6.18.2010

As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.”


A frase, imortalizada nos versos de Vinícius de Moraes, acende a discussão: seria a beleza assim, tão essencial? E posto que seja, até aonde vale a pena chegar para alcançá-la? Muitas mulheres diriam que vale tudo para se sentir bela e desejada. Mas tal ambição pode sair cara, e não apenas em termos financeiros. Por trás de promessas
milagrosas podem se esconder perigos que põem em risco a saúde.
Pesquisa do Instituto Gallup, encomendada pela Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica, apontou que em 2004 foram realizadas mais de 365 mil cirurgias com fins especificamente estéticos. Dessas, 49.243 em pacientes na faixa etária de 7 a 13 anos. A lipoaspiração respondeu por 54% das cirurgias.
Contraditoriamente, no país em que mais de 72 milhões
de pessoas estão em situação de insegurança alimentar
- dois em cada cinco brasileiros não têm garantia de acesso à alimentação em quantidade, qualidade e regularidade
suficiente, segundo o Primeiro Perfil de Insegurança
Alimentar traçado pelo IBGE, em 2006 – o emagrecimento
parece ser uma obsessão. Pesquisa realizada no Brasil pela revista Marie Claire, com 9.400 mulheres, revelou que 52% delas preferem perder 1/3 do salário a engordar 15 quilos. A busca pelo emagrecimento – muitas
vezes não-saudável – é reafirmada pela mídia a cada dia. O que diria a musa de Da Vinci? Provavelmente, que o mundo enlouqueceu.
Medicamentos:
a fronteira entre a necessidade e o abuso
Segundo pesquisa divulgada pelo Laboratório de Estudos
Avançados em Jornalismo da Unicamp, entre 2002 e 2006 o tema dieta foi capa de 16 edições das três maiores revistas semanais brasileiras. Na prática, a realidade é perversa: quem não recorre às famosas plásticas e não consegue
seguir à risca as dietas – as que são sérias e prescritas pelo médico – acaba recorrendo aos anorexígenos, mais conhecidos como moderadores de apetite. Porém, o uso dessas substâncias pode ser uma armadilha. “É um erro a pessoa achar que vai poder tomar anorexígenos pro resto da vida para manter os resultados do emagrecimento.
Esses medicamentos contêm anfetaminas e seus derivados, podendo provocar dependência física e/ou psíquica. Não podem ser usados por longos períodos”, alerta o gerente-geral de Inspeção e Controle de Insumos, Medicamentos e Produtos, Roberto Barbirato.
A pressão social impõe padrões de magreza considerados
elegantes e, em muitos casos, o paciente pres“siona o médico – que pode ceder ou não – a receitar um “remedinho mágico”. Segundo estudo do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), 92% dos consumidores desses medicamentos são mulheres. O Brasil lidera um ranking negativo: é o maior consumidor no mundo desse tipo de substância, segundo a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), órgão vinculado à ONU.
Para coibir os abusos na prescrição e comercialização
dos anorexígenos, a Anvisa pôs em Consulta Pública, em dezembro passado, uma proposta que vai mudar os critérios de prescrição: esses medicamentos passariam a ser prescritos pela receita “A”, de cor amarela, cuja impressão
e controle ficam sob competência das unidades da vigilância sanitária. Hoje esses medicamentos são prescritos pela receita tipo “B”, de cor azul, pela qual o médico é o responsável.
A dinâmica da empurroterapia
O uso do laser e a aplicação da toxina botulímica – registrada como medicamento - para fins estéticos foram disseminados, nas décadas de 60 e 90, respectivamente, como acontecimentos semelhantes à invenção da roda. De lá para cá, a indústria vem criando, em ritmo acelerado, produtos e equipamentos que prometem benefícios estéticos.
Para quem quer se bronzear sem ir à praia, existem câmaras de bronzeamento. Quem deseja queimar gorduras localizadas sem ir à academia, pode se valer de estimuladores
musculares. Recentemente a indústria anunciou o apoio de uma nova aliada: a nanotecnologia, que permite a construção de novas estruturas a partir dos átomos. Mas serão reais os efeitos prometidos?
“O registro é o único instrumento capaz de garantir
que o produto alcança a eficácia a que se propõe com segurança para o usuário, mas infelizmente, há casos de produtos que são divulgados na mídia sem qualquer comprovação científica. Em grande parte, tudo não passa
de uma profusão de estratégias de marketing”, aponta o gerente-substituto de Produtos Para a Saúde, Newton Wiederhecker.
“A publicidade dos produtos estéticos procura transmitir
a noção de equilíbrio da pessoa com o meio e posteriormente,
a sensação de auto-estima, ou seja, o relacionamento
consigo mesma num nível de satisfação”, explica o publicitário e sócio da DPZ Propaganda Roberto Duailibi. Segundo ele, pesquisas demonstram que a figura de uma celebridade aumenta em até 15% a atenção atraída pelo anúncio. Mas alerta: “A consumidora é implacável; se uma marca mentir para ela ou não cumprir o prometido, desaparece do mercado rapidamente”.
