6.17.2010

A famosa bola Jabulani é feita com trabalho aviltante

SINAIT divulga matéria publicada no Boletim O Elo, do Sindicato Paulista dos Auditores Fiscais do Trabalho - SINPAIT, edição nº 280, que trata da fabricação da bola utilizada pelos jogadores de futebol na copa do Mundo 2010, a famosa Jabulani, confeccionada por trabalhadores paquistaneses e que tem causado a “discórdia” dentro e fora dos campos.

Fora dos campos os jogadores divergem sobre a qualidade desta bola, que segundo eles deixa a desejar. Dentro de campo todos interagem atrás do objeto de cobiça e do resultado que ele pode proporcionar, o gol, a vitória, ainda que para este fim eles tenham que se amontoar, esbarrar, dar cotoveladas, enfim brigar.

Na linha de frente da produção da bola da Copa 2010 estão trabalhadores paquistaneses que recebem entre 55 e 63 rupias paquistanesas por bola costurada, valor considerado uma ninharia para o padrão salarial brasileiro, mas muito para a realidade do mercado de trabalho do Paquistão, pois representa o dobro da renda salarial per capita, do país, que é em torno de 60 dólares americanos, mensais.

É no interior do Paquistão país pobre, e extremamente populoso, que faz fronteira com a Índia, que são feitas as bolas de futebol utilizadas na copa do mundo, na África do Sul. As principais empresas fabricantes do mundo, quase todas grifes de multinacionais, muito conhecidas, tem suas unidades fabris na região de Sialkot, principalmente na cidade de Sambrial. Obviamente, estão no Paquistão por causa da mão-de-obra-barata mais incentivos oficiais, como impostos baixos.

O trabalhador local recebe entre 55 e 63 rupias paquistanesas por bola costurada, o que corresponde entre U$$ 0,65 a U$$ 0,75, ou entre R$ 1,17 e R$ 1,35. Num dia normal de trabalho, com jornada de 8 horas, o trabalhador consegue fazer até seis bolas, o que lhe permite uma renda de cerca de R$ 205/mês. Esse valor, para o padrão salarial brasileiro, já baixo, é uma ninharia, mas uma para a realidade do mercado de trabalho do Paquistão é muito, pois representa o dobro da renda salarial per capita, do país, que é em torno de 60 dólares americanos, mensais.

Apesar da remuneração aviltante, a jornalista Hasnain Kazim relata que o ambiente na cidade de Sambrial é de otimismo e orgulho por parte das pessoas que se mostram satisfeitas com a prosperidade local. Ela recebeu até uma delegação da FIFA, que foi inspecionar a qualidade das bolas, costuradas no padrão oficial de 08 gomos unidos. Executivos europeus também chegam, com freqüência, à cidade.

Com tradição de 100 anos na produção desse artefato, fundamental para o futebol, que então era praticado, na região, por oficiais britânicos, quando o Paquistão, integrante da Índia, era colônia da Inglaterra, as empresas paquistanesas foram aperfeiçoando sua técnica e ganharam o respeito do mercado mundial. É considerada muito boa a qualidade da mão de obra. A costura manual propicia qualidade superior no arremate.

Outro motivo de respeito para produção paquistanesa de bolas é que foi eliminado o trabalho infantil. Até dez anos atrás o país convivia com essa chaga social, sobretudo com o trabalho familiar, onde até crianças de cinco anos já auxiliavam na costura de bolas. Felizmente essa prática já não mais existe.

Mas os salários, extremamente baixos, continuam como verdadeira nódoa nas ricas grifes européias e norte-americanas de artigos esportivos. Na verdade a região de Sialkot é a primeira etapa na linha de produção. Uma bola com preço de custo de R$ 1,35, no Paquistão, é vendida em grandes lojas de departamento, em qualquer capital européia, por até R$260,00 Outros países produtores, como o Brasil, foram atingidos duramente pela produção de baixo custo, no Paquistão. Há 30 anos, em São Paulo, as indústrias de bolas, como a Drible, tinham contrato com o Conselho Penitenciário, entregando parte de sua produção para confecção, pelos presos, na penitenciária do Estado, no Carandiru, trabalho que hoje não existe mais.

Até o Brasil importa uma parte das bolas que abastecem seu mercado, vindas até mesmo da China.

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