9.08.2011

Câncer colorretal

Nova terapia

Anvisa aprova novo tratamento para câncer com anticorpo 100% humano

SÃO PAULO - Pacientes com câncer colorretal em estágio avançado contam com um novo tratamento no Brasil. A nova terapia, panitumumabe, é a primeira feita com anticorpos monoclonais de material 100% humano. Os anticorpos monoclonais são proteínas sintéticas criadas com o propósito de atingir células tumorais específicas. Neste novo tratamento, eles são produzidos por ratos transgênicos, que foram alterados para criar anticorpos próprios para humanos. Estes anticorpos 100% humanos agem sobre o receptor de fator de crescimento epidérmico, de sigla EGFR, em inglês, uma proteína ligada ao desenvolvimento do câncer.
- O corpo não consegue produzir anticorpo contra um câncer que faz parte do próprio organismo. Por isso, se produz este anticorpo fora, neste caso no camundongo, mas com a troca de carga genética para ter um anticorpo humano - explica o oncologista Paulo Hoff, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o panitumumabe para casos em que a doença progrediu com metástase - no fígado é a mais comum - após o paciente já ter se submetido às quimioterapias disponíveis para a doença. Na Europa, segundo o oncologista Ricardo Caponeiro, diretor científico da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos, o tratamento já é usado como primeira opção ou combinado com quimioterapia.
Uma das principais vantagens de um tratamento com material 100% humano, segundo o oncologista Caponeiro, é a redução do risco de reações do organismo contra o medicamento. O cetuximabe, por exemplo, contém 34% de material de camundongos. O bevacizumabe, 10% de proteína de ratos. Ainda que em proporções menores, há casos em que o organismo estranha as proteínas animais e acaba criando anticorpos para combatê-las.
- Não é o primeiro medicamento que atua na proteína EGFR. A diferença está no risco de reações, que é menor neste caso - diz Hoff.
Por se tratar de um tumor em estágio muito avançado, a expectativa não é a cura.
- Nessa fase da doença, as respostas completas são raras. Conseguimos prolongar o tempo de evolução, mas não curar os pacientes mais - afirmou o oncologista.
A aplicação do medicamento, por via venosa, é mais rápida em relação a outros esquemas quimioterápicos: dura 1 hora a primeira sessão. A partir da segunda, que acontece com intervalos de 15 dias, a infusão pode ser feita em 30 minutos. E dispensa internação.
- A cada duas semanas o paciente é avaliado em relação à toxicidade da droga. Há pacientes que estão recebendo o medicamento há 13 meses. Nós mantemos a terapia enquanto houver resposta, com qualidade de vida. Acrescenta não só tempo à vida, mas também vida ao tempo - explicou Caponeiro.
O câncer colorretal é o quarto tipo mais comum no Brasil. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que em 2011 o número de casos deve ficar em torno de 28 mil casos, sendo 15 mil em mulheres. Angelita Gama, coloproctologista e professora-titular de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, lembra que metade dos pacientes morre em menos de cinco anos após diagnóstico da doença.
- Nos Estados Unidos e Europa a incidência é maior do que na América Latina. Já nos países da América Latina, há mais casos no Uruguai, Argentina e na região sudeste do Brasil. Mas, nos Estados Unidos, onde as campanhas de prevenção da doença são oficializadas, a incidência vem diminuindo - compara Angelita.
O Globo

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