Prevenção: a melhor receita
O Brasil importa produtos estéticos principalmente dos Estados Unidos, França e Itália, A legislação brasileira que regulamenta
o registro dos chamados produtos para a saúde – categoria que inclui equipamentos, materiais de uso em saúde e produtos diagnósticos – é harmonizada com as regras
do Mercosul e idêntica à legislação vigente na Comunidadesiona o médico – que pode ceder ou não – a receitar um “remedinho mágico”. Segundo estudo do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), 92% dos consumidores desses medicamentos são mulheres. O Brasil lidera um ranking negativo: é o maior consumidor no mundo desse tipo de substância, segundo a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes
(Jife), órgão vinculado à ONU.
Para coibir os abusos na prescrição e comercialização
dos anorexígenos, a Anvisa pôs em Consulta Pública, em dezembro passado, uma proposta que vai mudar os critérios de prescrição: esses medicamentos passariam a ser prescritos pela receita “A”, de cor amarela, cuja impressão
e controle ficam sob competência das unidades da vigilância sanitária. Hoje esses medicamentos são prescritos pela receita tipo “B”, de cor azul, pela qual o médico é o responsável.
A dinâmica da empurroterapia
O uso do laser e a aplicação da toxina botulímica – registrada como medicamento - para fins estéticos foram disseminados, nas décadas de 60 e 90, respectivamente, como acontecimentos semelhantes à invenção da roda. De lá para cá, a indústria vem criando, em ritmo acelerado, produtos e equipamentos que prometem benefícios estéticos.
Para quem quer se bronzear sem ir à praia, existem câmaras de bronzeamento. Quem deseja queimar gorduras
localizadas sem ir à academia, pode se valer de estimuladores
musculares. Recentemente a indústria anunciou o apoio de uma nova aliada: a nanotecnologia, que permite a construção de novas estruturas a partir dos átomos. Mas serão reais os efeitos prometidos?
“O registro é o único instrumento capaz de garantir
que o produto alcança a eficácia a que se propõe com segurança para o usuário, mas infelizmente, há casos de produtos que são divulgados na mídia sem qualquer comprovação científica. Em grande parte, tudo não passa
de uma profusão de estratégias de marketing”, aponta o gerente-substituto de Produtos Para a Saúde, Newton Wiederhecker.
“A publicidade dos produtos estéticos procura transmitir
a noção de equilíbrio da pessoa com o meio e posteriormente,
a sensação de auto-estima, ou seja, o relacionamento
consigo mesma num nível de satisfação”, explica o publicitário e sócio da DPZ Propaganda Roberto Duailibi. Segundo ele, pesquisas demonstram que a figura de uma celebridade aumenta em até 15% a atenção atraída pelo anúncio. Mas alerta: “A consumidora é implacável; se uma marca mentir para ela ou não cumprir o prometido, desaparece do mercado rapidamente”.
Prevenção: a melhor receita
O Brasil importa produtos estéticos principalmente dos Estados Unidos, França e Itália, A legislação brasileira que regulamenta
o registro dos chamados produtos para a saúde – categoria que inclui equipamentos, materiais de uso em saúde e produtos diagnósticos – é harmonizada com as regras
do Mercosul e idêntica à legislação vigente na ComunidadeComunidade
Européia. Para entrar no Brasil o produto precisa possuir o Certificado de Livre Comércio (CLC) em seu país de origem, além de cumprir os requisitos nacionais.
Antes de comprar, o consumidor deve verificar se o produto
ou equipamento com fins estéticos possui registro na Anvisa, o que pode ser feito no próprio site da agência (www.anvisa.gov.br), através dos links “serviços” e “consulta a banco de dados”. No caso de se submeter a procedimentos em clínicas,
é bom verificar se o profissional está habilitado a usar o equipamento ou conhece bem a ação do produto.
Recentemente, tornou-se sensação o lançamento de um aparelho de ultra-som ao qual têm sido atribuídos efeitos similares aos de uma lipoaspiração. O aparelho agiria destruindo os adipócitos (células de gordura), que vão para a corrente sanguínea e acabam sendo eliminados pelo corpo. Apesar do alarde, o aparelho ainda não recebeu
aval da Anvisa nem mesmo do FDA, o órgão regulador norte-americano. Por enquanto não são conhecidos problemas decorrentes do uso do aparelho, mas os riscos existem, principalmente se o corpo não conseguir eliminar a quantidade de gordura que o aparelho destrói.
“Se a pessoa tiver níveis altos de triglicérides, ela pode desencadear uma pancreatite. Também podem ser gerados problemas hepáticos e metabólicos. Outro risco é a migração das células de gordura para o pulmão, o que pode acarretar uma embolia pulmonar gordurosa”, esclarece a gerente-substituta de Tecnologia em Equipamentos
da Anvisa, Vivian Morais. “Isso nada mais é que uma junção de aparelhos que já existiam no Brasil. A diferença é que ele voltou numa roupagem nova, encampado por um grupo de médicos, apoiado num novo marketing e a um preço absurdo (R$ 1,5 mil cada sessão)”, comenta a presidente da Federação Brasileira dos Esteticistas, Rosângela Façanha.
