9.09.2011

Medo de dentista



Para alguns a consulta odontológica é um verdadeiro pesadelo, que vai além de um simples desconforto. O profissional também precisa controlar a ansiedade e o estresse despertados pela tensão do paciente
por Massimo Barberi
© poodlesrock/corbis/latinstock

Pinças, brocas, alicates, seringas e agulhas. E ainda amálgamas e preparados de sabor ruim. À primeira vista, todos esses instrumentos e materiais não parecem oferecer bons prenúncios. Talvez por isso, ir ao dentista seja uma daquelas tarefas que, com prazer, deixaríamos de fazer, se fosse possível. Se a maioria sente desconforto em algum nível ao programar tratamentos odontológicos, para alguns a cadeira reclinada causa verdadeira fobia. E às vezes o sofrimento começa antes mesmo de a pessoa entrar no consultório. Mas o paciente não é o único a sofrer: o dentista enfrenta a própria ansiedade. E entre todas as profissões da área médica talvez seja a menos “poética”: além de passar o dia todo com as mãos na boca dos outros, o profissional ainda precisa ajudar os pacientes a superar seus pavores.


O medo de dentista é um fenômeno conhecido há centenas de anos. As primeiras crônicas remontam à Idade Média, quando o imaginário popular relegava ao “tiradentes” um papel inferior e mais ambíguo que o de seus “colegas” médicos. Ele era na maioria das vezes um ambulante: em companhia de ilusionistas, malabaristas e músicos, percorria feiras e mercados, de cidade em cidade, exibindo-se em palcos. Desse modo o público podia admirar a maestria do exercício de sua especialidade. De fato, naquele tempo, havia motivos reais para ter medo do dentista. Mas hoje? A ciência e a tecnologia para reduzir a dor evoluíram muito, bem como a consciência a respeito da importância de manter uma relação de delicadeza e confiança com os pacientes. Ainda assim, o medo antigo permanece. Os inúmeros estudos que procuraram quantificar a difusão desse medo chegaram mais ou menos à mesma conclusão: quase 50% da população vai ao dentista com certa dose de ansiedade.


O dado mais preocupante é o que diz respeito aos odontofóbicos, aqueles que nem cogitam marcar uma hora com esse profissional: representam 10% da população. Essas pessoas adiam mil vezes as consultas, chegam a ir até a porta do consultório, mas dão meia-volta. E, enquanto o número de simples ansiosos tende a diminuir (eram mais da metade da população adulta há algumas décadas), parece que o dos que sofrem de fobia se mantém estável. “O medo do dentista é um dos principais motivos que afastam os pacientes dos tratamentos”, afirma Antonio Carrassi, professor da Universidade de Milão, especialista em patologias odontológicas. Segundo ele, mais de 40% daqueles que, embora tenham acesso aos tratamentos odontológicos, não se submetem a essa terapêutica periodicamente, reconhecem que o principal motivo dessa atitude é o medo do dentista.


E as consequências são relevantes: uma pesquisa norueguesa publicada na revista Community Dentistry and Oral Epidemiology analisou o impacto da odontofobia na saúde bucal. O quadro é desencorajador: pessoas que sofrem com o problema apresentam incidência de cáries, placas de tártaro, patologias gengivais, perda de dentes e abscessos de forma nitidamente superior à média. O estudo também confirmou uma progressão linear já esperada: quanto maior o medo do dentista, maior a tendência a adiar a consulta, com evidentes consequências para a saúde bucal.

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