar em evidência. Além disso, existem casos – pouco frequentes – de alterações hormonais induzidas pelo uso de anticoncepcional. A mais conhecida é a amenorréia pós-pílula, que é a falta de ovulação e também dos fluxos menstruais depois do uso do método contraceptivo. Estes casos são reversíveis com uso de indutores da ovulação.
Problemas de fertilidade são hereditários?
A infertilidade pode, sim, estar associada a algum problema genético.
O estresse diminui as chances de engravidar? Por quê?
O estresse poderá mudar o metabolismo de uma pessoa e, com isso, ocasionar possíveis dificuldades neste sentido. Entre os fatores ligados ao estresse e à possibilidade de engravidar estão o desconforto na relação sexual e a alteração do PH vaginal.
Mulheres que têm endometriose podem ter a fertilidade prejudicada? Por quê?
Sim. A endometriose pode trazer vários problemas para fertilidade feminina, como a obstrução tubária, as aderências peritoneais e os endometriomas. A endometriose é uma patologia que acomete mulheres em idade fértil. Ocorre quando o endométrio (que é a camada interna do útero, que se renova mensalmente com a menstruação) apresenta-se em locais fora do útero. O diagnóstico definitivo é feito após a retirada de um pequeno fragmento de tecido (biopsia), coletado em procedimentos cirúrgicos como a laparotomia ou a videolaparoscopia.
Existe tratamento para a endometriose?
Sim, pode ser clínico (via medicação) ou cirúrgico – vai depender dos sintomas e dos planos da paciente relacionados a uma gravidez futura, levando em conta a sua idade e a extensão da doença. Ambos os tratamentos não curam a endometriose, mas são feitos para preservar a fertilidade.
Quem tem ovário policístico não pode ter filho?
Isso é mito. Alguns casos de ovários policísticos podem trazer alterações hormonais que talvez causem para a mulher algumas dificuldades para engravidar – mas isso não quer dizer que ela não terá chance.
Mulheres que têm miomas apresentam mais dificuldade para engravidar?
Apesar de 5 a 10% dos casos de infertilidade estarem associados ao mioma do útero, em apenas 1 a 3% ele é o único responsável. Muitas vezes, junto com o mioma existem outros problemas que causam impacto na fertilidade, como a endometriose, presente em quase a metade destas pacientes. Sendo assim, é de extrema importância o rastreamento para afastar outros fatores associados. Entre os principais mecanismos pelos quais os miomas prejudicam o processo reprodutivo, destacam-se as alterações anatômicas que deformam a cavidade uterina, encontradas principalmente em miomas submucosos e intra-murais.
Remédios que suspendem a menstruação podem prejudicar a fertilidade?
Os anticoncepcionais que suspendem a menstruação em nada alteram a fertilidade, nem mesmo o uso por um longo período.
A alimentação influencia na fertilidade? De que forma?
A nutrição funcional é uma área de investigação que avalia os efeitos dos alimentos em vários aspectos da saúde. Uma alimentação bem balanceada com distribuição de carboidratos, gorduras e proteínas, com ênfase em frutas, verduras e legumes frescos pode trazer efeitos benéficos à fertilidade. Além disso, quanto mais a dieta for composta por alimentos frescos e da estação, mais provável que cumpra com as necessidades mínimas da gestante e do bebê.
Existe algum tipo de alimento que tem impacto direto na fertilidade feminina? Quais são eles e por que têm ligação com este aspecto?
A qualidade ovular pode melhorar a partir do consumo de alimentos ricos em vitaminas e antioxidantes, indicam alguns dados da literatura médica. Como consequência, a taxa de gravidez em mulheres em tratamentos para fertilidade pode aumentar e por isso recomenda-se a suplementação da dieta com compostos ricos em vitaminas E e C.
A obesidade interfere na fertilidade?
Sim, porque o excesso de peso interfere na produção hormonal que regula a ovulação. Além disso, ele está indiretamente associado a outras alterações clínicas que também podem prejudicar a fertilidade, como a diabetes mellitus, o hipotireoidismo e a hipertensão arterial. Outra questão importante é que a obesidade atua como um fator inflamatório constante, podendo interferir na implantação embrionária e aumentar a taxa de abortamento precoce.
A diabetes pode influenciar na fertilidade?
A diabetes tipo 2 geralmente está associada à obesidade e resistência à insulina. Estas duas condições podem causar deficiência hormonal na mulher, assim como ciclo menstrual irregular e infertilidade. Já a diabetes tipo 1, que normalmente acomete pacientes jovens, ocorre quando as células no pâncreas que produzem insulina são destruídas por anticorpos. Esse processo também pode se estender a outros órgãos endócrinos, incluindo os ovários.
Remédios para depressão prejudicam a fertilidade? Por quê?
Os antidepressivos podem influenciar a fertilidade, pois alteram a função ovulatória. Além disso, eles podem trazer alguns efeitos adversos, como a disfunção orgásmica e diminuição de libido. Portanto, o uso deve ser muito bem avaliado pelo médico.
As fumantes têm dificuldades para engravidar? Por quê?
Alguns trabalhos científicos apontam que o tabagismo feminino ou mesmo masculino podem diminuir a taxa de implantação do embrião no endométrio. O tabagismo é responsável por diminuir a reserva ovariana nas mulheres. Existem dados que indicam que o número de mulheres que levaram mais de um ano para concepção foi 54% maior em tabagistas em relação a não-tabagistas.
Quem já tem ou já teve DST pode ter a fertilidade prejudicada?
Em algumas situações específicas as DSTs poderão sim prejudicar a fertilidade, sim. Gonorreia, clamídia e sífilis são exemplos de DSTs que, quando não tratadas adequadamente, podem resultar em quadro de infertilidade.
Quem já abortou uma vez (aborto provocado ou espontâneo) terá mais dificuldade de engravidar?
O aborto espontâneo não impede a mulher de engravidar novamente. Porém, as que tiverem “abortos de repetição”, definidos como a presença de três ou mais abortos (também chamados de aborto habitual), terão que fazer pesquisa de cromossomopatia, trombofilia, aspectos imunológicos e fatores anatômicos para confirmar quais são suas chances.
O consumo de álcool afeta a fertilidade?
O etilismo provoca alterações hormonais e a diminuição das taxas de sucesso em tentativas de gravidez natural e também nos tratamentos de reprodução assistida. Estudos mostram que o consumo de álcool diminui as taxas de sucesso de tratamentos de reprodução assistida e que essa diminuição está relacionada com o tempo durante o qual a pessoa consumiu álcool pela última vez antes do início do tratamento. No caso de consumo de 12 g de álcool por dia até um mês antes do tratamento ou tentativa de engravidar, a chance de gravidez pode cair 2,86 vezes, em comparação a 4,14 vezes menor quando o período de ingestão de álcool ocorreu uma semana antes do tratamento.
Qual é o tratamento mais eficaz para uma mulher com dificuldade de engravidar?
Quando se trata de saúde, cada caso é um caso – cada organismo tem uma prioridade. Depois de uma primeira análise, existem algumas alternativas, sendo que as mais comuns são:
Coito programado: “agendar” o melhor período para o sexo.
Inseminação intrauterina: ocorre por meio da estimulação ovariana, com acompanhamento ultrassonográfico. No momento da ovulação, são injetados os melhores espermatozoides dentro do útero.
Fertilização “in vitro” (FIV): ocorre por meio da estimulação ovariana, com acompanhamento ultrassonográfico. Antes da ovulação, retiram-se os óvulos que serão fertilizados em laboratório. Depois, o embrião já pronto é colocado dentro do útero.
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Dra. Carla Góes Souza Pérez