Mesmo os produtos usados em procedimentos considerados
simples, como os clareamentos dentários, podem representar riscos. “Se usado de forma indiscriminada, esses produtos podem causar necrose na gengiva, além de fraturas no dente”, explica a gerente-substituta de Materiais de Uso em Saúde da Anvisa, Francielli Cunha Melo. A publicitária Marina de Moura, de 25 anos, sabe bem o que é isso. Ao tentar ficar com os dentes mais brancos, acabou conseguindo um problema. “Dias depois vi que meus dentes estavam trincando”, conta ela. Quem adora estar sempre bronzeada também corre riscos: a exposição excessiva a sessões de bronzeamento artificial aumenta os riscos de envelhecimento precoce e câncer de pele, como já alertou em ocasiões diversas a Sociedade Brasileira de Dermatologia.
“Se precisar de alguma coisa, vá lá no meu
armazém; lá tem de tudo, quase tudo tem”
A indústria cosmética oferece produtos para todos os tipos de peles, bolsos e desejos. E inventa, como nunca,
neologismos para suas criações: enzimocosméticos, cosmecêuticos, nutricosméticos etc. Tem água antiacne, iogurte da juventude, chocolates que deixam a pele mais macia. No Brasil, a Anvisa recebe por ano de 3 mil a 4mil pedidos de registro de produtos novos. Já as notificações – obrigatórias para produtos de grau de risco baixo – chegaram a quase 70 mil apenas em 2006, devido às atualizações da nova RDC. O Brasil é hoje o terceiro maior mercado consumidor de cosméticos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, que ocupam o primeiro lugar, e Japão.
A atual legislação inclui uma lista restritiva, que estabelece
a concentração máxima das substâncias e as advertências
obrigatórias nos rótulos dos produtos, além das listas positiva e negativa, que contém mais de 400 substâncias que não podem ser utilizadas em cosméticos. Traz também requisitos específicos para produtos infantis.
Também no mercado de cosméticos, os apelos ao consumo podem pecar pelo exagero. “A mídia desenvolve um ritmo diferente daquele que a Ciência segue. Adora novidades, que muitas vezes ainda não têm argumentos para se sustentar, enquanto para nós a relevância está nos estudos que se apóiam em estudos já consagrados”, argumenta a dermatologista e coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Denise Steiner.
“O uso de um cosmético que não tenha passado por testes que assegurem sua qualidade e segurança pode causar várias reações, desde uma simples intolerância a alergias”,
diz a gerente-geral de Cosméticos da Anvisa, Josineire
Sallum. Segundo a dermatologista Denise Steiner, problemas
gástricos e hepáticos também podem ocorrer.
Com que escova eu vou?
Estão se popularizando cada vez mais as chamadas escovas de chocolate e até – quem diria – de morango com champanhe, uma versão mais refinada. Falando assim, até parece um cardápio. Mas em alguns salões do país, essas novidades estão literalmente “fazendo a cabeça” das mulheres.
O que muita gente não sabe é que essas fragrâncias não possuem propriedades comprovadas de alisamento ou nutrição capilar. Os fabricantes devem sempre apresentar dados de segurança e eficácia.
Na outra ponta da discussão está o uso do formol nos procedimentos - que não são registrados na Anvisa. Escova Francesa, Alisamento Japonês, Escova Definitiva ou Progressiva são sinônimos para modismos que vêm e vão. Os produtos usados nesses procedimentos devem ser registrados na Anvisa e, por lei, o uso de formol só é permitido nas formulações com a função de conservante, no limite máximo de 0,2%. “ O uso indiscriminado do formol pode causar lesões e feridas no couro cabeludo, além de alergias respiratórias”, explica Denise Steiner.
Conhecimentos de vigilância completam formação do esteticista
A formação dos esteticistas já foi motivo de polêmica.
Hoje, segundo a presidente da Federação Brasileira dos Esteticistas, Rosângela Façanha, os cursos superiores e de nível médio em Estética são obrigados a contemplar, além das disciplinas de assepsia, esterilização e cosmetologia, os trâmites de registro dos cosméticos na Anvisa. Alguns estados, como o Rio de Janeiro, vão além: o diploma dos profissionais deve receber o aval da Secretaria Estadual de Saúde, o que proporciona maior integração com a Vigilância
Sanitária Estadual.
No Brasil há 88 mil técnicos em estética e 1,7 mil tecnólogos
(nível superior). O crescimento do mercado tornou
necessárias algumas mudanças, como a abolição do termo “clínica” de estética, “que designa o ambiente que lança mão de recursos usados para tratar patologias”, explica
Rosângela Façanha. Outra mudança defendida pela categoria é a regulamentação da profissão, atualmente em trâmite no Congresso.
Fonte: Anvisa

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