Artigo escrito por Miguel Lucas em Psicologia Positiva
Somos
seres pensantes, conscientemente ou inconscientemente a nossa mente
pode fabricar entre doze mil a sessenta mil pensamentos por dia. Muitos
pensamentos são intrusivos, negativos, depreciativos, ansiosos,
preocupantes. Evidentemente que todos nós temos estes tipos de
pensamentos e, em alguns momentos podem fazer sentido e até serem
benéficos. Mas quando são recorrentes, incisivos e em retorno temos
consciência que nos afetam negativamente, lidar com eles pode ser um
tormento. Muitos de nós usamos o nosso pensamento como munições contra
nós mesmos, muitas vezes por dia, mesmo sem estarmos cientes.
Construímos cenários catastróficos e ensaiamos mentalmente problemas, preocupações
e os resultados que podem ou não virem a manifestar-se. Dedicamo-nos a
especulações negativas e imaginamos os mais diversos motivos para o
comportamento dos outros. Todo este processo em si mesmo não representa
problema nenhum, pode até ser frutífero. Perde o seu valor e
prejudica-nos o nosso bem estar e estabilidade emocional, porque na
grande maioria das vezes repetimo-lo incessantemente e continuamos a
acrescentar mais negatividade ao cenário catastrófico. Entramos numa
espiral ascendente negativa que nos conduz ao sofrimento emocional.
O QUE SÃO PENSAMENTOS INTRUSIVOS?
Pensamentos intrusivos são pensamentos
que entram constantemente na sua mente contra a sua vontade. Eles são
considerados intrusivos, porque você simplesmente não consegue
afastá-los para fora da sua mente, e muitas vezes aparecem em momentos
impróprios. Os pensamentos intrusivos também podem ocorrer em flashes,
causando ansiedade significativa quando entram na sua mente.
Muitos dos pensamentos intrusivos estão relacionados com a ansiedade,
pelo que pode senti-los como assustadores sobre o que pode acontecer
consigo ou alguém que você gosta, ou o que você pode fazer para si mesmo
ou para outra pessoa. Eles parecem estar fora do seu controle, e o seu
conteúdo pode ser estranho e ameaçador. Nestes tipos de pensamentos
intrusivos, parece que os pensamentos surgem como resultado da
ansiedade, e incrementando mais medo sobre os sintomas da ansiedade que
já está experimentando. Os pensamentos intrusivos aumentam a ansiedade, e
alimentam a espiral de produção de medo. Assim, por exemplo, no meio de
um disparo de ansiedade você pode pensar: “Se eu tiver um ataque
cardíaco?” Você fica num estado recorrente de pensamento ansioso,
sentindo que é provável que aconteça o que está a pensar.
Os pensamentos intrusivos acontecem a
todos nós e podem assumir muitas formas. Talvez você tenha de repente a
imagem de empurrar alguém para fora de uma plataforma de trem, chutar um
cachorro, gritar na igreja, saltar de um carro em movimento, ou
esfaquear alguém que você ama. Ao fazer ou querer fazer qualquer uma
dessas coisas não é normal, mas ter pensamentos intrusivos como esses é
normal em algum momento na nossa vida. Às vezes, pensamentos como estes
vêm até nós precisamente porque não queremos agir desta forma, pois eles
são simplesmente a coisa mais inadequada que a nossa mente pode
imaginar. O que dificulta todo o processo de superar ou eliminar este
tipo de pensamentos é fazer esforços para não ter tais pensamentos, ao
tentar empurrá-los para fora da sua mente, pode realmente fazê-los
ficar.
Muitos dos pensamentos intrusivos podem estar associados a algum tipo de transtorno de ansiedade, como:
- Fobia social
- Transtorno de ansiedade generalizada
- Transtorno obsessivo-compulsivo
- Transtorno de pânico
- Transtorno de stress pós-traumático
No
entanto, existem muitos pensamentos intrusivos comuns que podem estar
associados a uma preocupação particular ou relacionados com uma situação
específica que a pessoa esteja a viver. Apesar de estarem
contextualizados, aparecem em momentos inoportunos, causando algum tipo
de problema. Usualmente esses pensamentos intrusivos comuns aparecem
na forma de pensamentos negativos ou até mesmo como pensamentos autodepreciativos.
