Lá em casa, sempre alguém solta a mesma frase quando uma pessoa fica sozinha para resolver um problema ou quando uma ideia não tem o apoio como desejaria: “filho feio não tem pai”.
Apesar de um ser um lindo , não tenho pai. Quer dizer, até tenho o nome dele em meu “resistro”, mas seu Benedito me fez o favor de “fazer a passagem” quando eu nem sabia ainda que era gente, recém abatido pelo bicho da paralisia infantil.
“Evidentementchi” que a ausência de um pai afeta globalmente a vida de qualquer criança seja ela ‘malacabada’ ou não. Mas essa conversa visa mostrar aspectos da falta que faz um papis na vida de quem é do mundo paralelo de quem tem alguma deficiência.
No meu caso, em especial, penso que se seu Benedito poderia ter dado uma ‘hand’ importante para me encorajar na labuta da minha reabilitação, periodozinho de sufoco e de dores inesquecíveis.
Não escutei aquelas frases de pai: “Vai, filhão, eu te ajudo, eu tenho força, segura firme no meu braço.”
Poderia ter me ajudado a entender que eu até poderia jogar futebol, mas de uma outra maneira. Sim, aprendi, mas a duras penas. Melhor seria ter ouvido: “Eu jogo com você. Vai pro gol e eu lanço a bola!”
Pai faz falta para pescar, para ensinar a paquerar (só com dicas, mães!), para disputar conhecimento nas palavras cruzadas.
Quando o pai da gente vai embora, a mãe endurece demais para dar conta, também, de ser o “homem da casa”, além da mulher do coração, da emoção. Senti falta do meu pai no Natal para abrir a “sidra”, no Ano Novo para botar “nóistudo” no fuka e ir pra casa dos parentes.
Apesar de tudo, a minha realidade até que não foi tão cruel como acontece com parte considerável das crianças estropiadinhas: o abandono do pai. É muito comum a deficiência entrar pela porta e o “provedor” sair pela janela, sem pudores.
Sei lá o que se passa na cabeça desses homens. Pode ser dificuldade de enfrentar o que ele considera “um fracasso” gerado, pode ser vergonha, pode ser fraqueza, pode ser egoísmo, pode ser desconhecimento... o que, pra mim, nunca foi e nem será é amor.
Um filho ceguinho cujo pai “sumiu” (e eles somem mesmo!) terá mais complicações para conseguir criar sua própria luz; um filho com paralisia cerebral vai babar muuuito mais, embasbacado, de boca aberta, com a atitude do que foi.
Claro, claro que há o pai guerreiro, presente e verdadeiro que enfrenta junto, que pode até findar um relacionamento com a mãe, mas que jamais deixará de lado a emoção de conviver com um filho, seja ele do jeito que for.
O pai que abandona ou que se ausenta de criar, de espalhar carinho, sentimento, talvez não saiba o espaço vazio que deixa, a necessidade de um apoio que deixa, a urgência de referência que deixa. Pai que só assina cheque para tratar os ferimentos da guerra e encher a barriguinha também não está com nada.
Mas o bacana é que sempre há tempo de resgatar, de regar a secura da amargura do abandono com atenção verdadeira.
Esse diário é visivelmente muito mais visitado por mães, que anseiam aprender um pouco mais, que visam reconhecimento, que visam aberturas de caminhos, que visam olhar para o futuro.
Então, fica a dica para enviarem essa carta para os “ausentes”, para os sumidos de mentirinha, para os escondidinhos, para os vergonhosos, para os que desconhecem o brilho gerado pelos próprios filhos.
Aos pais de verdade (eles também estão por aqui, embora, muitas vezes, mais de butuca), um final de semana dos melhores... seja junto de suas “completinhas” e privilegiadas crias, seja junto de suas obras, talvez, ‘malacabadas’, mas com espírito e vontade totalmente de seres humanos igual a quaisquer outros, assim como você.
*Imagens do Google Imagens
Escrito por Jairo Marques
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