9.09.2011

Dislexia nas escolas

Vetado projeto de lei que mantém diagnóstico de dislexia nas escolas
Proposta prevê distribuição de cartilha que orienta professores da rede pública de ensino sobre formas de estimular os alunos
por Fernanda Ribeiro
© ARENA Creative/Shutterstock

Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados reacendeu o debate sobre diagnóstico e tratamento da dislexia. Proposto pelo senador Gerson Camata (PMDB) e relatado na Comissão de Educação da Câmara pela deputada Mara Gabrilli (PSDB) no dia 24 de agosto, prevê a manutenção de programa de diagnóstico e tratamento de dislexia e de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) para alunos do ensino básico. O resultado da votação foi dado como indefinido, por pedido de visto do deputado Nazareno Fonteles (PT).

Estima-se que até 15% da população mundial tenha algum transtorno de aprendizagem, sendo a dislexia – grande dificuldade para aprender a ler e a escrever – o mais comum. Segundo a neuropsicóloga Maria Inez Ocanã de Luca, da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), antes de ser diagnosticada com dislexia, a criança com dificuldades de aprendizagem deve ser submetida a exames médicos de visão e de audição – procedimento que não raro detecta alguma deficiência sensorial e assim exclui a possibilidade de transtorno de aprendizagem. Só em seguida passa por testes neuropsicológicos e pedagógicos, para avaliar se há um ou mais distúrbios.

“É importante frisar que não há déficit cognitivo na dislexia. A inteligência da criança com o transtorno é igual à de qualquer outra. O que ela tem é apenas mais dificuldade para lidar com a palavra escrita”, diz Maria Inez. Segundo a neuropsicóloga, a dislexia tem causa neurológica e é hereditária. Estudos apontam que, quando um dos pais tem dislexia, a probabilidade de ter um filho com o mesmo problema é de 40%. “É comum a confusão entre o distúrbio e a falta de estímulo dos pais e professores. A dislexia, na verdade, é causada por alterações anatômicas no hemisfério esquerdo do cérebro”, diz Maria Inez. Ela pode surgir associada a outros distúrbios, como o déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), caracterizado por sinais claros e repetitivos de desatenção, inquietude e impulsividade. Esta comorbidade, isto é, a concomitância de mais de um transtorno de aprendizagem, divide a opinião de especialistas quanto à precisão do diagnóstico de dislexia.


Em 2008, o Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criaram um manifesto contra o projeto. A crítica principal é a “medicalização” de uma questão que envolve complexos fatores externos, como sistema educacional inadequado e excludente. Nesse caso, o diagnóstico seria uma forma de estigmatização. Outro argumento é que o distúrbio seria mais recorrente em crianças de famílias de baixa renda, cujos pais, também com problemas de escolarização, não conseguiriam auxiliá-las.

O projeto de lei prevê a distribuição na rede pública de ensino de uma cartilha multissensorial de alfabetização, aprovada pelo Ministério da Educação (MEC). O material incentiva professores a estimular os pequenos com outras formas de percepção – como letras em alto-relevo e discernimento dos sons das letras (umas das principais dificuldades da dislexia) – e a aconselhar os pais a encaminhar a criança para ajuda profissional. "São crianças com inteligência normal, mas chamadas de burras, por isso muitas têm problemas de autoestima e algumas chegam a desenvolver depressão na vida adulta. Diagnóstico e intervenção precoce podem prevenir esses problemas", diz Maria Inez. Fonte Mente e Cérebro
   

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