TÉCNICAS DE PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE

As técnicas de preservação da fertilidade são:

Vitrificação dos óvulos:

A vitrificação de óvulos permite que os óvulos maduros conseguidos após a estimulação ovariana sejam criopreservados para utilização posterior quando a paciente decidir com o mesmo prognóstico que se tinha no momento de serem vitrificados. Devido à ausência de formação de cristais de gelo, as taxas de sobrevivência dos óvulos são elevadas, permitindo atrasar a maternidade com garantias razoáveis.

Congelamento do córtex ovariano:

A criopreservação do córtex ovariano é outra técnica de preservação da fertilidade, através da qual já se têm conseguido diversos nascimentos a nível mundial. Esta técnica permitiria restabelecer a função ovariana, com o que, inclusive, a possibilidade de conseguir gestações espontâneas, além disso, ao ter níveis hormonais normais, evitamos os efeitos secundários próprios de uma menopausa precoce (osteoporose, calores, risco cardiovascular).

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Transposição de ovários (Ooforopexia):

A transposição de ovários é uma técnica de preservação da fertilidade que consiste em afastar os ovários do campo de irradiação para evitar a exposição direta dos mesmos à radioterapia, e evitar assim o dano considerável que esta pode provocar nas gônadas quando se encontram no campo de radiação.

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PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE: PACIENTES COM CÂNCER

No IVI contribuímos para melhorar a autoestima dos pacientes com câncer através das possibilidades que as diferentes técnicas de reprodução assistida podem oferecer-lhes. A melhoria dos tratamentos oncológicos e a eficácia dos programas de diagnóstico precoce conseguiram que as taxas de cura e sobrevivência de alguns tumores aumentassem consideravelmente. Este aumento de esperança de vida obriga a dar uma maior importância aos efeitos secundários dos tratamentos com quimio e radioterapia e, nesse sentido, a função ovariana e a manutenção da fertilidade são dois dos aspetos que mais preocupam os pacientes com câncer. Por isso, os nossos profissionais trabalham para oferecer possibilidades reprodutivas a estes pacientes.

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