Por exemplo, quando você está prestes a desempenhar uma determinada
tarefa importante e surge o pensamento: “Tu não és bom o suficiente para
conseguires.” ou “Achas que uma pessoa como tu vai ser capaz de
conseguir?”Apresento algumas estratégias que facilitam a superação dos pensamentos intrusivos:
PERCEBER QUE É APENAS UM PENSAMENTO
Em primeiro lugar, é importante perceber
que é apenas um pensamento. Nem tudo o que pensamos é real, aconteceu
ou tem de vir a acontecer. Ainda que muitas vezes possamos sentir que um
determinado pensamento é real, esse pensamento não é a realidade,
especialmente aqueles pensamentos sobre o que vai acontecer no futuro.
Podemos ter um forte sentimento sobre o que poderá acontecer, mas não
sabemos com toda a certeza. Não há nenhuma maneira de saber o que o
futuro nos reserva. Isto significa que o que estamos pensando não é com
base em conhecimento, mas sim em ideias ou projeções, não podemos prever
o futuro. E essas ideias são influenciadas principalmente pelos nossos
sentimentos, que muitas vezes estão alienados (especialmente diante de
uma situação stressante). Como resultado, o primeiro e mais importante
passo a ser dado para não ser prejudicado por um pensamento intrusivo é
reconhecer esses pensamentos pelo que eles são: apenas pensamentos, não a realidade.
ACEITAR OS SEUS PENSAMENTOS INTRUSIVOS
Nós não conseguimos evitar que um
determinado pensamento nos chegue à mente. Por isso lamentarmo-nos ou
começarmos a tecer comentários autodepreciativos sobre as razões pelas
quais estamos a ter determinado pensamento, faz com que nos coloque num
estado incapacitante, promovendo mais pensamentos intrusivos ou
reforçando os existentes. Importa perceber este princípio, nós não
podemos não pensar. Pelo que devemos aceitar esse fato, devemos aceitar
que em alguns momentos da nossa vida irão aparecer na nossa mente alguns
pensamentos indesejados que nos atrapalham. O que devemos é aceitar
esse fato. Mas aceitar não é ficarmos à mercê desses pensamentos, e
muito menos não fazer nada. Devemos aceitar sim, mas sempre percebendo
que temos a capacidade para retomar o controle da nossa mente.
E, para que isso seja feito de forma eficaz, importa não nos debatermos
com os pensamentos intrusivos, mas sim deixar que se manifestem sem que
possamos ficar demasiado desesperados ou perturbados. Em seguida temos
de ficar cientes que podemos focar a nossa atenção noutros pensamentos
criados por nós e encaminharmos a nossa mente para onde pretendemos que
ela se foque.
DESENVOLVER UM GATILHO NEUTRALIZADOR
Agora que você já não fica desesperado
por estarem a passar na sua mente alguns pensamentos intrusivos, importa
neutralizá-los na hora que disparam. Uma ótima maneira de impedir que
um pensamento intrusivo tome o controle da sua mente é acionando um
gatilho neutralizador. A forma mais simples de fazê-lo é através de uma
ordem de comando, utilizando as palavras, “Para” ou Não”. Estas palavras
podem ser verbalizadas silenciosamente. Ou você pode usar algo como:
“Eu não vou permitir que os meus pensamentos me botem abaixo.” ou “Os
meus pensamentos não são a minha realidade.” Quando você tem um gatilho
neutralizador previamente escolhido, pode usá-lo para impedir que os
pensamentos indesejados se propaguem, evitando entrar numa espiral de
negatividade.
DESAFIAR OS SEUS PENSAMENTOS INTRUSIVOS
Agora que você já não tem problema em
aceitar os seus pensamentos intrusivos, que também já interiorizou que
os seus pensamentos não são fatos, que você não é os seus pensamentos,
que nem tudo que passa na sua mente é verdade ou tem de ser realizado, é
hora de desafiar os seus pensamentos intrusivos. No momento que
perceber que está a ser invadido por pensamentos intrusivos, utilize o
seu gatilho neutralizador para evitar que se propaguem, em seguida olhe
para eles a partir de uma perspetiva objetiva (difícil, eu sei, mas
tente) e questione-os. Pergunte a si mesmo: “Isto definitivamente vai
acontecer? Como é que eu sei com toda a certeza?” e “Mesmo se isso
acontecer, eu estou 100% certo que as repercussões são exatamente como
estou imaginando?” Uma vez que você faça a si mesmo estas perguntas,
provavelmente vai perceber que alguns dos pensamentos que passam na sua
cabeça não fazem sentido. Se não fazem sentido, você pode decidir não os
seguir. Você pode descartá-los. Pode contestar esse pensamento
intrusivo e vetá-lo. O veredito final pode ser contra o pensamento
intrusivo, pelo que você pode condená-lo ao abandono.
Abraço,
Miguel Lucas
Um comentário:
Esse texto me ajudou muito.
Obrigada!
Postar um comentário