O consumo indiscriminado no Brasil do medicamento omeprazol, indicado contra úlceras e gastrite e distribuído gratuitamente em São Paulo, preocupa os médicos. “Quando a pessoa sabe que vai beber muito e exagerar na comida já toma um omeprazol para prevenir”, exemplifica o presidente da Federação das Sociedades de Cancerologia, Roberto Gomes. Ele cita dois estudos recentes que relacionam o uso prolongado do remédio a sérios problemas de saúde, entre eles o tipo mais comum de câncer de estômago, o adenocarcinoma.
Nesta semana, o tema veio à tona durante um simpósio promovido pelo Instituto Oncoguia, associação sem fins lucrativos voltado a pacientes com câncer. Gomes critica a banalização do remédio, que tem sido usado erroneamente como substituto de antiácidos comuns e pastilhas, segundo os médicos ouvidos pela reportagem. “Ele não é tão fraco quanto os antiácidos, por exemplo. Isso é preocupante porque não é essa sua função”, diz. Ele destaca os resultados de um estudo feito pelo Departamento de Patologia da Universidade de Ciência Médica de Shiga, no Japão, que encontrou 60% mais casos de adenocarcinomas de estômago em roedores que ingeriram omeprazol por um longo período.A pesquisa feita no Japão – um dos países com as maiores taxas de câncer de estômago no mundo – foi publicada em fevereiro deste ano no jornal londrino Gut, especializado em gastroenterologia, e aponta para um risco associado ao uso prolongado do fármaco por pelo menos seis meses. O estudo foi feito com quatro grupos de 15 roedores e cada um deles recebeu um tipo de combinação de medicamentos usados no tratamento de úlceras gastrointestinais – remédios chamados de inibidores de bomba de prótons.
Distribuído gratuitamente pela Secretaria Municipal da Saúde, o omeprazol age na diminuição da quantidade de ácido produzida pelo estômago, sendo indicado para tratar doenças nas quais há excesso de produção desse ácido pelas células parietais do estômago – como gastrites, úlceras e esofagites. O remédio tem boa saída também na rede particular, na qual a venda dispensa receita médica, com aumento de vendas no último ano (leia mais abaixo).
“Hoje em dia é muito fácil comprá-lo. Muitas vezes o paciente já chega no consultório tomando o remédio”, relata Felipe Coimbra, oncologista e diretor de cirurgia abdominal do Hospital A. C. Camargo. Embora o estudo japonês seja uma evidência isolada da ligação com o câncer de estômago, há na literatura médica pesquisas que associam o excesso a outros problemas.
Em abril deste ano, o Departamento de Medicina e Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, divulgou um estudo associando o consumo exagerado dos fármacos inibidores de bomba de prótons a deficiências de ferro e magnésio, aumento da suscetibilidade à pneumonia, infecções entéricas, fraturas, entre outros problemas.
Os pesquisadores enfatizam, contudo, que os benefícios desses medicamentos superam seus riscos na maioria dos pacientes, mas idosos, desnutridos, pessoas com comprometimento imunológico, doentes crônicos e doentes com osteoporose podem ser mais suscetíveis aos efeitos colaterais.
Faturamento do remédio cresceu 14% em um ano
Há mais de 50 laboratórios farmacêuticos que fabricam remédios à base de omeprazol, inclusive genéricos e similares. “É um dos mais representativos produtos da empresa nesse mercado”, informa Marco Aurélio Miguel, diretor de Marketing da Divisão EMS Genéricos.
Segundo dados da IMS Health, no acumulado de agosto de 2010 a julho de 2011 foram comercializadas cerca de 2,4 milhões de unidades do remédio no País, com faturamento de R$ 67,5 milhões. “No comparativo entre os períodos acumulados de agosto de 2010 e julho de 2011 e agosto de 2009 e julho de 2010, o omeprazol cresceu 14% em faturamento, ainda segundo a IMS Health”, destaca o executivo da EMS.
O mercado de omeprazol no Brasil representa cerca de 31% das vendas de todos os remédios inibidores de bomba de prótons, segundo a IMS Health. Vários laboratórios que fabricam medicamentos dessa categoria foram contatados pelo JT, mas só a EMS, que tem uma extensa linha de remédios na área de gastroenterologia, respondeu à reportagem.
Nota "boaspraticasfarmaceuticas": Não tem base científica comprovada que o uso excessivo de omeprazol causa câncer de estômago. A pesquisa no Japão como diz a reportagem é uma evidência isolada realizada em animais. Vale aqui lembrar que existem outros antiácidos como Antak, Zilium e outros que não foram citados. Não seria o caso de restringir o uso em excesso de todos? Porque só o omeprazol?
TATIANA PIVA
Estadão
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